ALCIDES LANZA E A PEÇA UM E/OU OUTRO
L. C. Vinholes
05.08.2025
Em setembro de 1954 escrevi uma das minhas primeiras peças dodecafônicas que, após uma década, mereceu impressão pela Edição Novas Metas de São Paulo. Sua primeira audição mundial ocorreu em 11 de janeiro de 1979, no VIII Curso Latino Americano de Música Contemporânea em São João Del Rei (MG), pela pianista Maria de Fátima Pinto. Três anos e meio depois, em 14 de julho de 1981, figurou do programa do Festival de Arte da Bahia, patrocinado pela Coordenação Central de Extensão da Universidade Federal, pelo professor Paulo Affonso de Moura Ferreira (1940-1986) então presidente da Secção Brasileira da Sociedade Internacional de Música Contemporânea (SIMC).
Um e/ou Outro foi finalmente apresentada no exterior quando o compositor e pianista argentino Alcides Lanza (1929-1924), em 08.01.1982, decidiu incluí-la no programa do Festival de Música Canadense no Alumni Theatre, do Departamento de Música da Universidade Carleton, de Ottawa. É desnecessário dizer a surpresa que tive com essa decisão de Lanza, mas que, agradecido, tomei, como uma gentileza lembrando a todos os compositores brasileiros.
O festival de Ottawa, reconhecia o trabalho e a liderança dos mestres Alcides Lanza e Meg Sheppard nos campos da MUSICA/TEATRO/ELETRONICS e anunciava “Algumas outras abordagens para música repetitiva”. Do programa constavam composições de Tomás Marco, Richard Bunger, Micheline Colombe Saint-Marcoux e Harry Kirschner, bem como de Lanza e Meg Sheppard, ela conhecida atriz-cantora estadunidense vivendo no Canadá desde 1971, com especialidade em teatro e comédia musical e em repertório para voz e eletrônicos.
Do programa do festival, na apresentação de Um e/ou Outro figurou não só um mini histórico, mas também um comentário que, certamente, se deve a Lança:
“Compositor brasileiros presentemente residindo em Ottawa, tem sido muito ativo na promoção de novos músicos e artistas brasileiros. Sua composição para piano reflete, como em várias outras obras suas, uma atitude minimalista. Esse aspecto de sua música pode ser rastreado desde o início de sua carreira como compositor. Vinholes escreveu Um e/ou Outro em 1954. Posteriormente, a partitura ficou perdida por anos, mas, recentemente, um amigo seu enviou ao compositor uma cópia existente. A apresentação desta noite é, portanto, quase uma segunda "estreia".
Quem foi Alcides Lança
Alcides Lanza (1929-2024) compositor, maestro, pianista e educador musical argentino-canadense, em suas obras combina instrumentos tradicionais com sons eletrônicos. Foi diretor do Estúdio de Música Eletrônica e professor de composição da Universidade McGill desde 1947. Natural de Rosário de Santa Fé, na Argentina, Lanza, estudou com Julian Batista, Alberto Ginastera (composição), Ruwin Erlich (piano), Roberto Kinsky (regência de orquestra) e fez cursos de aperfeiçoamento com Olivier Messian, Ricardo Malipiero, Yvonne Loriod, Aaron Coplan, Bruno Maderna e Vladimir Ussachevsky. Dedicou-se à música contemporânea de vanguarda e uma das suas permanentes preocupações foi apresentar primeiras audições de música nova. Assim se tornou conhecido no Brasil antes de se radicar nos Estados Unidos da América do Norte (1965 a 1971), compondo e lecionando nos Centros de Música Eletrônica das Universidades de Colúmbia e Princeton.
Outros registros
Por óbvio, como registro apenas as notícias que recebo sobre as apresentações de minhas obras, compartilho, em ordem cronológica, o que, até agora, recolhi sobre minha Um e/ou outro:
28.08.1982 - Conservatório Musical Brooklin Paulista. Recital de alunos e professores. Analaura de Souza Pinto (piano).
16.11.1983 - Concertos do Meio-Dia - Grandes formas da música ocidental: serialismo e dodecafonismo - Mozarteum Brasileiro - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand. Paulo Affonso de Moura Fernandes (piano).
04.04.1984 - Concerto em Homenagem aos Compositores Pelotenses. Auditório Milton Lemos. Conservatório de Música de Pelotas. Promoção da Pró-Reitoria de Extensão. UFPel. Loila Weymar (piano).
10.09.1986 - Concierto de Música Brasileña y Costarricense. Salon Dorado do Museu de Arte Constarriquense. Patrocínio da Embaixada do Brasil e do Centro de Música Contemporânea: em “comemoración de la Semana Pátria do Brasil y de Costa Rica”. Marco Antonio Quesada (piano).
17.11.1990 - Conservatório de Música da Pelotas. UFPel. Painel sobre música do século XX. Loila Weymar (piano).
18.08.2003 - Auditório Tasso Corrêa UFRGS. Porto Alegre. XIV Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música (Anppom). Celso Loureiro Chaves (piano).
18.03.2005. Auditório da Casa Thomas Jefferson, Brasília. Sextas Musicais. Maria José Carrasqueira.
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