----- Um dia, talvez a Tua Galera deslise da Lapa às Fontaínhas em saudável e esplendoroso folguedo, provando de pele a santidade da grande noite de São João no Porto.
Quando em vertida verdade
São João todo se empapa
O fogo da humanidade
Acende o bairro da Lapa!
----- A (A)ssociação de (Mor)adores da (Zo)na da (La)pa – AMORZOLA – com vista à edição duma brochura em 2001, solicitou-me uma dúzia de quadras inéditas alusivas aos folguedos sanjoaninos que anualmente promove e concita em nome da tradição e da solidariedade popular que teima resistir aos ventos da dispersão global.
----- Na singela publicação, o veterano jornalista do JN, Germano Silva, versado adepto das multitudes do santinho rapioqueiro, refere, da memória dos tempos, o cronista maior da cultura tripeira de então, Alberto Pimentel: “O São João do Porto divide-se em dois volumes: o do povo, nos campos de Cedofeita; e o da burguesia, no arraial da Lapa.
----- No arraial de 2002, a Lapa surpreendeu-me e fez com que me subissem à flor do peito resplandecentes balões emocionais: as mordomas locais tinham aplicado dezenas de laboriosas horas no desenho caligráfico das minhas quadras sobre grandes paineis em tecido branco, que flutuaram à brisa da festa.
Do Povo d’alma tripeira
A Lapa é por condão
A pedra mais verdadeira
Do altar de São João.
Das Fontaínhas à Lapa
Na noite de São João
Quem cá vem leva uma capa
P’ra cobrir os que lá vão.
Dentro do teu coração
Hei-de Ter a lapa certa
E ao lado de guardião
São João de porta aberta.
Antiga gruta no monte,
Hoje é bairro da cidade;
Oh Lapa da velha fonte...
São João... Ai que saudade!
Na Lapa, braços abertos,
São João tem um altar:
Avós, pais, filhos e netos,
Siga a rusga sem parar.
----- Na actualidade lusófona tenho constatado que a redondilha-maior, quiçá por ser demasiadamente popular – e não é isso que “eles” deveras querem – tem tendência a extinguir-se, substituída pelos cânticos do snobismo erudito (!). Para já e até ver, o São João, o povo da Lapa e o JN vão sustentando a tradição, que é sem dúvida um dos mais importantes veículos da cultura popular portuguesa. Praza o Santo Rescaldo!