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Artigos-->Começando bem o dia -- 22/04/2002 - 17:48 (Lílian Maial) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


COMEÇANDO BEM O DIA





Mais uma segunda-feira.

Acordar no melhor do sono, ligar o chuveiro e duvidar do banho.

Espreguiçar. Despir. Banhar.Despertar enfim.

Preparar a mamadeira do pequeno, enquanto a cafeteira eficiente exala cheiro

de família e o forno avisa que o pão está quentinho.

Vestir o caçula, ao mesmo tempo em que o creme é absorvido pela pele e

aguarda a maquiagem.



De repente, o olhar no espelho. O sorriso de aprovação e a lembrança do

mesmo olhar em outro rosto na última sexta-feira. Sim, é naquela mesma hora

que aquele vizinho desce de elevador. A hora de encontrar aquele homem

atraente, cheiroso, barbeado, de olhar cândido e indiscreto no decote, que,

por alguns segundos, emudece, desvia os olhos e sonha.

Hora de cruzar com aquele outro, que leva bem cedinho o cachorro peludo para

o passeio matinal. Olhares, instintos, recatos.

Sair para o trabalho, depois disso, é leve e agradável.

Sentir-se bonita, satisfeita, desejada.

A condução, as árvores, o sol e os devaneios.

A mente viaja mais rápido que o ônibus. O motorista percebe o ar blasé e

parece penetrar no sonho.



E a porta do elevador se abre e ele está lá, alto, elegante, todo de branco,

propositalmente (ou não?) os botões desabotoados da camisa, como que saindo

apressado, mas com o peito desnudo e oferecido bem ali, arfando a cada

inspiração.

Aqueles olhos infinitamente solitários, de visão paralela, encontrando-se

num ponto qualquer dentro dos seus, mesmo que por um instante. Um mundo de

loucuras na cabeça. Um universo de sensações do que poderia ser.

Chega o térreo, ele vai para a garagem, ela para a rua. Suspiro.



Ao abrir o portão externo, corre o outro, com o cão peludo, esse mais velho

e não menos interessante. Sempre que passa por perto aspira seu perfume em

profunda inalação. Entra, agradece, dá o bom dia certeiro, a admira, mas o

cachorro quase o puxa pela guia. Novo suspiro e ganha a rua.



A cada boteco, a cada ônibus que passa, um frisson de animais farejando

fêmea. Um desespero de macho em sua obrigação diária. Ela anda, sente-se

estrela de propaganda de sabonete, leve, esvoaçante, perfeita. Algum

rebolar em seu salto alto e seu gingar de quadris.



O ônibus vem longe. O motorista a reconhece e pisca os faróis. Mais um

exemplo de espécime desejável, atlético, moreno e com aqueles olhos,

perdidos olhos num infinito de sedução.



E ela acorda de seus delírios com uma brusca freada. Assustada, olha ao

redor. Esta quase no ponto (não ela, mas a condução, porque ela está mais

do que no ponto). O motorista a busca pelo retrovisor e sorri com os

olhinhos.

Ela retribui gentil e volta ao prédio.



Lembra do outro prédio em frente e do vizinho debruçado no parapeito,

aguardando que ela escolha a roupa do dia. Espera cauteloso, ansioso,

deliciado. Ela sabe. Passeia defronte à janela de sutiã e calcinha. Veste-se

lentamente: primeiro a calça comprida, depois a blusa, os sapatos, brincos,

relógio, cordão... penteia os cabelos e disfarçadamente o observa por

entre os fios. O vê sorver sua parcial nudez inocente e segui-la com os

olhos e o desejo.



Pronto, chegou seu ponto. O motorista a cumprimenta e a estupra

inconscientemente, a submete. Ela permite e salta.



E vem música em sua mente. Romântica, gostosa, preguiçosa, como o sol que se

espraia e se espreguiça antes de dourar mais um dia.



Ela chega ao trabalho e parece não ver nada ao redor. Canta baixinho sua

música do momento. Todos espantados como ela pode chegar ao trabalho numa

segunda-feira tão cedo, tão linda, tão feliz e cantarolante. Ela sorri,

cúmplice de si mesma. Ninguém sabe que acabara de fazer sexo com três homens

maravilhosos e ainda ter sido vigiada por um voyeur. Como o dia poderia ser

melhor?







Lílian Maial

http://www.geocities.com/lilianmaial/





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