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DA DENÚNCIA DOS USOS E COSTUMES À SUA LIBERTAÇÃO (
Para espíritos de muita agudeza artística e apaixonada natureza amorosa, a superficialidade é o maior defeito, o defeito supremo. Nessa confissão espantosa que se plasma no DE PROFUNDIS, Oscar Wilde vê-se também vítima da vileza do homem e da mulher do seu tempo, da lenta e pesadíssima mentalidade das consciências empedernidas, dos costumes hipócritas bem camuflados, aparências enganadoras, defeitos duradouros, esses também que Eça de Queirós desenvolve com mestria no tratamento do célebre Conselheiro Acácio, imortalizado universalmente, e que seduz os amantes da Literatura pela forma e pelo conteúdo, e não só os da língua materna.
Captando contributos para compreender um pouco como estamos sistematizados no pensamento, avanço com um homem poeta e ensaísta, um pensador imortalizado: Nietzsche é um caso muito curioso na Literatura universal. A sua moral é fundada sobre a cultura da energia vital e a vontade de poder (não sei bem se será a verdadeira palavra para traduzir este sentido, talvez alguém deste Website possa esclarecer esta dúvida e incerteza e aqui me ajudem, assim como a todos os leitores lusos – os franceses traduziram o signo alemão Gewalt por puissance, e não pouvoir, por isso duvido muito que tenhamos signo com sentido parecido, será grandeza?). Diz ele que não há outro critério da verdade senão o crescimento do sentimento de poder (?). O homem eleva-se (pelo poder) pela grandeza até o Super-homem. Os seus aforismos perturbadores foram aproveitados pelos teorizadores do racismo germânico. Os adeptos do nazismo, ideologia, rácica e imperialista.
Editei já há meio ano no meu segundo e último site, um comentário poético a denunciar o perigo de certos aforismos e citei um de Nietzsche no subtítulo. O homem segundo a sua concepção é uma corda estendida entre o animal e o Super-homem, uma corda por cima do abismo, e é desse modo que Zaratrusta fala ao povo e diz-lhe: Ensino-vos o Super-homem. O Homem é qualquer coisa que deve ser superada. O que fazeis para o superar? O Super-homem é o sentido da terra.
Brilhante esta descoberta, o sentido da terra é, por mais que ele não o defina, o respeito pelas forças da natureza, mas não as forças satânicas, e outrossim, a meu ver, a harmonia universal. Cabe-nos a tarefa de recriar, subverter, corrigir os aforismos que prejudicam, a estrutura do nosso pensamento e são como uma nuvem tenebrosa a definhar a humanidade.
Não me vou alongar mais; este esteta, tinha um paixão louca por Beethoven, um compositor musical atormentado com a audição que lhe foi faltando até à surdez, e depois de surdo continuo operando peças divinas. Vejam o que ele diz: «Encontra-se sempre, aqui e ali, algum semideus que consegue viver em condições terríveis, e viver vencedor! Quereis ouvir os seus cantos solitários? Escutai a música de Beethoven»
E mais (sobre a música) asserça Nitzsche que esta oferece às paixões o meio de as gozar. Não diferindo muito de Wagner, é ele quem afirma que temos a arte para não morrermos com a verdade.
Daniel Cristal
(Voltaremos um destes dias o Molière e a Gil Vicente)
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