Ao amigo usineiro e grande mestre Geber Romano Accioly,
Não estou muito certo sobre a assertiva segundo a qual “gosto não se discute”. Mas não pretendo estabelecer polêmica a respeito. Vamos admitir que sim. E deixar a discussão para um outro momento melhor apropriado.
Vamos à reflexão dos fatos inseridos em sua última carta que foi publicada neste endereço. Refiro-me à verdade. Conheço apenas uma verdade. Por isso, ela é única. E também incontestável. Não acredito em verdades aparentes. Por conta disso, surpreende-me falar-se em “esta verdade única e incontestável”, como se houvesse mais de uma.
Nem se concebe excluir, do âmbito da literatura, temas como religião e política. Tais temas cabem, perfeitamente, dentro do contexto literário. E o enriquece. E o motiva. E se confunde com a própria arte da narrativa do humano. Enquanto alegria; enquanto dor; enquanto opressão; enquanto esperança; enquanto fé, enfim.. .
Euclides da Cunha, em “Os Sertões”, deixou de lado o que poderia ser uma simples reportagem acerca de um fato eminentemente político, sobre a problemática humana do abandono social, da ausência do Estado, e da opressão de uma classe sobre outra, para produzir uma das mais importantes obras nacionais de que se tem notícia. Sua matéria prima principal ? A política, ou a má política, na prática.
“O Pagador de Promessas”, cantado em versos e em prosa, impresso e filmado, é outro bom exemplo de que a religião, a fé, e o sofrimento, mais uma vez, estão juntos, compondo o cenário literário.
Nada pode ser excluído. Em arte, devemos ser como o delegado de polícia: não podemos abandonar nenhuma hipótese, nenhuma suspeita; tudo, a rigor, em princípio, deve ser considerado; servem à causa: descobrir os fatos. A verdade. Que é única. E quenão pode ser contestada. Em nome da justiça. Para prender os assassinos. Não vamos colocar algemas na literatura.
PS.: Costuma-se provocar a quem admiramos. Abraços.
Domingos Oliveira Medeiros
20 de junho de 2003