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Artigos-->DIPLOMACIA CULTURAL E ARTE. Canadá 1978 -- 03/06/2024 - 11:09 (LUIZ CARLOS LESSA VINHOLES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

DIPLOMACIA CULTURAL E ARTE.

Canadá 1978

                                  

L. C. Vinholes

03.06.2024

 

Antes de começar a preparar e publicar artigos relativos às minhas atividades de encarregado do Setor Cultural da Embaixada do Brasil em Ottawa, registrarei, para que seja do conhecimento de todos os leitores, o que diz respeito ao procedimento a ser obedecido pelos funcionários das repartições diplomática/consular, seguindo o que era parâmetro obrigatório nas atividades de um redator ou datilógrafo.

 

As minutas dos textos dos documentos padrão tinham que exibir no canto esquerdo inferior da página, em maiúsculas, as iniciais do redator e, logo após uma barra inclinada, as iniciais, em minúsculas, do datilógrafo que copiara o texto manuscrito. No original a ser assinado pelo responsável pela repartição era esse também o procedimento a ser seguindo: em maiúsculas as iniciais do autor do texto e as iniciais em minúsculo do datilógrafo. Considero que a presença destas iniciais na primeira página foi sempre uma forma explicita de registrar e de reconhecer o trabalho dos que produziram os documentos.

 

Exemplifico com o texto de um documento datado de 3 de maio de 1978, intitulado “Cultura. Canadá. Diplomacia cultural e Arte”, distribuído à Divisão de Difusão Cultural (DDC) e à DCS, divisões competentes da Secretaria de Estado das Relações Exteriores (Itamaraty), tecendo comentários sobre um caso especifico e o desdobramento que dele resultou. Escolhi este texto como exemplo, não só pela importância que atribuí à matéria nele abordada, mas também pelo fato de que nele minhas iniciais LCLV/lclv estão presentes, como mostra a cópia que tenho em mãos e, mais do que isto, que tive a satisfação e a honra de vê-lo rubricado e expedido pelo embaixador titular do posto.

 

A seguir, transcrevo o texto de minha autoria.

 

Informo. De julho a outubro do ano passado, a imprensa canadense, inúmeras vozes, deu destaque ao problema surgido com o encerramento inesperado, no dia 16 de junho, de uma mostra inaugurada dois dias antes em uma das salas de exposição da “Canada House Gallery”, em Londres, mostra que estava prevista durar um mês.

 

2.      O incidente ocorreu quando o Alto-Comissário Paul Christian Hardy, determinou que fosse descontinuada a apresentação ao público londrino da obra de Noel Harding, intitulada “Room for self explanation”. Nesta obra o autor que é professor na Universidade de Guelph e no Colégio de Arte de Ontário, utilizando três elementos, fotografias, diapositivos e filmes de 16 mm, em preto e branco, projetados e refletidos em paredes e espelhos da sala de exposição, conta a história de três personagens. As cenas nas quais as personagens se despem foram as que deram origem ao problema que não terminou com a decisão de Paul Martins e com a qualificação da obra como “inapropriada”.

 

3.      A autorizada revista mensal “The Canadian Forum”, no número 677, correspondente a dezembro de 1977 e janeiro deste ano, volta a analisar o incidente ocorrido entre Harding e Martin, num extenso artigo de autoria de Donna McDonald, jornalista canadense sediada em Londres, intitulado “Cultural Diplomacy and Art - The Canada House Gallery”.

 

4.      McDonald recorda que já em 1951 a “Comissão Massey para Desenvolvimento Nacional nas Artes, Letras e Ciências” observava que “cultural matters are becoming more and more an essential part of foreign policy” e acrescentava, em forma de recomendação, que: “the promotion of international exchanges in the arts, letters and sciences would increase Canada´s prestigie in other countries. It would give the worker in te creative arts a wider export market and in return would enrich the cultural fare received by Canadians from abroad”.

 

5.      Segundo McDonald a primeira providência concreta com vistas a “incrementar o prestígio do Canadá”, veio somente doze anos mais tarde, na forma de acordos culturais bilaterais com a França, a Bélgica e a Suíça. Continua informando que “o programa canadense” foi ampliado, atualmente mantendo acertos formais e informais com a maioria dos países da Europa, assim como com a URSS, os Estados Unidos da América do Norte, o Japão, a Austrália e a China.

 

6.      A ampliação destes contatos culturais em nível governamental exigiu que, em 1965, fosse criado o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Canadá, a Divisão de Assuntos Culturais e decidido que, nas Embaixadas maiores e nos Altos Comissariados, os assuntos culturais ficassem a cargo de funcionários no nível de 1º secretário.

 

7.      McDonald informa que são três as principais funções da citada Divisão de Assuntos Culturais: 1 - apoiar os objetivos da política canadense de longo e curto prazo; 2 - refletir no exterior a cultura canadense; e 3 – enriquecer a vida cultural canadense interna, através de programas de intercâmbio e outras promoções afins.

 

8.      As duas últimas funções são bem aceitas pela mencionada Divisão, mas a primeira delas tem sido motivo de frequentes choques de opinião. Prova disto é encontrada no artigo que George A. Cowley, Vice-Diretor dos Assuntos Culturais, publicou na revista “International Perspectives”, número correspondente a setembro e outubro de 1976, onde diz: “cultural programs are intended to influence not this year´s government or even next year´s, but the next decade´s. This long-range objective cannot be achived if cultural iniciatives are burdened with the task of promoting shortterm policies and political objectives.” Os problemas surgem em dependência do “como” os assuntos culturais sintonizam com os objetivos da política exterior do Canadá, o que, por sua vez, cria potencialidade de problemas novos, pois o que possa ser tido como refletindo a vida cultural canadense, não necessariamente estará em harmonia com os objetivos da política externa do Canadá, assim como almejado pelos que são por ela responsáveis.

 

9.      Donna McDonald chama a atenção para o fato de que o incidente ocorrido na “Canada House Gallery” exemplifica de maneira insofismável o clima existente.

 

10.    Segundo afirmou Paul Marin, a galeria de Londres foi criada “to portay all aspects of Canadian art endeavour to the British people”. Mas, uma vez que a obra de Noel Harding não seria taxada de inapropriada se exposta em uma galeria no Canadá, conclui o articulista que a galeria da “Canada House”, em Londres, “cannot show all aspects of Canada Art”.

 

11.    “Room of self explanaton” foi levada para Londres graças à ajuda financeira que seu autor Noel Harding recebeu do “Canada Council”, também uma organização do Governo canadense. A política cultural deste Council tem sido objeto de inúmeras críticas e controvércias, conforme reporta meu ofício nº 725, de 20 de novembro de 1977.

 

12.    O jornal “The Citizen” em sua edição de 1º de outubro do ano passado, registrou que o Ministério das Relações Exteriores do Canadá contatou a “Art Metropole”, em Toronto, para solicitar a preparação de um vídeo-tape de “Room for self explanation’, para ser enviado à Bienal de São Paulo, como participação canadense.

 

13.    Sempre demonstrando claramente o interesse do Governo canadense em desenvolver uma política exterior tendo também nas artes um dos seus principais elementos, as atividades culturais canadenses em outros países têm sido intensificadas, conforme registro em meus ofícios nºs 695, 799, de 21 de novembro e 20 de dezembro de 1977, e nºs 49, 283 e 311, de 17 de janeiro, 3 e 7 de abril últimos.

 

 

 

O The Canadian Forum

 

Por oportuno e para finalizar devo registrar que o artigo acima resultou da leitura atenta do texto da jornalista Donna McDonald na revista The Canadian Forum, conceituada publicação que me acostumei a ler desde que cheguei a Ottawa em julho de 1977 e na qual encontrei matérias com assuntos que permitiam obter informações e me manter atualizado, ficando a par da orientação e das eventuais mudanças dos múltiplos aspectos da realidade canadense, com história, hábitos, costumes, artes e cultura diferentes das do Japão, país no qual acabara de servir. Na mesma revista, nas edições de 1977 e 1978, encontrei também algo que sempre foi do meu maior interesse: poemas de novos poetas. Ali conheci, entre outros, os canadenses Linda Sandler, Hans Johnsen, Craig Campbell, Joseph McLeod e Susan Musgrave, que mereceram minhas traduções, traduções estas que estão publicadas no site .

 

Comentarios

Maria do Carmo Maciel Di Primio  - 20/06/2024

A exposição foi descontinuada por uma questão de puritanismo religioso ou pessoal do Alto - Comissário?

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