Artur Távola: Silêncio entremeado por imenso vazio
Caro Artur Távola
Perder o contato com a suavidade de seu semblante, com o som grave, porém delicado, de sua voz aos domingos ao apresentar as músicas clássicas, faz-me sentir um vazio imenso.
Suas crônicas serão eternas e seus ecos estarão disponíveis àqueles que souberem captá-los, com certeza.
Espero poder ter esse privilégio, uma vez sempre apreciadora de suas palavras, de seus gestos, de sua alma.
Hoje, ao ler o poema de Santo Agostinho: A morte não é nada, se me aproxima a imagem de que poderia ser tema de sua próxima crônica:
"A morte não é nada.
Eu somente passei
para o outro lado do Caminho.
Eu sou eu, vocês são vocês.
O que eu era para vocês,
eu continuarei sendo.
Me dêem o nome
que vocês sempre me deram,
falem comigo
como vocês sempre fizeram.
Vocês continuam vivendo
no mundo das criaturas,
eu estou vivendo
no mundo do Criador.
Não utilizem um tom solene
ou triste, continuem a rir
daquilo que nos fazia rir juntos.
Rezem, sorriam, pensem em mim.
Rezem por mim.
Que meu nome seja pronunciado
como sempre foi,
sem ênfase de nenhum tipo.
Sem nenhum traço de sombra
ou tristeza.
A vida significa tudo
o que ela sempre significou,
o fio não foi cortado.
Porque eu estaria fora
de seus pensamentos,
agora que estou apenas fora
de suas vistas?
Eu não estou longe,
apenas estou
do outro lado do Caminho...
Você que aí ficou, siga em frente,
a vida continua, linda e bela
como sempre foi."
Minha reverência ao espírito que suplantou o homem