Um dos poetas que conheci, na minha estada o Japão, tinha uma personalidade às vezes introvertida e outras extrovertida. Era Kunihiko Tsuchida que sempre foi interessante, mas me pareceu reservado. Tínhamos amigos comuns como Shuzo Iwamoto e Yoshimi Tanaka[i]. Nas poucas vezes em que estivemos juntos não tive tempo nem oportunidade de conversar demoradamente. Foi sempre sorridente e agradável, mostrava ser bem-informado, parecendo ser um poeta independente sem pertencer a grupo algum. Discretamente falava de sua poesia pouco conhecida pois, para divulga-la, dava preferência aos cartões postais por ele confeccionados e impressos, de um lado reproduzindo suas pinturas e de outro seus poemas. De Kinihiko tenho um formal e simples cartão postal do correio japonês, chamado de nengadyo, com meu endereço e a saudação da passagem dos anos 1963-1964 na caprichada e elegante caligrafia escrita com tinta da China e pincel apropriado.
Na inauguração da Exposição Gravura Contemporânea Brasileira no Museu Bridgestone, de Tokyo, em junho de 1963, encontrei-me com Kunihiko em companhia de Shuzo Iwamoto. Em 9 de julho de 1991, na minha segunda estada no Japão. quando passávamos pela Estação Shibuya, de Tokyo, minha filha Iran, residente no Canadá. e eu voltando de Kamakura, tivemos um inesperado encontro com Kunihiko que disse estar a caminho de Yokohama, cidade satélite de Tokyo onde morava. A conversa foi rápida, mas com tempo suficiente para tirar uma foto. Em 19 de setembro de 1995, na inauguração da mostra da pintora Yoshimi Tanaka, tirei uma foto com as também pintoras Haruo Kato e Chiyoko Miyauchi em companhia de Kunihiko Tsuchida.
Haruo Kato – Vinholes – Kunihiko e Chiyoko Miyauchi
Dos cartões postais de Kunihiko que tive, ainda guardo o que tem um dos seus poemas escrito tradicionalmente da direita para a esquerda, de cima para baixo, de uma época em que a maioria dos poetas começava a dar preferência às linhas horizontais. Apraz-me compartilhar a simplicidade desse cartão que tem na sua base o texto em japonês com ideogramas brancos em fundo azul, encimado por desenho repetitivo de cores variadas. Apresento o cartão e reproduzo o poema em tipos MS Gothic, maiores, para facilitar a leitura, seguido do texto japonês romanizado, acompanhado de versão/tradução em português.
O poema de Kunihiko Tsuchiya, em tradução livre, em português cursivo, seria:
Há o mar, há as montanhas e há o céu. À medida que subimos a colina, o céu gradualmente se torna azul e as nuvens ficam brancas. As crianças correm, correm, correm, correm em direção ao mar, às montanhas e ao céu.
Por oportuno, registro que o Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo (MALG), de Pelotas, tem em seu acervo obras de Gagyu Ueda, Yoshimi Tanaka e Irani Vinholes, sendo que a serigrafia Eel ou Engias (1979), de autoria do primeiro, por iniciativa da reitora Ursula Rosa da Silva, desde que tomou posse em maio último, visando a divulgação do citado acervo, enfeita o gabinete onde ela e o vice-reitor Eraldo Santos Pi
[i] A saudosa artista plástica Yoshimi Tanaka é nora de Kenzo Tanaka, autor do projeto da Praça Jardim de Suzu, construída na Av. República do Líbano em Pelotas. Yoshimi Tanaka se distinguiu documentando minúsculas flores encontradas em campos e prados do Japão. Esses desenhos, feitos com aquarela, foram utilizados no teto de templos budistas do Japão. Yoshimi Tanaka é mãe do ceramista Atsuki Tanaka autor do vaso Mebae Izuru = èŒå‹• = brotos de plantas, desde 2014, no acervo do MALG.
[ii] Neste parágrafo, os nomes japoneses estão escritos como se escreve no Japão: o sobrenome antes do prenome ou também como se usa dizer: o nome de família antes do nome próprio.