Finalmente, a democracia chegou em Cuba. Em torno de 9 milhões de pessoas foram levadas às ruas para a assinatura de um Projeto de Emenda Constitucional, que perpetua a ditadura comunista na Ilha. Toda a população, como gado, foi tocada até as “urnas” pelos famigerados CDRs (Comitês de Defesa da Revolução). Leia, abaixo, a tradução de um artigo publicado em Cubdest, traduzido por Graça Salgueiro.
Antes, uma pergunta. Você já ouviu falar nesses Comitês? Eu elaborei um rápido verbete, que será atualizado em meu “Arquivo da Intolerância”, Usina de Letras – transcrito a seguir (os outros verbetes, como Pinar del Río e UMAP, também podem ser vistos em “Arquivo”):
CDR - Comité de Defensa a la Revolución (Comitê de Defesa da Revolução Cubana). A partir dos 14 anos de idade, todos os cubanos são obrigados a aderir ao CDR. “Cerca de 8 milhões de cubanos são membros do comitê de defesa da revolução de seu quarteirão, dirigido por um ‘presidente, um responsável pela vigilância e um responsável ideológico’. Além de seu papel de vigilância ‘dos inimigos da revolução e dos anti-sociais’, os cerca de 120 mil comitês que controlam o país ‘constituem uma grande força de impulsão para mobilizar o bairro por ocasião das reuniões e desfiles para defesa da revolução’, afirmam os textos oficiais” (CUMERLATO, Corinne; ROUSSEAU, Denis. A Ilha do doutor Castro – a transição confiscada, pg. 55. Editora Peixoto Neto, São Paulo, 2001 - Tradução de Paulo Neves). Não é de admirar que o povo cubano vá em massa às ruas para apoiar Fidel Castro; ninguém teria coragem de contestar “el comandante”. Nas eleições para presidente, Fidel costuma ter 100% dos votos dos delegados – uma marca que, certamente, nenhum Papa teve até hoje. Veja Cambio Cubano, Círculos Bolivarianos, www.bpicuba.org, www.cubafreepress.org, www.cubanet.org, www.cubdest.org, FDHC, Pinar del Río e UMAP.
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“Cuba: reforma constitucional, "pensamento duplo" orwelliano e caso Sandra
Recentemente, em menos de uma semana, os habitantes da ilha-cárcere de Cuba foram protagonistas de dois novos pesadelos de estilo orwelliano: num dia, 9 milhões de pessoas foram levadas às ruas, saídas dos seus trabalhos ou instituições de ensino, para protestar contra o "imperialismo", suposto causante da miséria que assola Cuba; três dias depois, os mesmos 9 milhões foram coagidos a dar suas assinaturas de apoio a um Projeto de Modificação Constitucional que declara "intocável" o sistema comunista.
Os Comitês de Defesa da Revolução (CDR) e outros recursos de controle sócio-político foram ativados pelo regime, para assegurar-se que nenhum cubano maior de idade escapara das manifestações e deixara de dar sua assinatura. Assim, segundo alardeou o "Granma" de 19 de junho, a adesão teria chegado à 99%...
George Orwell - que lançara seu livro "1984" dez anos antes do início da revolução cubana - se surpreenderia hoje ao ver no sistema comunista da ilha, tantas analogias com os métodos de controle psicossocial por ele descritos em sua novela-ficção e que eram aplicados pelo "Big Brother" sobre os habitantes da infeliz "Oceania".
"Se todas as pessoas aceitam a mentira que o Partido impõe, se todos os documentos apresentam a mesma versão, então a mentira passa à História e se converte em verdade", escrevia Orwell, definindo essa situação artificial de controle mental como um literal "pensamento duplo". Acrescenta Orwell que, em Oceania, deixar simplesmente transparecer no rosto expressões consideradas "impróprias", já consistia uma infração passível de punição: era o chamado "rosto crime".
Na Cuba orwelliana de hoje, valentes sacerdotes do Oriente cubano qualificaram de "diabólica" a eficácia do aparato comunista para o controle psicossocial da população, transmitindo a falsa impressão de que a realidade totalitária é uma situação monoliticamente sólida, sem a mais mínima possibilidade de ser enfrentada ou mudada.
Assim, o cubano sentindo-se à mercê de um poder onipresente, para sobreviver, se vê obrigado a participar das manifestações e a assinar documentos que o "Big Brother" determina. Todavia, essa situação orwelliana, pela artificialidade em que se baseia, traz para o regime um alto risco, posto que precisam a cada vez maiores esforços repressivos e malabarismos publicitários, para manter a fachada desse mundo feito de irrealidade e sugestão, quase hipnótico. O pesquisador David Satter, do Hudson Institute, descreveu em seu recente livro "A era do delírio", uma situação similar vivida no império soviético, antes de sua queda.
A vantagem do povo cubano sobre a da Oceania orwelliana, é que o "Big Brother" caribenho, contrariamente a seu par na novela, não conseguiu "converter a mentira em verdade". Todos sentem, inclusive os mais altos hierarcas, que esse edifício de mentiras, apesar das aparências de solidez, na realidade está cada vez mais frágil e vulnerável.
Uma das maneiras mais efetivas de ajudar os cubanos é a denúncia e a sensibilização a nível internacional dessa situação de injustiça flagrante, fazendo com que as entidades de direitos humanos, a imprensa e as autoridades civis e eclasiásticas não possam permanecer caladas.
Vozes interessadas, sussurram que as pressões publicitárias sobre o regime só conseguem em contrapartida um endurecimento deste e nada obtém em matéria de liberdade.
Porém, isso não é verdade e basta recordar um exemplo expressivo. No dia 23 de junho completa-se o primeiro aniversário da liberação da menina Sandra Becerra Jova, retida em Cuba durante anos, contra a vontade de seus pais, os engenheiros cubanos Vicente e Zaida Becerra, residentes no Brasil.
Bastou que o "caso Sandra" viesse ao conhecimento público, nas três Américas, para que o regime cubano tivesse rapidamente que ceder e se visse obrigado a entregar a menina aos braços de seus pais, para evitar maiores custos políticos e publicitários.
As manobras orwellianas do regime cubano para aprovar a reforma constitucional que estabelece como "intocável" o regime comunista, devem ser denunciadas no mundo inteiro e transformadas em um gigantesco "caso Sandra", para que comova a opinião pública mundial. Colaborar para que isto se dê, é algo que está ao alcance de cada um.