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Artigos-->Nelson Rodrigues e as dicotomias -- 09/01/2016 - 06:13 (Georgina Albuquerque) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos











O sarcasmo e a ironia presentes na obra de Nélson Rodrigues denunciam grande desconforto perante a hipocrisia e os interesses escusos. Isso é fato, mas a constatação vai além. Nélson possuía uma débil veia conformista e nos submete, pela genialidade, à sua constante e inebriante tensão interna. Intuitivo e sensível, as portas do mais profundos recônditos da subjetividade humana para ele se escancaravam, assim como os cenários familiares e sociais eclipsados.




O teatrólogo vivenciava um "fog", uma tristeza crônica e uma melancolia até justificáveis pela trágica história de vida. Mas a sua idiossincrasia o condenava a um permanente luto indissipável, com o acréscimo de um extraordinário potencial criativo. Carlos Heitor Cony nos ofereceu uma boa definição para Nélson: “um homem em permanente velório por si mesmo e pelos outros”. A realidade o agredia. Não lhe agradava o que constatava. Possuía um exigente ideal do ego e se frustava com  isso: "Todo amor é eterno. E se acaba, não era amor."




Jung postulou o conceito de "sombra", imprescindível à compreensão humana. Nélson o endossava: "É preciso ir ao fundo do ser humano. Ele tem uma face linda e outra hedionda. O ser humano só se salvará se, ao passar a mão no rosto, reconhecer a própria hediondez. " Aos que assistiram o filme "O Cisne Negro" essa concepção junguiana fica mais clara. "Sombra" seria o lado oculto e sombrio da personalidade, incompatível c/ os padrões e exigências das normas sociais. Pois Nélson Rodrigues transitava muito bem pelas "sombras", num enfrentamento que maculava a sociedade melindrada na qual se inseria. Aliás, ele a rotulava assim: "Hoje o brasileiro é inibido até p/ chupar um picolé Kibon".




A obra do escritor era dotada de um forte potencial agressor, decorrente este de uma profunda inquietação assim sintetizada: - Nós somos isso ("ferocidades adormecidas"), não o que fingimos ser! Creio que lhe era insuportável a amplitude realista que lhe adentrava pelos poros. Apelava então para o sistematizado, na tentativa de ordenar a sua percepção caótica. Com uma faceta aparentemente moralista, provavelmente necessitava alcançar um pouso seguro para suas viagens e perturbações subjetivas: "A Igreja está ameaçada pelos padres de passeata, pelas freiras de minissaia e pelos cristãos sem Cristo. Hoje, qualquer coroinha contesta o Papa." Mas contrapunha dicotomias: "Toda oração é linda. Duas mãos postas são sempre tocantes, ainda que rezem pelo vampiro de Dusseldorf”.




Ainda quanto à sombra e os seus antagonismos, temos o curioso e significativo desconforto que o católico e fervoroso Tristão Athaíde provocava no Nélson: "Só Deus sabe que fiz o diabo para ser amigo do nosso Tristão de Athayde. Durante cinco anos, telefonei-lhe em cada véspera de Natal: _ "Sou eu, Dr. Alceu. Vim desejar-lhe um maravilhoso Natal para si e para os seus" etc etc. Tudo inútil. O Dr. Alceu trancou-me o coração. Até que, na última vez, disse algo que, para mim, foi uma paulada: — "Ah, Nelson! Você aí, nessa lama!". O mestre insinuara que a minha alma é um mangue, um pântano, um lamaçal. E, por certo, ao sair do telefone, foi se vacinar contra o tifo, a malária e a febre amarela que vivo a exalar. Pois é o que nos separa eternamente, a mim e ao Dr. Alceu: — de um lado, a minha lama, e , de outro, a sua luz."




Nélson faleceu aos 68 anos. No exato dia, fez treze pontos num bolão da Loteria Esportiva.














 














 














 














 














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