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Artigos-->ICÓNICA EXPOSIÇÃO DE LUIZ PELLEGRIN NO MALG -- 10/12/2025 - 14:58 (LUIZ CARLOS LESSA VINHOLES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

ICÔNICA EXPOSIÇÃO DE LUIZ PELLEGRIN NO MALG[i]

 

L. C. Vinholes

09.12.2025

 

Entre 11 de novembro e 7 de março e 2026, o Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo de Pelotas, sob a direção de Lizângela Torres, abre suas portas e mostra ao público obras do mestre-artista professor Luiz Pellegrin, exposição com pinturas e fotografias intitulada Eros Purificado: do sexual ao sublime, com curadoria e expografia de Neiva Bohns. Exposição realizada como parte das comemorações dos quarenta anos de existência do Museu.

 

Interessado em ver amplamente divulgados todos os eventos que busquem compartilhar ou que tenham como objetivo enriquecer o conhecimento e o saber entre os que compõem a nossa sociedade, também nesse caso, decidi disponibilizar para o público que costuma acessar o site no qual divulgo meus artigos, público certamente diferente daqueles alcançados pelos substanciais textos preparados pelo MALG, acolho ipsis litteris o que consta do material de divulgação e dos painéis da exposição em apreço que tive a satisfação de visitar.

 

O panfleto da Eros Purificado

 

            O panfleto distribuído para os visitantes da exposição, com desenho de Ana Martha Bonat, oportuno e didático texto assinado pela curadora Neiva Bohns e estudada montagem de Joana Soster Lizott e Fábio Galli Alves, apresenta o artista e a sua mostra e é ilustrado com uma foto da série autorretrato, de 2025, com impressão a jato de tinta papel photo satin 260 gms sobre PVC. 110 x 91 cm; e duas fotos sem título, de 2 25, ambas sendo de pintura acrílica sobre tela, respectivamente, com 90 x 320 x 3.5 cm e 100 x 230 x 3,5 cm.

 

 

 

 

 

O oportuno, atrativo e didático texto do citado panfleto, assinado por Neiva Bohns e datado de Pelotas, novembro de 2025, diz:

 

“O Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo (MALG) apresenta uma pequena seleção de obras do artista Pellegrin (Morro da Fumaça, SC, 1953), com sugestões imagéticas feitas a partir de fotografias, e sofisticados estímulos pictóricos. No polo aposto das manifestações ingênuas e espontâneas, tudo o que aqui se coloca à disposição dos olhares interessados, é fruto de investigação, experimento e tomada de decisão.

Artista e pesquisador com sólida formação acadêmica, Pellegrin fez seus estudos iniciais no Instituto de Letras e Artes (ILA) da Universidade Federal de Pelotas, seguindo para pós-graduação na Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP), onde foi orientado pela artista e professora Regina Silveira (Porto Alegre, 1939), dentre outras figuras seminais de arte contemporânea brasileira.

Nesta exposição, dividida e duas artes, estão imagens fotográficas em que a delicada sensualidade das formas adquire qualidades táteis, sugerindo o toque macio que faz arrepiar a pele. No espaço contíguo, está um importante conjunto de obras pictóricas que transformam a sala museal numa “capela cromática” dedicada à beleza ordenada. Ali, as experiências reducionistas e pós-monocromáticas dialogam com os conhecimentos acumulados no campo da pintura ocidental, desde meados do século XX até o presente.

 

Deixamos de apresentar as exuberantes tapeçarias que emulavam a mata nativa dos lugares da infância do artista, e tampouco trouxemos as pinturas – já eróticas – que pairavam entre a figuração e a abstração, do início da carreira. O que aqui pode ser apreciado, portanto, é apenas uma parte do processo de um artista inexoravelmente atento às coisas do mundo contemporâneo, que não dissocia arte e vida.

 

Que se deliciem com os momentos de suspensão da ruidosa realidade cotidiana e dos conflitos competitivos (que ecoam a brutalidade dos atos insanos), é o que desejamos aos nossos visitantes. Silêncio reflexivo, meditação profunda e leveza poética, temos a oferecer, nesta mostra, como alimento para as almas sensíveis e pacificadas. Bom proveito!”.

 

 

 

 

Como complemento às informações sobre o artista, aproveito o que encontro em outro texto, pois enriquece os dados sobre suas atividades: “Durante várias décadas, dividiu-se as atividades ligadas à produção artística com a docência, a gestão acadêmica, e a ativação de espaços como os armazéns do Porto, a Cotada, a Laneira e a Brahma, que se introduziram, temporariamente, locais de produção e circulação de arte e cultura”.

 

Os dois artigos que se seguem, para gáudio dos visitantes, figuram das paredes de entrada das salas que abrigam a mostra, são da mesma data do anterior e também assinados por Neiva Bohns. Reproduzidos nesse artigo, serão igualmente apreciados especialmente pelos que não tiveram a sorte de deles tomar conhecimento.

 

 

    

 

 

 

SOBRE IMAGENS CAPTURADAS, TRANSFORMADAS E LIBERADAS

 

“Aqui apresentamos um conjunto de imagens fotográficas, realizadas originalmente com câmeras polaroide, que muito antes do surgimento dos dispositivos digitais, permitiam a visualização imediata – e quase mágica -, das imagens produzidas. O artista, cuja formação é profundamente ligada aos problemas da pintura, fotografava fragmentos do próprio corpo, gerando paisagens lúdicas e fantasiosas, dignas de um Hieronymus Bosch da era contemporânea.

 

Em certo momento, o artista também se interessou por fotografar imagens televisivas, como no caso de uma luta de boxe transmitida em canal aberto. A imagem resultante – um fragmento de cena, capturado, ampliado e submetido ao rigor geométrico da grade minimalista, adquire indiscutíveis qualidades pictóricas. A violência da luta entre dois atletas, é paralisada pela ação do artista, e se transforma em uma imagem inofensiva, que existe apenas para a fruição estética.

 

Ao ampliarem as características sensoriais das matérias, os fragmentos de corpos falam de um erotismo primevo, que se manifesta a pulsão da vida, e está presente nas células, nos órgãos, nos tecidos corporais de todos os seres. Como um narciso que se descobre no espelho, é o próprio corpo que sublinha a existência de suas partes, nem sempre percebidas. Tudo está gravado no corpo: os esconderijos secretos, os desertos, os abismos, as texturas, os desenhos, as manchas, os sinais do tempo, as novas dores e os prazeres antigos.

 

 

 

 

O erotismo que aqui se manifesta, não se alimenta das vulgaridades mundanas, das pornografias exaustivas, e das rudes literalidades antipoéticas. Pelo contrário, a experiência contemplativa dessas formas ambíguas, que não se entregam ao primeiro olhar, e se assemelham aos fenômenos da natureza, adquirem aqui uma atmosfera algo religiosa. Eros, nesse percurso artístico, acalma-se, transfigura-se e se purifica pela sublimação estética.

 

O autorretrato fugidio que incluímos nesta parte da mostra carrega alguma similaridade com as pinturas de Amedeo Modigliani – uma das maiores referências do artista. Mas também revela a pureza espiritual do menino que quase se tornou padre, antes de entregar-se por inteiro à outra devoção: a arte”.

 

SOBRE O QUE NÃO SE TRADUZ EM PALAVRAS

 

“A seleção de obras de Pellegrin, apresentadas nesta sala, traz, para a pauta do dia, questões específicas da área do conhecimento da pintura, expressas tanto nas relações cromáticas, quanto nos formatos que se repetem sistematicamente, nunca de maneira idêntica. Na fase atual, o artista prefere as tonalidades geradas pelas misturas de tintas. Afasta-se, portanto, da aguda vivacidade das cores de Piet Mondrian e revisita os amigos Paul Cézanne, Claude Monet, Henri Matisse, Pedro Figari, Alfredo Volpi, e outros.

 

Essas cores autorais, inspiradas diretamente na natureza, no repertório da pintura ocidental, ou em páginas de revistas, não estão à venda nas lojas de tintas industrializadas: são da ordem da visualidade inventada, sempre suscetíveis às instabilidades ambientais. Vêm de Barnett Newman, Sol Lewit, Arcangelo Iaelli, Willys de Castro e Eduardo Sued o interesse pelos campos de cor, os dispositivos de interrupções das zonas monocromáticas, as vizinhanças propositalmente dissonantes, o inesgotável jogo de atração/repulsão entre coisas de naturezas diversas, obrigadas a dividir o mesmo lugar de existência.

 

Se essas cores de natureza impura, que se afastam das bases primeiras, fossem traduzidas em polifonias, estariam sussurrando notas graves e longas, ou lançariam agudos estridentes. É nesse silêncio reflexivo, feito de uma infinidade de sons, que tornam existência as pinturas de Pellegrin. Décadas de estudos aprofundados sobre arte, desejos inconfessáveis, pensamentos labirínticos, jardins plantados e esquecidos, ecoam nas superfícies das obras, como saberes intraduzíveis para a linguagem verbal. Na opacidade das superfícies cobertas de tinta, residem universos insondáveis, que não se revelam aos olhares fugazes e apressados. Percepção exige atenção amorosa”.

 

QUEM É NEIVA MARIA FONSECA BOHNS

 

A professora Neiva Maria Fonseca Bohns ou, simplesmente, Neva Bohns, é Mestre e Doutora em História, Teoria e Crítica das Artes Visuais, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Docente e Pesquisadora do Centro de Artes (CA) da UFPel, onde exerce o cargo de Professora Associada IV. Ministra disciplinas de arte contemporânea, teoria e crítica de arte, arte brasileira e arte no Rio Grande do Sul e é membro do Comitê Brasileiro e História da Arte (CBHA) e da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA), bem como do quadro docente do Programa de Pós-Graduação (Mestrado) em Artes Visuais do CA/UFPel. Atua como crítica e curadora de Artes Visuais e da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas (ANPAP).

 

 

[i] Para ilustrar esse artigo, as fotos foram graciosamente cedidas pelo professor Luiz Pellegrin e os testos, em PDF, pela professora Lizângela Torres, Diretora do MALG e por mim digitalizados.

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