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A Ponte do Diabo
No alto da serra um lugar
pensado pelo Deus amado
Para os filhos seus um reino
Encantado
Seria assim aquele jardim
Além do certo e do errado
Longe da dor, do pecado
Nas alturas plantado
O diabo com inveja fez a
Ponte da Misarela para dar
Passagem a todo o tipo de
Mazela
O primeiro a passar foi o
Triste fado, nas profundezas
das minas de carvão criado
Som lento, arrastado.
Ecos das correntes do escravo
Som do lamento, do sofrimento
O único som que as cordas vocais
da escravidão conseguiam articular
Achou no frio o maior aliado
Como fio de navalha, cortava o corpo
o vento gelado
Povo sagrado cativo do diabo
Aquela gente raiana enrijecia para suportar
O vento frio que vinha da Espanha
A alma encolhia, o coração petrificava
A mente invernava
Inverno, inferno a castigar com o frio
De rachar todo o ser vivo que existia
naquele lugar
O diabo chamou a dor, o pecado,
A inveja, o ciúme, a insanidade
Todo o tipo de maldade
O povo castigado lutava contra
o poder do diabo
Xamanismo, paganismo, esconjuros
Exorcismo à mistura com cristianismo
Os padres e o povo rezador chamavam
Por Nosso Senhor
Elegeram para patrono do lugar o
Senhor da Piedade
O diabo recuou, parou de infernizar
Esconde-se debaixo da ponte da Mizarela
Já pouco aparece.
De vez em quando põe as garras de fora
Mas já não manda
Não tarda vai embora!
Lita Moniz
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