Prof. Benedito Pereira da Costa
SQS 108, Bl. B, Ap. 608,
Brasília (DF).
Prezado Professor:
Recebi com agradável surpresa sua incentivadora carta de 07 de julho de 1975, a que respondo com grande atraso por estar aguardando resolução da Editora Vega sobre a publicação do 2º volume de "Como Redigir Documentos e Atos Oficiais"
Infelizmente, ela ainda não se definiu. O livro não está propriamente encalhado, mas tem-se vendido pouco; este ano recebi direitos autorais relativos a apenas 240 exemplares. Sendo o A. Professor de Português aposentado, sem renome, e escassa a propaganda, "Como Redigir ..." não teve a receptividade que os Amigos esperavam.
Alias, estou convencido de que, hoje em dia, o idioma é desprezado pela maioria.
Embora tenha farto vocabulário e sintaxe rica dos mais variados e elegantes meios de expressão, a Comunicação, em que pese à ênfase que se lhe dá, recorre mais à gíria e ao solecismo do que ao vernáculo.
Há maravilhosas exceções, como o Senhor, que escreve muito bem e, demonstra invulgar interesse pelos problemas da linguagem.
A questão das abreviaturas e siglas, por ex., a muitos pode parecer de somenos; mas, outro dia, deparei num jornal a palavra "Siglaguês", o que basta para assinalar a sua magna importância.
Tem razão o Sr. quando alude à pesquisa minuciosa do A. Lembro-me de que levei um dia e uma noite para dirimir a concordância de possível, que, em aula, ensinara erradamente, à guisa dos mestres da época: "Eles foram o mais irreverentes possível" (galicismo).
E assim com os outros assuntos de que trata o livro. Mais de dez anos de estudos, além da experiência de 30 de magistério e serviço público.
Para esclarecer cada dúvida, qualquer dificuldade, recorria ao latim, ao protuguês histórico e clássico, ao francês, a enciclopédias e dicionários, a autores dos mais diversos matizes. A preocupação, o afã era encontrar uma solução coerente, sem contradição, disciplinadora de fatos que pareciam rebeldes, resistentes a qualquer enquadramento normativo racional. Como por exemplo, o de que trata o Prof. Adriano da Gama Kury, ou seja,o que, nas expressões indicadoras de tempo, referindo-se a um fato (por exemplo: "Há precisamente cinco dias que a tua voz chegou aos meus ouvidos"): "No estado atual do conhecimento da gênese da construção em foco, não nos parece licito rejeitar qualquer das três interpretações" (conjunção temporal, conjunção integrante e expletivo)
Mas seria lícito, lógico, admissível identificar três funções gramaticais tão distintas?
Daí, caro Professor, a razão de tanta pesquisa...
O segundo Volume, com dez capítulos, dos quais três já revistos, está parado no prelo. Aguardo o momento feliz em que possa ofertá-lo ao Sr. Até lá, vai o "símbolos".
Com os meus agradecimentos e votos de felicidades, subscrevo-me cordialmente.
Joaquim Antônio de Vasconcelos
Av. Bias Fortes, 1396, Ap.35,
Belo Horizonte (MG).