Caríssimo
 
 
Após tanto tempo de ausência
 
lembrei-me de ti.
 
Talvez por estar chegando 
 
o mês da primavera, 
 
sobre o qual poetávamos juntos, 
 
lembras?
 
 
Jamais esqueci a suave história 
 
de tua "flor de açucena"...
 
Aquele poema real que passo-a-passo
 
compuseste em homenagem 
 
à primavera de 1986
 
com versos de rara beleza.
 
 
Por essa razão
 
amigo
 
mesmo sem teu consentimento
 
publico-o aqui.
 
 
Se acaso entrares nesta página
 
o que acho pouco provável
 
perdoa-me a arbitrariedade...
 
 
 
 
Alva açucena
 
 
Alva açucena
 
Solitária de uma fonte...
 
Flor tão pequena
 
Em tão grande solidão...
 
Que despertou em mim
 
Tamanha pena,
 
Que fez pulsar de amor
 
Meu coração...
 
Em meio a tanta flor,
 
Num mundo verde
 
De luz e vida
 
Eu te encontrei
 
Na tua timidez,
 
Perdida
 
Às margens do marulho de uma fonte
 
E a tua pequenez,
 
A tua alvura,
 
Diante
 
Do azul, lá nas alturas,
 
Do infinito horizonte,
 
Eu te encontrei 
 
Oculta,
 
No fundo de uma gruta,
 
Em meio a pedras
 
E, talvez, espinhos,
 
A dar-me uma vontade absoluta
 
De ficar, aqui, também sozinho...
 
Alva açucena 
 
Solitária de uma fonte...
 
Oculta assim...
 
Não sei...
 
Meu Deus, não sei
 
Por que te amei...
 
 
 
 
Ivo Rocha
 
Poeta e professor
 
 
 
Só para menor de dez
 
 
 
Se eu fosse você
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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