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Artigos-->PATATIVA DE ASSARÉ -- 14/07/2002 - 00:49 (medeiros braga) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




Quando eu era garoto, morador do distrito de Nazaré, município de Souza/PB, costumava ir à Fazenda Vale Verde, propriedade do meu avô João Honório de Medeiros. Isso sempre acontecia do sábado para o domingo. E, costumeiramente, levava comigo alguns folhetos de cordel e poemas de alguns autores regionais. Sendo um leitor razoável, principalmente, por àquela época, eu era muito solicitado. Dali, hospedado na casa de meu tio, eu saia com os meus primos para a casa de algum morador, com a finalidade de ler os folhetos que eu levara. Então, sala cheia, à luz de lamparina, eu mandava o verso para o ar. Era uma noite de festa. Aquele tipo de cultura era muito apreciado pelo homem do campo. Alguns até, mesmo sem saberem ler, compravam os folhetos e levavam para que eu os lesse. E eu me lembro bem que alguns poetas eram bem apreciados, entre eles o Cego Aderaldo e Patativa de Assaré.E como eu era um apreciador da poesia de indignação de Castro Alves,passei a gostar da poesia de protesto do famoso poeta cearense. Já por aquela época, Patativa de Assaré se identificava como um defensor da reforma agrária:

Essa terra é dismidida/

E divia ser comum/

Divia ser repartida /

Um taco pra cada um./

Mode morar sucegado/

Eu já tenho maginado/

Qui a baixa, o sertão, a serra/

Divia ser coisa nossa./

Quem não trabaia na roça/

Qui diabo é qui qué cum terra!?

Como Castro Alves, Patativa passou a se preocupar com o seu semelhante; com o sofrimento do nordestino. Sem esquecer a natureza, cantando a flora e a fauna, enaltecia os humildes e criticava os prepotentes. Já foi dito que “infeliz do poeta que não canta a dor do seu povo”. Patativa de Assaré o fez. A Triste Partida, enaltecida pelo vozeirão do “Rei do Baião”, é uma amostra. E mais, há um importantíssimo soneto seu que alerta o povo para o engano mais doloroso que é a escolha de um mau governante. Por conta dessa escolha estava sempre criticando os maus políticos. E eis que por conta de uma dessas críticas o poeta foi preso. Ao ser libertado, ao sair, diante de uma patativa presa em uma gaiola, ele compôs o seguinte poema:

Patativa, descontente,

Nessa gaiola cativa,

Embora bem diferente,

Eu também sou Patativa.



Triste avezinha pequena

Temos o mesmo desgosto,

Sofremos a mesma pena,

Embora em sentido oposto.



Teu sofrer e meu penar

Clamam a divina lei:

Tu presa para cantar,

Eu preso porque cantei.

Falecido em 08/07/2002, podemos afirmar que o Brasil, notadamente, a poesia brasileira, está de luto. Porque Patativa de Assaré foi uma das maiores expressões da poesia popular brasileira. A verdadeira poesia aflorava da sua boca, naturalmente. Eu tive a oportunidade de ouvi-lo ao vivo em alguns programas de televisão e pude perceber que quando ele falava a poesia já fluía certinha, com um conteúdo de alto nível, metrificada, cadenciada e sonorizada com rimas de ouro. No entanto, o poeta não foi bem divulgado entre os mais jovens. Os seus livros precisam vir às livrarias em edições mais populares, a preços mais acessíveis. O volumoso livro “Cante lá que eu canto cá” devia ser dividido em três ou quatro volumes para facilitar a sua aquisição pelos leitores. O poeta merece ser lido.

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