USO DE ARMAS QUÍMICAS NA GUERRA CIVIL DA SÍRIA
Edson Pereira Bueno Leal, novembro de 2013.
Assinada em 13 de janeiro de 1993 , a Convenção sobre a proibição de Armas Químicas entrou em vigor em 29 de abril de 1997, com 188 países signatários. Proíbe a produção, a estocagem , a compra , a venda e o emprego de armas químicas. Estabelece um prazo de dez anos para a destruição desse tipo de arsenal. Cerca de oito países não assinaram a Convenção: Israel, Síria, Egito, Angola, Somália, Sudão do Sul, Coréia do Norte e Mianmar.
Essas armas são consideradas de destruição em massa pela ONU. Podem ser disparadas por bombas aéreas, mísseis e foguetes de artilharia.
Gás mostarda ( C4H8Cl2S) tem cheiro de mostarda ou alho. Provoca lesões neurológicas e gastrointestinais irritação dos olhos, cegueira temporária; lesões nas vias respiratórias, vômitos constantes; rompimento de vasos sanguíneos e bolhas por todo o corpo. Foi usado na Primeira Guerra Mundial.
Gás Sarin ( C4H10fO2P) . Provoca espasmos e dor de cabeça; olhos lacrimejantes , contração das pupilas e visão turva; sudorese, dificuldade para respirar ; salivação , náusea e vômito. Foi usado no atentado de Tóquio em 1995.
O sarin resulta de um acaso. Seus inventores trabalhavam em inseticidas na IG Farben, uma companhia química na Alemanha Nazista. Em 1938, identificaram uma substância suja fórmula causava grave perturbação do sistema nervoso. A companhia adotou o nome de sarin em homenagem aos químicos envolvidos na descoberta ( Schrader, Ambros, Ritrer e Van der Linde). O produto criado era muitas vezes mais letal que o cianeto. O sarin é líquido em temperaturas inferiores a 150 graus . Em geral é dispersado por cartucho, foguete ou míssil, numa nuvem de gotículas finas o bastantes para serem aspiradas pela pessoa. Uma gota basta para matar em até dez minutos. Pode penetrar no organismo pelos olhos e pele. É inodoro , insípido e transparente: a primeira indicação de se uso é quando as vítimas começam a cair. O sarin bloqueia uma enzima que torna impossível "desligar " os nervos para controlar os músculos . A respiração se torna difícil e as vítimas sofrem convulsões .Os pulmões soltam fluidos e , quando as pessoas tentam respirar , soltam espuma pela boca, muitas vezes rosadas de sangue. ( F S P , 19.09.2013, Mundo2, p. 3) .
VX ( C11H26NO2PS). Paralisante , ataca a musculatura e pode provocar parada respiratória. É o agente nervoso mais mortal criado, pelo menos cem vezes mais tóxico que o sarin se infiltrado na pele e duas vezes mais tóxico quando inalado. Suspeita-se que Saddan Hussein o tenha usado contra o Irã e os curdos no norte do Iraque. ( F S P , 26.04.2013, p. A-14) .
O maior especialista britânico em armas químicas, Hamish de Bretton-Gordon , afirmou que há risco real de uso de armas químicas pelo regime de Bashar Assad. " O uso de bombas de fragmentação há algumas semanas pelo regime sírio elevou o risco.... Só não considero o risco iminente porque o presidente Obama e outros líderes alertaram que o uso de armas químicas cruzaria uma linha vermelha e levaria a uma intervenção da Otan. Isso serve de dissuasão , porque Assad sabe que seria o seu fim. Não acredito que ele usará armas químicas amanhã, mas se as coisas continuarem como estão, pode ser uma questão de meses ou até semanas."
Segundo ele o arsenal químico e biológico sírio "É enorme. É muito difícil dizer o tamanho com precisão . Há cerca de 52 depósitos no país . Em termos de armas biológicas , são centenas de quilos de antraz. Um quilo de antraz é capaz de matar cerca de dez milhões de pessoas. Seu arsenal de agentes nervosos tem sarin, tabun e provavelmente também VX, um gás ainda mais tóxico. É um estoque maior do que o de Saddam , com potencial para matar milhares de pessoas na Síria e em outros países. ( F S P , 6.12.2012, p. A-14) .
A Inteligência militar israelense afirmou em 23 de abril de 2013 que o regime sírio usou repetidamente armas químicas letais contra as forças rebeldes. A arma química usada seria baseada em gás sarin, cujo efeito inclui a paralisia, a perda de consciência e a interrupção na respiração . A declaração foi feita por Itai Brun , comandante da divisão de pesquisa militar, em conferência do Instituto Nacional de Estudos de Segurança e segundo ele, a conclusão baseia-se em imagens das áreas afetadas, incluindo o registro fotográfico de insurgentes sírios "espumando pela boca".
Os casos são inúmeros
19 de março de 2013 - Khan al-Assal e Al-Otaybeh.
O governo atribui o ataque a "terroristas" O Observatório Sírio de Direitos Humanos afirma que são 26 vítimas.
24 de março de 2013 - Adfra
Opositores locais informaram sobre o ataque com uso de "fósforo químico".
13 de abril de 2013 - Sheik Maqsoud
Opositores dizem que duas mulheres e duas crianças morreram envenenadas por gases lançados por aviões.
29 de abril de 2013 - Saraqeb;
Ativistas locais filmaram um possível ataque. Oito pessoas foram afetadas e uma morreu. ( F S P, 23.08.2013, p. A-17).
Israel estima que a Síria tenha mais de mil toneladas de armas químicas, além de milhares de bombas aéreas e mísseis que podem ser carregados com o estoque . Seria um dos maiores arsenais químicos do globo, que estaria distribuído em 17 ou 18 localizações pelo país .
Os EUA receberam com ceticismo as declarações israelenses , dizendo ser necessário confirmar se as armas químicas utilizadas são de fato letais. ( F S P , 24.04.2013, p. A-14) .
Porém, em 25 de abril de 2012, o secretário de Defesa dos EUA, Chuck Hagel, disse que o serviço de inteligência americano tem indícios do uso de gás sarin pelo governo sírio, contra os rebeldes.
Ele afirmou em viagem aos Emirados Árabes Unidos " A inteligência americana avalia com graus variados de confiança que o regime sírio usou armas químicas em pequena escala na Síria, especificamente o agente químico sarin. A comunidade de Inteligência tem coletado informações nesse tema por algum tempo e a decisão de chegar a uma conclusão foi feita nas ultimas 24 horas. Isso viola todas as condições de guerra".
Ele disse todavia que esperava provas " mais conclusivas" sobre o uso, a origem e a escala antes de tomar providências.
Em agosto de 2012, o presidente Barak Obama disse que o uso de armas químicas contra a população civil seria uma "linha vermelha" que ele não permitiria que o regime do ditador Bashar Assad ultrapassasse. "Mudaria o jogo", ameaçou. Em 26 de abril , Obama voltou a avisar que se o uso dessa arma , se confirmado : " Isso é algo que mudará o jogo. Temos de agir de forma prudente. Mas não podemos ficar parados e permitir o uso sistemático de armas químicas contra civis". ( F S P , 27.04.2013, p. A-20) .
Um assessor da Casa Branca citou os erros de inteligência sobre a existência de armas de destruição em massa no Iraque , como razão para ter cautela com as informações sobre a Síria.
"Continuamos a trabalhar para estabelecer um julgamento definitivo de o sinal vermelho foi ultrapassado para decidir o que temos a fazer depois. Se alcançarmos uma determinação definitiva de que o sinal foi ultrapassado, o que faremos é consultar nossos aliados e amigos e a comunidade internacional , além da oposição síria, para determinar o que é a melhor atitude para tomar".
Já o senador republicano John McCain, derrotado por Obama à Presidência em 2008, disse que o presidente " não fez nada por dois anos, permitindo um massacre na Síria. Estou decepcionado, mas não me surpreende o uso de armas químicas". Segundo ele , os EUA precisam fornecer armas para a oposição, estabelecer uma área protegida para os rebeldes e decretar uma zona de interdição do espaço aéreo . McCain mandoi uma carta para Obama, pedindo uma resposta "pública".
O professor emérito da Universidade Hebraica, Moshe Maaoz, afirmou:" Não me surpreende. Bashar está lutando por sua vida. A questão é o que os EUA vão fazer. Eles não querem intervir". ( F S P , 26.04.2013, p. A-14) . Por sua vez o vice ministro de Relações Exteriores de Israel , Zeev Elkin , disse que os EUA não tem outra opção a não ser recorrer a uma ação militar.
O primeiro-ministro do Reino Unido , David Cameron , disse em 26 de abril que os erros da Guerra do Iraque não podem levar a comunidade internacional a cruzar os braços diante dos indícios de que o governo sírio estaria usando armas químicas contra civis. Ele chamou a prática de "crime de guerra", depois que o jornal britânico "The Times" publicou fotos de supostas vítimas de ataques com gás sarin em Aleppo, a cidade mais populosa da Síria.
"Eu me preocupo com isso . Acho que essa lição [ do Iraque] foi aprendida. Mas é muito importante que os líderes desta geração vejam o que está acontecendo na Síria, e que nos perguntemos o que mais fazer.Escolho as palavras com cautela, mas o que vejo se parece muito com um crime de guerra quando cometido no nosso mundo neste momento, pelo governo sírio".
Cameron todavia , disse que não planeja enviar tropas britânicas ao país "Não quero ver isso. E não acho que é provável que aconteça". ( F S P , 27.04.2013, p. A-20) .
Obama em entrevista dada em 30 de abril afirmou que não tomaria decisões "apressadas" sobre o que fazer diante dos indícios de que houve uso de armas químicas contra civis na Síria:" Não sabemos como essas armas foram usadas, quando e nem quem as usou ". Mas não descartou uma ação militar caso fique comprovado o uso pelo ditador Bashar Assad. ( F S P , 1.5.2013, p. A-27).
Carla Del Ponte, ex-procuradora de crimes de guerra e integrante da Comissão Internacional Independente de Inquérito sobre a Síria, ligada à ONU, , afirmou à TV suiça RSI, que " de acordo com testemunhos reunidos, os rebeldes usaram armas químicas". Ela disse que as provas não eram irrefutáveis, mas existiam " suspeitas concretas de que gás sarin foi usado [...] não pelas autoridades governamentais". Em 6 de maio a Comissão divulgou nota esclarecendo não ter chegado a uma conclusão a respeito do uso dessas armas na Síria . O Exército Livre da Síria , ligado á Insurgência, afirma não ter usado tal arsenal e classificou o anúncio de Del Ponte como uma "grande injustiça" e " provocação". A Casa Branca por sua vez afirmou em 6 de maio que é pouco provável que a oposição esteja por trás do uso de armas químicas. ( F S P , 7.5.2013, p. A-10) .
Israel realizou em 4 e 5 de maio de 2013 ataques aéreos na Síria a um complexo militar em Jamraya, para destruir carga de mísseis iranianos de longo alcance, como o Fateh-110, que pode alcançar 300 km e mísseis que estavam em um depósito do Aeroporto Internacional de Damasco e que iriam para o grupo Hizbollah no Líbano . Eyal Zisser , o mais renomado especialista israelense em Síria que afirma que os ataques romperam uma regra não escrita que diz que Israel tem o direito de monitorar o trânsito de armas iranianas pela Síria, mas não o de atacar território sírio. Para justificar a ação o chefe da inteligência militar israelense , Itay Baron , afirma que as mil toneladas de armas químicas que ele diz a Síria possui, acabarão caindo nas mãos do Hizbollah ou de outros grupos radicais . ( F S P , 7.5.2013, p. A-14) .
TURQUIA ACUSA SÍRIA DE USO DE ARMAS QUÍMICAS.
O governo turco enviou especialistas á fronteira com a Síria para fazer exames em vítimas feridas na guerra civil, em busca de vestígios do uso de armas químicas e biológicas.
Exames em vítimas da Síria que chegaram à Turquia indicaram que armas químicas foram usadas pelas forças do ditador Bashar al-Assad , segundo o ministro das Relações Exteriores turco, Ahmef Davutoglu:"Estamos fazendo testes e temos algumas indicações que armas químicas foram usadas, mas , para ter certeza, continuamos com esses testes e vamos compartilhar os testes com as agências da ONU". ( F S P , 11.05.2013, p. A-21) .
DITADOR SÍRIO NEGA USO DE ARMAS QUÍMICAS
Em entrevista ao jornalista Marcelo Cantelmini de o "Clarin", o ditador sírio Bashar al-Assad negou o uso de armas químicas. "O uso de armas químicas em áreas residenciais significaria matar milhares ou dezenas de milhares de pessoas em questão de minutos. Quem poderia esconder uma coisa dessas? É provável que a questão seja usada como um prelúdio para uma guerra contra a Síria. Não esquecemos o que aconteceu no Iraque. Onde estavam as armas de destruição em massa de Saddam Hussein? Mas não podemos descartar sua possibilidade de travarem uma guerra. Israel já atacou semana passada. É bem provável que isto ocorra, especialmente depois de termos conseguido derrotar os grupos armados em muitas áreas da Síria. Esses países enviaram Israel como o intuito de fazer isso levantando a moral dos grupos terroristas . Espera-se que uma intervenção vá ocorrer em algum momento, embora talvez seja de uma natureza limitada". ( F S P , 19.05.2013, p. A-17) .
EUROPEUS AFIRMAM QUE SIRÍA USOU ARMAS QUÍMICAS
Segundo o chanceler francês Laurent Fabius, testes de laboratório com amostras de urina coletadas na Síria ,e trazidas por repórteres do "Le Monde" confirmaram que o gás sarin, foi usado "várias vezes" na Síria . Em pelo menos uma das ocasiões, num ataque de helicópteros, o autor foi o regime.
O Reino Unido também confirmou que "fluidos corporais" coletados de vítimas de ataques continham sarin.
Os países enviaram à ONU os resultados dos testes.
Em novo relatório divulgado em 4 de junho de 2013, a Comissão Internacional Independente de Inquérito da ONU, sobre a Síria, presidida pelo brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, cita quatro ataques entre março e abril , em, que teriam sido usadas "quantidades ilimitadas" de agentes químicos. "Há denúncias sobre o uso de armas químicas pelos dois lados, a maioria se refere ao seu uso pelo governo ." O texto afirma ainda que foram usadas pelo regime, armas termobáricas, usadas para destruir bunkers e com efeito altamente letal.
Em alusão á declaração do presidente americano Barak Obama de que o uso de armas químicas pela Síria seria uma "linha vermelha" que, se cruzada, levaria a uma "mudança no jogo", Paulo Sérgio Pinheiro declarou que "muitas linhas vermelhas já foram ultrapassadas no conflito. Quando se tem esse número de mortos e feridos , e há 19 milhões de pessoas vivendo sob as bombas, já foram cruzadas muitas linhas vermelhas". ( F S P , 5.6.2013, p. A-10) .
O presidente francês, François Hollande, disse em 5 de junho que as evidências do uso de armas químicas pelo governo da Síria, "obrigam a comunidade internacional a agir". Ele declarou que , "há elementos que nos permitem , agora, ter certeza do uso de armas químicas na Síria - a extensão do uso , ainda não sabemos ". Ele ainda afirmou que as ações de países estrangeiros devem ser feitas nos "limites da lei internacional". (F S P , 6.6.2013, p. A-15) .
EUA AFIRMAM QUE SÍRIA USOU ARMAS QUÍMICAS
O governo americano em comunicado assinado por Bem Rhodes, vice-conselheiro de Segurança Nacional, afirmou em 13 de junho que " a comunidade de inteligência confirmou que o gás sarin foi usado em pequena escala contra a oposição diversas vezes" e que cerca de " 100 a 150 pessoas morreram nesses ataques". ( F S P , 14.06.2013, p. A-12) . O governo americano já anunciou que "aumentará o volume e o alcance da assistência " à oposição síria.
A Rússia disse em 14 de junho não serem "convincentes " as evidências reveladas pelos EUA sobre o uso de armas químicas. ( F S P , 15.06.2013, p. A-16) .
ONU COMISSÃO DE INVESTIGAÇAO
A ONU anunciou em 31 de julho que vai enviar inspetores à Síria para investigar três incidentes em que poderiam ter sido usadas armas químicas. Um dos locais é a vila de Khan al-Assal, onde um ataque com arma químicas matou ao menos 30 pessoas em 19 de março,.
O anúncio foi feito após um "entendimento alcançado com o governo da Síria", durante visita de dois enviados da ONU a Damasco no final de julho. O grupo de inspetores será formado na Europa e viajará para a Síria no começo de agosto. ( F S P , 1.8.2013, p. A-16) .
Uma equipe de 20 inspetores da ONU chegou em Damasco no dia 18 de agosto, para fazer a investigação . ( F S P , 19.08.2013, p. A-16) .
NOVO ATAQUE QUIMICO EM 21 DE AGOSTO 2013
O grupo opositor sírio Observatório Sírio de Direitos Humanos acusou em 21 de agosto o governo de Bashar al-Assad de matar centenas de pessoas em um ataque químico a três cidade da periferia de Damasco: Ain Tarma, Zamalka e Jobar, com foguetes químicos antes do amanhecer do dia 21 de agosto.
O número de mortos foi calculado depois pelos EUA em 1,429, incluindo 426 crianças. Bayan Baker, enfermeira em Douma afirmou" Muitos são mulheres e crianças. Eles chegaram ao hospital com as pupilas dilatadas, lábios congelados e espumando. Os médicos dizem que são sintomas comuns em vítimas de ataques de gases que afetam o sistema nervoso".
O organização humanitária Médicos Sem Fronteiras disse em 24 de agosto que 355 pessoas morreram em hospitais de Damasco, após terem sido atendidas com "sintomas de neurointoxicação". Em três hospitais apoiados pela ONG, 3.600 pacientes deram entrada com sintomas como convulsão e desconforto respiratório em menos de três horas durante a manhã do dia 21.
As três localidades afetadas, próximas á capital síria tem vários bairros dominados por forças rebeldes. As áreas estavam sendo alvos de bombardeios convencionais e os moradores apavorados , buscavam abrigos em porões. Porém , os gases venenosos são mais pesados que o ar, se acomodam em lugares mais baixos e a presença de edifícios reduz a dissipação do ar e agrava os efeitos tóxicos. As crianças possuem sistema respiratório mais frágil que o dos adultos e por isso são mais afetadas. O gás sarin provoca contração das pupilas, salivação abundante e perda de controle dos músculos respiratórios , levando à morte, daí as cenas horripilantes de dezenas de corpos de meninos e meninas enfileirados, sem ferimento aparente. Quem socorreu as primeiras vítimas também sofreu os efeitos tóxicos.
Entre as possibilidades para justificar o ataque pelas forças sírias, cogitou-se que um armazém industrial, com elementos químicos, teria sido atingido pelos bombardeios e causado a tragédia . Também surgiu a tese de que o ataque foi uma reação de Assad diante do avanço de 300 combatentes rebeldes treinados pela CIA, na Jordânia. Também vicejaram suspeitas de que a ordem tivesse partido do irmão de Assad, o supostamente mais extremado Maher. Os rebeldes também tem plena capacidade de manusear armas químicas, muitos são desertores e foram treinados pelos mesmos comandantes que estão combatendo. O cientista político Greg Thielmann, da Associação de Controle e Armas, baseada em Washington afirma: "É terrível pensar que os rebeldes assassinaram os próprios simpatizantes, mas é difícil descartar essa possibilidade". ( Revista Veja, 28.08.2013, p, 86-88).
A Rússia, chamou o episódio de "provocação" e acusou os rebeldes de lançar um foguete com uma arma química para culpar o governo. Charles Lister, analista do Centro de Terrorismo e Insurgência do IHS Jane’s, afirmou "Faz pouco sentido que o regime sírio empregue esses agentes agora, em especial devido á proximidade dos monitores da ONU". ( F S P , 22.08.2013, p. A-15) .
Segundo a revista "Foreign Policy", no dia 21 de agosto , poucas horas após o ataque químico, um funcionário do Ministério da Defesa da Síria, em pânico, falou por telefone com o chefe de uma unidade de armas químicas do país, pedindo informações sobre um ataque com produtos que atacam o sistema nervoso . A conversa foi captada pelos serviços de inteligência dos EUA. ( F S P , 29.08.2013, p. A-14)
O Conselho de Segurança da ONU, em 21 de agosto exigiu que o governo de Assad permita a inspeção da área do suposto ataque. O chanceler francês , Laurent Fabius declarou "Teria de haver uma reação com força na Síria por parte da comunidade internacional". ( F S P, 23.08.2013, p. A-176).
Barak Obama declarou em 23 de agosto que o suposto ataque químico ‘é um evento para grande preocupação".
O chanceler britânico , William Hague, disse que o ataque foi feito pelas forças do ditador Bashar al-Assad porque as chances de a ofensiva ter sido obra da insurgência são "pequenas". ( F S P , 24.08.2013, Mundo 1, p. A22) .
As forças de Assa dizem ter encontrado artefatos químicos em túneis dominados por rebeldes em Damasco , no subúrbio de Jobar, uma das regiões atacadas.
A representante da ONU para o desarmamento, Angela Kane, chegou a Damasco em 24 de agosto e vai pedir ao governo sírio, autorização para que 20 especialistas inspecionem as áreas.
O governo sírio autorizou em 25 de agosto que inspetores da ONU visitem áreas no subúrbio de Damasco onde teria havido o ataque com armas químicas.
O chanceler britânico William Hague questionou a eficácia da investigação:"Grande parte das provas pode ter sido destruída em bombardeio. Outras evidências podem ter se degradado ao longo dos dias ou ter sido adulteradas". Para ele, tudo indica que o governo sírio usou armas químicas. Um funcionário americano classificou a autorização como "tardia demais para ser crível" e disse que há "pouca dúvida", de que o regime sírio fez o ataque.( F S P , 26.08.2013, p. A-10) .
Hassan Rowhani presidente do Irã, reconheceu pela primeira vez os ataques e condenou o ocorrido, sem apontar a autoria.
Obama , segundo a Casa Branca, vai decidir como agir, apenas quando os fatos forem claros. A marinha americana tem quatro navios de guerra posicionados no Mediterrâneo com mísseis Tomahawk, tipo dos que foram lançados contra a Líbia em 2011, em ação pela derrubada do ditador Muammar Gaddafi. ( F S P , 25.08.2013, p. A-18) .
O ministro sírio da informação, Omran Zubi, disse que um ataque americano "teria graves consequências e seria uma bola de fogo que faria arder todo o Oriente Médio".
O Ministério das Relações Exteriores russo disse que os EUA, "não devem repetir os erros do passado" em referência Á intervenção americana no Iraque em 2003. Para Moscou, uma ação "afetará da forma mais devastadora a situação já explosiva no Oriente Médio". ( F S P , 26.08.2013, p. A-10) .
O secretário de Estado americano John Kerry, disse em 26 de agosto que o governo americano não tem mais dúvidas de que o regime de Bashar al-Assad usou armas químicas no conflito.
"O regime de Assad terá que prestar contas sobre o que fez" . E disse que o presidente Barak Obama avalia como irá responder ao "uso indiscriminado" dessas armas. " O que vimos lá na semana passada deveria chocar a consciência do mundo. O massacre indiscriminado de civis com armas químicas é uma obscenidade moral".
EUA e Inglaterra avaliam levar adiante uma possível intervenção militar na Síria, mesmo sem o consenso do Conselho de Segurança das Nações Unidas, devido à oposição da Rússia.
Assad disse que é ilógico acusar o seu regime de estar por trás do ataque químico:É um ultraje ao sendo comum". Insistiu ainda que uma intervenção militar americana seria um fracasso, "assim como todas as guerras que eles travaram , do Vietnã, até os dias de hoje". ( F S P , 27.08.2013 p. A-13) .
O governo dos EUA disse em 30 de agosto que descobriu o horário e o local de onde partiram os ataques, em áreas sob controle do regime.Apenas destinos mantidos pela oposição teriam sido atingidos. ( F S P , 31.08.2013, Mundo 1, p. A-14).
O Ministério sírio das Relações Exteriores disse que" o que o governo americano classificou de provas irrefutáveis(...) são apenas antigas histórias difundidas pelos terroristas, há mais de uma semana , com tudo o que elas comportam de mentiras, de fabricações e de histórias inventadas". O Ministério se mostrou "surpreso", pelo fato de "uma superpotência enganar sua opinião pública desta forma tão ingênua e baseando-se em provas que não existem". ( F S P , 31.08.2013, Mundo 1, p. A-16).
EUA PRONTOS PARA ATAQUE Á SÍRIA
O governo americano anunciou em 27 de agosto de 2013 que está pronto para uma ação militar contra a Síria, mas que o objetivo não é derrubar o ditador Bashar al-Assad, e sim "mostrar que o uso de armas químicas é inaceitável e viola as normas internacionais, segundo o secretário de imprensa da Casa Branca, Jay Carney.
Os EUA estão inclinados a fazer uma operação "limitada", de poucos dias e que teria como alvo instalações militares de onde saíram os ataques com armas químicas . Há uma lista de 50 lugares com helicópteros e artilharia produzidos na Rússia .Seria arriscado atacar depósitos de armas químicas, sendo melhor atingir os locais de onde elas são lançadas. A eventual operação militar pode ter a participação do Reino Unido, França e Itália . ( F S P , 28.08.2013, p. A-11) .
Há problemas para a ação militar. Qual a base legal para a mesma? A Inglaterra menciona " o grande sofrimento e carência humana". Os EUA, o "direito de proteger civis", como quando a Otan bombardeou a Sérvia em 1999 e a necessidade de impedir violações das convenções internacionais que proíbem o uso de armas químicas .
As Nações Unidas aprovaram em 2005 uma norma chamada de R2P, "Responsabilidade de Proteger" que estabelece que, se um dado governo não quer ou não consegue proteger seus cidadãos, a ONU tem então, o direito e a responsabilidade de protegê-los, mas para isso é preciso uma autorização do Conselho de Segurança da ONU, o que no caso da Síria é impossível face à oposição da Rússia. ( F S P , 29.08.2013, p. A-16)
EUA e seus aliados ainda não deram detalhes das informações de inteligência que os levaram a uma conclusão de que o regime de Assad foi o responsável pelos ataques. Outra questão é a extensão da ação militar e seus efeitos sobre a continuidade do regime. E finalmente os riscos de um ataque deste tipo pois o regime sírio recebe ajuda de assessores russos e iranianos e do grupo xiita libanês Hizbullah, além da possibilidade de haver uma fuga em massa de civis para a Turquia e a Jordânia, que já não conseguem dar conta dos sírios em seu território ( 400 mil e 500 mil respectivamente) . ( F S P , 28.08.2013, p. A-12) .
O secretário de Estado dos EUA, John Kerry disse que o ataque à Síria tem por objetivo preservar a "credibilidade americana", junto a regimes como Irã e Coréia do Norte. "Isso importa além das fronteiras da Síria. É sobre se o Irã se sentirá confiante, na ausência de ação, para obter armas nucleares. É sobre Hizbullah, Coréia do Norte e todos os grupos terroristas ou ditadores que podem contemplar o uso de armas de destruição em massa".
OS RISCOS DE UM ATAQUE
Obama disse que a decisão do ataque ainda não foi tomada e que a ação planejada será limitada e não envolve tropas terrestres, não haverá "botas no solo". ( F S P , 31.08.2013, Mundo 1, p. A-14).
Depois do Iraque e do Afeganistão, os EUA não tem mais como entrar em um novo "atoleiro". A expectativa é que , com a ajuda ocidental, os rebeldes fariam o resto sozinhos . Mas , ao contrário do que ocorreu na Líbia, as forças armadas sírias são bem maiores, mais bem armadas e mais competentes, portanto a história na Síria vai ser diferente da que ocorreu na Líbia. Assad não é Khadafi.
Os EUA tem poder para destruir cirurgicamente a artilharia pesada e o poderio aéreo de Assad, Os cinco destróieres americanos que estão no Mar Mediterrâneo , tem cada um pelo menos 40 mísseis Tomahawk, que podem atingir alvos com precisão a mais de 1.600 quilômetros, sem expor os navios e os tripulantes e sem o envio de soldados ao território sírio.
Mas , os mísseis americanos podem acertar fábricas ou estoques de armas químicas, liberando grande quantidade de gases tóxicos no ar, afetando a população civil que vive nos arredores.
Apesar da precisão dos mísseis, capazes de acertar um carro com margem de erro de apenas 10 metros, como em qualquer bombardeio, há o risco de um ataque causar a morte de civis. O regime sírio, mestre em explorar a ideia de um inimigo externo diabólico, vai usar cada imagem de sírio morto para provar que os EUA estão promovendo um ataque ilegítimo e isso pode incendiar o Oriente Médio cheio de militantes islâmicos radicais .
O regime sírio pode intensificar o uso de armas químicas contra a própria população, desafiando os EUA, obrigando Obama a se envolver mais profundamente no conflito..
O enfraquecimento de Assad pode fazer com que armas químicas caiam nas mãos de terroristas que estão entre as facções rebeldes.
Portanto , o risco de uma ação militar americana de tornar as coisas piores do que estão é muito grande. ( Revista Veja, 4.9.2013, p. 78-82) ,
O vice-ministro da China, Zhu Guangyao , em 5 de setembro afirmou que a economia mundial deve perder em torno de 0,25% de crescimento no caso do preço do petróleo subir US$ 10 , caso haja um ataque americano à Siria. Algo em torno de US$ 150 bilhões . ( F S P , 6.9.2013, p. A-20).
O colunista Amy Goodman pergunta " Porque deveriam os EUA arriscar matar civis sírios inocentes para punir o regime sírio por matar civis sírios?". ( F S P, 9.9. 2013, p. A-10) .
Assad , membro da minoria religiosa alauita dos cristãos e drusos , tem o apoio externo dos xiitas do Irã e dos libaneses do Hezbollah .
Os rebeldes são de maioria sunita, com forte influência da Irmandade Muçulmana e tem o apoio dos terroristas da Al Qaeda e de extremistas salafistas , e recebem armas do Catar e da Arábia Saudita.
Portanto os riscos de extensão do conflito com um ataque americano são inúmeros. O Hezbollah se sentiria incentivado a retaliar Israel .O Irã se esforçaria ainda mais para desestabiizar o Iraque. A Al Qaeda encontraria mais motivo para atentados no mundo todo e por incrível que possa parecer, a ação americana poderia beneficiar os terroristas da Al Qaeda.
REINO UNIDO PEDE Á ONU AÇÃO CONTRA A SÍRIA
O Reino Unido pediu em 28 de agosto o aval do Conselho de Segurança da ONU para uma intervenção militar na Síria, uma proposta de resolução que "autoriza as medidas necessárias para proteger civis", o que daria respaldo para um ataque aéreo. Os cinco membros permanentes do Conselho, saíram do encontro sem votar o texto, adiamento solicitado pela Rússia, alegando estar aguardando o relatório final dos inspetores da ONU na Síria. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, também quer mais quatro dias para que o relatório seja concluído.
O Parlamento britânico rejeitou, por 285 votos a 272, em 29 de agosto a proposta do primeiro-ministro David Cameron para que o Reino Unido participasse de uma ação militar na Síria . Cameron disse que vai aceitar o resultado e que não vai usar a chamada prerrogativa real, que permitiria a ação sem o aval dos parlamentares. É a primeira vez que o Parlamento rejeita uma proposta de ação militar em 50 anos.( F S P , 30.08.2013, p. A-13 .
O secretário-geral da OTAN, Anders Fogh Rasmusssen, responsabilizou Assad pelo uso de armas químicas e disse que o ataque a civis é "inaceitável e não pode ficar sem resposta".
A Unasul condenou "intervenções externas que sejam incompatíveis com a Carta das Nações Unidas". ( F S P , 31.08.2013, Mundo 1, p. A-16).
ISRAEL AUMENTA A PROTEÇÃO
Israel , pela primeira vez em quarenta anos , mobiliza tanques na fronteira com a Síria e aumentou o número de patrulhas na fronteira, bem como ampliou a área de observação . ( F S P , 30.08.2013, p. A-14) .
As Forças de Defesa de Israel reposicionaram em 30 de agosto , o sistema Domo de Ferro, de interceptação de mísseis. Das cinco baterias , três foram posicionadas no norte do país, próximas das fronteiras com a Síria e o Líbano, de onde podem vir ataques do regime de Assad ou do Hizbullah.
O sistema , colocado em operação em 2011, é de alta precisão no abate de mísseis , com alcance máximo de 70 quilômetros. ( F S P , 31.08.2013, Mundo 1, p. A-16).
OBAMA DECIDE CONSULTAR CONGRESSO
O presidente dos EUA , Barak Obama afirmou em 31 de agosto que pretende realizar uma intervenção militar contra o regime sírio em resposta ao ataque de armas químicas ocorrido em Damasco no dia 21 de agosto, mas que vai pedir o aval do Congresso para a ação.
O Congresso americano volta do recesso no dia nove de agosto.
Após a Guerra do Vietnã, o congresso americano aprovou uma resolução que obriga o presidente a obter autorização para intervenções militares superiores a dois meses, mas na prática a maioria considera tal cláusula inconstitucional.
Obama , repetiu que a ação não levará tropas terrestres e terá foco e duração restritos e acusou a Conselho de Segurança da ONU de "paralisia", devido ao fato da Rússia, aliada do regime de Assad, impedir qualquer retaliação ao regime com seu poder de veto.
Os inspetores da ONU saíram um dia antes do previsto e três locais que a equipe pretendia visitar , não foram vistoriados. O relatório deverá demorar duas semanas, mas os EUA consideram já ter provas suficientes para incriminar Assad sobre os ataques.
Obama declarou" Uma atrocidade cometida com armas químicas não deve ser simplesmente investigada. Tem que ser combatida... Que mensagem vamos deixar se um ditador pode intoxicar centenas de crianças impunemente?".
Aliados internacionais elogiaram a decisão de Obama de pedir autorização do Congresso. Já o Exército Livre da Síria disse que a demora em agir irá prejudicar as posições rebeldes. Eles esperam que bases aéreas do exército Sírio sejam danificadas, impedindo a decolagem dos caças.
A Coalizão Nacional Síria por seu porta-voz, Louay Safi afirmou" A matança vai continuar na Síria , devido ao fracasso da liderança americana".
Em Israel a notícia foi recebida com alívio , pois o país teme o alastramento do conflito.
Já Vladimir Putin disse que não acredita que o regime sírio tenha realizado os ataques, porque " não faria sentido" e cobrou dos EUA que apresentem provas do ataque e disse que , como Nobel da Paz, Obama deveria pensar nas possíveis vítimas que qualquer intervenção estrangeira poderia causar. ( F S P , 1.9.2013, p. A-18) .
Obama recebeu em 3 de setembro o apoio da Comissão de Relações Exteriores do Senado, que se reuniu com a presença dos secretários John Kerry ( Estado) e Chuck Hagel ( Defesa) , além do chefe militar dos EUA, general Martin Dempsey . Kerry afirmou " O presidente Obama não está pedindo para irmos à guerra. Está pedindo autorização para diminuir e impedir a capacidade de Assad de usar armas químicas". Com o apoio dos republicanos que tem maioria na Câmara dos Representantes , a aprovação do ataque é quase certa., ( F S P , 4.9.2013, p. A-12) .
Em votação apertada, 10 votos a 7, a Comissão autorizou em 4 de setembro o uso da força contra o governo da Síria, em intervenção limitada a 60 dias, prorrogáveis por mais 30 e sem o apoio de tropas terrestres. A oposição republicana deu três votos de peso, incluindo o do senador John McCain. Dois "não", vieram de senadores democratas. ( F S P , 5.9.2013, p. A-10).
EUA DIZEM TER PROVAS
O governo americano afirmou em 1 de setembro de 2013 que "amostras de sangue e cabelo fornecidas pelos socorristas registram sinais positivos do sarin", anunciou o secretário de Estado John Kerry. As amostras não são fruto do levantamento dos inspetores da ONU.( F S P , 2.9.2013, p. A-10) .
A França divulgou em 2 de setembro um dossiê em que acusa o governo sírio de usar armas químicas em massa. Baseado em vídeos e "fontes", o documento afirma que ao menos 281 pessoas morreram por uso de armas químicas - como os gases sarin e mostarda, no dia 21 de agosto nos arredores de Damasco, bem abaixo das 1.429 supostas mortes divulgadas pelos EUA.Parlamentares franceses querem discutir o assunto, mas Hollande sinalizou que poderia autorizar a ação militar sem a aprovação do Parlamento. ( F S P , 3.9.2013, p. A-20) .
Para o diplomata de carreira Thomas Shannon, embaixador americano no Brasil de 2010 a 2013 e indicado para o cargo de conselheiro especial do secretário de Estado John Kerry, " A Síria me lembra a Guerra Civil Espanhola (1936-1939(, que atraiu alemães, soviéticos, italianos e brigadas internacionais . O resultado foi uma brutalidade total e, depois , uma ditadura. Um dos objetivos dos Estados Unidos na Síria foi negociar o fim da guerra . Infelizmente o governo sírio não estava disposto a isso. O recente ataque com armas químicos criou uma situação em que a capacidade de negociação vai desaparecer . Agora a entrada de grupos externos no conflito enfrentará pouca resistência. Isso é muito preocupante". . ( Revista Veja, 11.09.2013, p. 15-19) .
Conforme a crítica de João Pereira Coutinho, "Estabelecer "linhas vermelhas " em política internacional é sempre uma tentação para que alguém se atreva a cruzá-las" e ninguém estabelece ‘linhas vermelhas’ se não sabe antecipadamente o que irá fazer se elas forem violadas. Obama , manifestamente não sabe".
No caso da Síria o ataque americano assume especial gravidade pelo fato de que "isso pode significar entregar o poder de Damasco aos exatos jihadistas que os Estados Unidos passaram a primeira metade do século 21 a combater". Ele conclui. " Os Estados Unidos não tem um presidente; tem uma barata tonta que fala demais e depois espera por um milagre. Faça o que fazer no conflito as Síria, Barack Obama já perdeu". ( F S P , 10.09.2013, p. E-8) .
REINO UNIDO DIZ TER PROVAS
O premiê David Cameron disse em 5 de setembro que o Reino Unido tem provas do uso de gás sarin nos ataques. Segundo ele, cientistas do centro de laboratórios Porton Down identificaram o componente químico em roupas e em amostras do solo nos arredores de Damasco, onde houve o ataque no dia 21 de agosto.( F S P , 6.9.2013, p. A-20).
ASSAD ESTÁ PREPARADO
O ditador sírio , Bashar al-Assad afirmou em 01 de setembro que seu país "é capaz de fazer frente a qualquer agressão estrangeira, assim como tem feito com a agressão interna". Ele disse que as "ameaças dos EUA, não farão Damasco abandonar seus princípios e a luta contra o terrorismo".
Em entrevista concedida em Damasco em 8 de setembro ao jornalista Charlie Rose da CBS Assad negou envolvimento com o ataque e sequer reconheceu a ocorrência de um bombardeio com gás.( F S P, 9.9. 2013, p. A-10) .
Alaedin Boruyerdi, presidente da Comissão de Segurança Nacional e Política Externa no Parlamento iraniano disse que em caso de intervenção estrangeira no conflito sírio, " os grandes perdedores serão os Estados Unidos e seus agentes na região, sobretudo a entidade sionista". E que Teerã, "não admitirá complôs estrangeiros contra a resistência síria".
O premiê sírio , Wael Nader al-Halqi afirmou que o Exército do país está em "máxima prontidão e com os dedos no gatilho para fazer frente a todos os desafios". ( F S P , 2.9.2013, p. A-11) .
Bashar Jafari representante sírio na ONU , enviou uma carta ao secretário-geral Ban Ki-moon pedindo que impeça um ataque dos EUA contra a Síria . Segundo ele os EUA"precisam exercer seu papel de patrocinador da paz e de parceiro para preparar uma conferência internacional". O encontro está previsto há meses, mas nunca foi realizado.
Jafari também pediu ao Conselho de Segurança que "mantenha seu papel como válvula de segurança para prevenir o uso absurdo da força fora do que permite a legitimidade internacional". ( F S P , 3.9.2013, p. A-20) .
A Síria afirmou em 4 de setembro,ter tomado " todas as medidas" para revidar a ação militar americana esperada. "Não vamos mudar nossa posição, nem mesmo se houver uma Terceira Guerra Mundial" ameaçou o vice-chanceler Faisal al-Muqdad. Ele disse que Damasco poderá atacar alvos na Turquia, Israel e Jordânia, caso estes países participem de uma operação internacional contra a Síria. ( F S P , 5.9.2013, p. A-11).
ARGENTINOS APOIAM ASSAD
O grupo argentino Peronismo Militante, integrante da chamada Juventude Kirchnerista, ligado à presidente Cristina Kirchner, produziu um cartaz de apoio ao ditador Bashar al-Assad e a Muammar Gaddafi, ex-ditador líbio. Na pela está escrito:" Somos da gangue de Assad e de Gaddafi, somos os herdeiros de Evita e de Perón. Somos a Terceira Via". A Terceira Via é uma ideologia política que rechaça tanto capitalismo , quando comunismo.O Peronismo Militante foi criado em dezembro de 2003, logo após a posse de Néstor Kirchner. O grupo conta com 12 mil filiados e representações em 18 das 23 províncias do país . ( F S P , 3.9.2013, p. A-20) .
RUSSIA REJEITA ATAQUE
Vladimir Putin ameaçou em 4 de setembro , veladamente, armas os aliados sírios no futuro, se houve o ataque do Ocidente.
Se as potências ocidentais de fato atacarem a Síria, "nós deveríamos pensar como agir no futuro, em particular no que diz respeito ao fornecimento de armas sensíveis para certas regiões do mundo".
Ele rejeitou novamente as evidências até agora apresentadas pelos EUA e seus aliados sobre a autoria do ataque químico. Para ele, não passam de "rumores e conversas" Não bastam para que uma resposta seja aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU, no qual a Rússia tem poder de veto.
Para ele é necessário "uma prova profunda e específica, contendo evidências que provém além de qualquer dúvida quem o fez e que meios foram utilizados". Ele lembrou que os EUA invadiram o Iraque a partir de uma informação falsa de que Saddam Hussein tinha armas de destruição em massa . "Esqueceram-se disso", perguntou.( F S P , 5.9.2013, p. A-10).
Ele tem um argumento poderoso. Se Assad cair, o caminho para o poder e para o arsenal químico do país ficará livre para os terroristas islâmicos. O próprio Secretário de Estado americano John Kerry admitiu que os extremistas representam entre 15% e 25% das forças anti-Assad ( Revista Veja, 11.09.2013, p. 65) .
G 20 APOIO LIMITADO
O presidente Barak Obama no encerramento da reunião do G20 em São Petersburgo na Rússia, conseguiu o apoio de apenas quatro países para um ataque á Síria sem a chancela de uma resolução da ONU: Canadá, Arábia Saudita, Turquia e Reino Unido. No caso do Reino Unido o Parlamento votou contra a ação militar,
A França ,sob pressão do Parlamento e da opinião pública, vai esperar até a divulgação dos resultados do relatório da comissão da ONU sobre o uso de armas químicas que só deve sair no sinal de setembro.
Putin disse que a intervenção militar seria contraproducente e perturbaria a economia mundial. Ele citou que a maioria dos países é contrária a uma ação sem o aval do Conselho de Segurança da ONU, no qual a Rússia tem poder de veto. ( F S P , 7.9.2013, Mundo 1, p A-22) .
UNIÃO EUROPEIA APOIA ATAQUE
Os ministros das Relações Exteriores da União Europeia fizeram em 7 de setembro a maior condenação do bloco á Síria, desde o ataque químico de 21 de agosto.
Reunidos em Vilna, capital da Lituânia, os chanceleres repetiram que o regime sírio é culpado porque " é o único que possui agentes químicos e meios de transportá-los em quantidade suficiente", segundo a chefe da diplomacia europeia Catherine Ashton.
"Diante deste cínico uso de armas químicas , a comunidade internacional não pode ficar inerte. Uma resposta clara e forte é crucial para esclarecer que crimes como esse são inaceitáveis e que não haverá impunidade".
Presente ao encontro europeu, o secretário de Estado americano John Kerry disse que os EUA" decidiram não esperar" pela ONU
Também no dia 7 , o Conselho de Cooperação do Golfo, liderado pela Arábia Saudita, fez um apelo à comunidade internacional pela intervenção imediata na Síria para "libertar" o povo da "tirania" do regime. ( F S P , 8.9.2013, p. A-24) .
INTERESSE EM ATINGIR IRÃ E O HIZBULLAH
Para o escritor e cineasta paquistanês, Tariq Ali, 69 , "Os EUA estão determinados a ir à guerra para tentar mudar o governo . Os principais aliados deles na região - Israel, Arábia Saudita , Qatar e Turquia, estão pedindo uma intervenção há 18 meses. Os EUA vão agir para que a guerra civil seja ganha pelos seus aliados, derrubando o regime. A guerra tem três objetivos: o Irã, destruir um regime que tem ajudado o Hizbullah e colocar no poder na Síria , a Irmandade Muçulmana. Com isso, mudar o balanço do poder na região , afastando o poder do Irã... Os americanos lutaram com a Al Qaeda contra os russos no Afeganistão e usaram-na para derrotar Milosevic na Bósnia . Agora a estão usando novamente para derrotar o governo secular na Síria . Se Obama bombardear a Síria e remover Assad do poder, haverá guerra e instabilidade naquela região por mais dez anos. Quem se beneficiará disso? O povo é que não. ( F S P , 7.9.2013, Mundo 2, p 2) .
PROPOSTA RUSSA: ENTREGA DO ESTOQUE DE ARMAS QUÍMICAS
Conforme destaca o jornalista Janio de Freitas, a proposta da Rússia " de que a Síria submeta à vigilância internacional o seu estoque de armas químicas é a primeira ideia inteligente para o problema sírio. A solução política que esvazie e ansiedade bélica de Estados Unidos e França... Também por seu russa, no entanto, a ideia tende a encontrar na Síria de Assad a receptividade que lhe faltaria se proveniente de potência ocidental . Seria interessante ver a inteligência prevalecer, por uma vez, sobre a sanha de bombardear, arrasar, matar". ( F S P , 10.09.2013, p. A-6) .
A proposta de que as armas químicas fossem postas sob responsabilidade da comunidade internacional foi feira por Putin a Obama no fim da cúpula do G-20 em São Petersburgo e Obama respondeu que a proposta poderia ser discutida.
Barak Obama, em 9 de setembro, concordou com a proposta russa e afirmou que não será executada a ação militar, caso o regime de Bashar al-Assad entregue suas armas químicas para a comunidade internacional. O secretário de Estado americano John Kerry, em Londres confirmou que se a Assad entregar suas armas químicas dentro de uma semana à comunidade internacional, os EUA não mais atacarão a Síria, como previsto. Ele declarou no Senado que a Síria tem aproximadamente mil toneladas de diversos agentes químicos como enxofre, gás mostarda e sarin.
O chanceler russo, Sergei Lavrov, declarou que a Rússia pediria aos sírios que coloquem o seu arsenal sob controle internacional. A afirmação foi dada ao lado do ministro das Relações Exteriores da Síria, Walid al-Moualem, que elogiou a declaração russa:"A República Árabe Síria recebe bem a iniciativa russa, motivada pelas preocupações com as vidas dos nossos cidadãos e com a segurança do nosso país, e também pela nossa confiança na sabedoria da liderança russa". ( F S P , 10.09.2013, p. A-10) .
Há um impasse sobre a questão porque a França encaminhou proposta de entrega das armas químicas pela Síria ao Conselho de Segurança da ONU, mas que prevê ação militar em caso de descumprimento e a Rússia não concorda com essa possibilidade. ( F S P , 11.09.2013, p. A-14) .
A Rússia apresentou aos EUA em 11 de setembro seu plano que consiste em identificar e destruir o arsenal químico sírio. O ministro sírio das Relações Exteriores, com,prometeu-se a aceitar o plano e a assinar a Convenção Internacional para a Proibição de Armas Químicas. Evidentemente diante da iminência do ataque americano, o governo sírio optou por entregar os anéis para não perder os dedos.
O plano tem quatro itens:
1. Síria assina a convenção que proíbe o uso de armas químicas
2. Sírios revelam sua produção e os lugares de armazenamento.
3. O governo de Bashar a-Assad autoriza a entrada de inspetores.
4. Síria e inspetores decidem como e por quem as armas serão destruídas .
Há muitas dúvidas a respeito. Qual é o prazo de destruição das armas? Os inspetores terão livre acesso aos estoques de armas em território sírio? O que garante que os sírios respeitarão a convenção e destruirão as armas? O que acontece se Assad descumprir um ou mais pontos do tratado?
Em 11 de setembro a Câmara russa aprovou documento que diz que um ataque aéreo traria " mais destruição de infraestrutura vital e uma irreversível catástrofe humana".
John Kerry, secretário de Estado dos EUA e o ministro das Relações Exteriores russo , Sergei Lavrov, na Suiça, vão discutir detalhes da proposta russa. ( F S P , 12.09.2013, p. A-14) .
A Convenção sobre Armas Químicas foi assinada em 1993 e está em vigor desde 1997. Proíbe a produção, o armazenamento e o uso de armas químicas no mundo. Cerca de 189 países são signatários . Apenas sete países da ONU, não assinaram a convenção: Síria, Angola, Coréia do Norte, Egito, Israel , Mianmar e Sudão do Sul.
O ditador sírio Bashar al-Assad quer um mês , depois de assinar o tratado internacional que proíbe a produção e o armazenamento de armas químicas para fornecer informações sobre o seu arsenal, mas os EUA não aceitam esperar 30 dias, pois não confiam no ditador :" A palavra do regime, na nossa visão, simplesmente não é suficiente".
A ONU confirmou em 12 de setembro , que já recebeu documentos do regime sírio para aderir ao tratado. ( F S P, 13.09.2013, p. A-13) .
Em artigo publicado em 12 de setembro , no jornal "The New York Times", Vladimir Putin criticou os EUA pela defesa de uma intervenção militar na Síria e afirmou que um ataque ao país, desencadeará uma " nova onda de terrorismo" e poderá expandir o conflito para "muito além" das fronteiras sírias.
"Os fundadores da ONU entendiam que as decisões relativas à guerra e à paz só poderiam ser tomadas por consenso. Não queremos o mesmo destino da Liga das Nações. Isso é possível se países influentes ignorarem a ONU e empreenderem ações militares sem a autorização do Conselho de Segurança".
Putin afirmou que não está protegendo o regime de Assad, e sim " a lei internacional". Para ele, a guerra civil síria "não é uma batalha pela democracia, mas um conflito armado entre governo e oposição em um país multirreligioso". Ele apontou a presença de terroristas da Al Qaeda entre os insurgentes sírios , advertiu para o risco de mais civis morrerem e disse que a Rússia defende o diálogo desde o início do conflito.
Putin deu uma lição de diplomacia e apequenou Obama . Não é entretanto um democrata ,. Combate ferreamente a oposição e há apenas cinco anos mandou seus tanques entrarem na Geórgia , para resolver uma questão separatista. Obama está em baixa. ( Revista Veja, 18.09,2013, p, 82-83) .
Depois da irritação americana com o asilo a Edward Snowden, Putin surpreendeu e ultrapassou Obama como o líder mundial que controla a agenda da crise síria. Ofereceu uma alternativa consistente à proposta de ataque americano que poderia desestabilizar de vez a região e beneficiar terroristas da Al Qaeda. Conseguiu reafirmar os interesses da Rússia em uma região onde o país estava marginalizado desde o colapso da União Soviética , conseguiu uma sobrevida para o regime de Assad e caso as armas químicas sejam entregues, inviabilizou qualquer possibilidade de ataque militar comandado pelos americanos. ( F S P, 13.09.2013, p. A-14)
NEGOCIAÇÃO DE PAZ
Os governos de EUA e Rússia anunciaram em 13 de setembro a abertura de negociações para tentar acabar com a guerra civil na Síria.
Abriu-se um debate sobre uma conferência de paz na Síria , provavelmente a partir da próxima Assembleia Geral da ONU , em Nova York, no fim de setembro.
O secretário de Estado americano John Kerry, afirmou que EUA e Rússia estão "comprometidos com uma solução negociada", para o país árabe. Deixou claro que qualquer caminho para a paz, dependerá, para os EUA, de uma solução imediata em relação ao arsenal químico.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon afirmou que o relatório dos inspetores do órgão confirmará o uso de armas químicas em 21 de agosto. ( F S P , 14.09.2013, p. A-13) .
O regime de Bashar Al-Assad vai pedir um cessar-fogo durante as negociações. O vice-premiê sírio Qadri Jamil, declarou ao jornal "Guardian " em 19 de setembro:" Nem a armada , nem o regime são capazes de derrotar o outro lado. O equilíbrio de forças não vai mudar por um tempo". Para ele, o cessar-fogo seria mantido por observadores internacionais , desde que vindos de "países neutros ou amigáveis" Os rebeldes contudo , se negam a participar dos diálogos, a não ser que Assad renuncie à Presidência , o que não vai acontecer , pois seria aceitar a derrota com antecedência. ( F S P , 20.09.2013, p. A-17) .
CHINA DIALOGA COM A OPOSIÇÃO
Grupos de oposição ao regime sírio vieram a Pequim a convite do Instituto Popular Chinês de Assuntos Internacionais e se encontraram com representantes do governo chinês .
Fontes do governo indicaram que os grupos pertencem à "oposição não violenta".
A China é o maior parceiro comercial da Síria , com um comércio bilateral que somou US$ 2,4 bilhões em 2011. Pequim não concorda com uma intervenção militar na Síria, quer uma solução negociada e não quer que o regime seja derrubado por radicais islâmicos , pois teme a disseminação do extremismos em suas fronteiras . ( F S P , 14.09.2013, p. A-16) .
ACORDO RÚSSIA EUA
Os governos da Rússia e dos EUA, anunciaram em 14 de setembro em Genebra, que chegaram a um plano para que o regime de Bashar al-Assad entregue suas armas químicas.
EUA e Rússia dão à Síria uma semana ( até 21 de setembro), para enviar uma "listagem detalhada" das armas químicas. Achar que a Síria vai entregar uma listagem com todas as suas armas parece muita ingenuidade. O "Wall Street Journal" já noticiou que o exército sírio dispersou o arsenal químico por mais de 50 locais diferentes.
Inspetores devem estar na Síria em novembro, com acesso irrestrito e imediato aos locais de inspeção . Deverão terminar seu trabalho inicial em menos de um mês.
Todo estoque de armas químicas deve ser destruído até meados de 2014.
EUA e Rússia concordaram em usar resolução do Conselho de Segurança para exigir verificação e destruição do arsenal. A resolução baseou-se na cartilha da ONU que permite ataques militares.
O acordo foi uma vitória política da Rússia sobre os EUA, que vinham ameaçando atacar a Síria .Segundo , John Kerry, se o regime de Assad não cumprir o acordo, EUA e Rússia poderão buscar uma forma de sanção, incluindo até ação militar. ( F S P , 15.09.2013, p. A-19)
O plano foi saudado na Síria. O ministro da Reconciliação, Ali Haidar, disse " Saudamos o acordo, que permite evitar a guerra ao deixar sem argumentos quem queria desencadeá-la. É uma vitória para a Síria, graças aos nossos amigos russos".
Em Pequim , o chanceler da China, Wang Yi, disse que seu país também festejou o acordo.
Nabil al-Arabi, chefe da Liga Árabe, também saudou o acordo, afirmando que " abre caminho para uma solução política".
François Hollande, afirmou que as ameaças de ataque funcionaram e que o acordo é uma etapa importante, mas"não a meta". Defende a saída de Assad do poder para que se alcance a solução para a crise.
A Coalizão Nacional Siria , principal aliança opositora, pediu que o veto ao uso de armas químicas, seja estendido aos mísseis balísticos e à aviação, o que impediria que o regime continuasse a bombardear redutos rebeldes.
John Kerry, em Israel , disse que a destruição do arsenal químico , não exclui a possibilidade "real" de uso de força. O mundo não deve permitir que " palavras ocas", dominem as relações globais. ( F S P , 16.09.2013, p. A-8).
ONU CONFIRMA ATAQUE QUÍMICO
Em 41 páginas, o relatório da Comissão da ONU confirmou que armas químicas foram usadas em um ataque na Síria em 21 de agosto, na região de Ghouta, nos arredores de Damasco.
Os inspetores da ONU, relataram provas do gás sarin, mas não apontam os responsáveis por disseminá-lo.,
A conclusão foi baseada em exames de sangue, urina e fios de cabelos de 34 vítimas, análises de amostras do meio ambiente e entrevistas com médicos que relatáramos sintomas de perda de consciência ( 78%), convulsões ( 19%), irritação nos olhos, visão turva ( 42%), vômitos ( 22%) e excesso de saliva, sintomas causados pelo sarin que ataca o sistema nervoso, mas é incolor e inodoro.
Foram descobertos foguetes que disparam o gás, e variantes da artilharia soviética M14.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, chamou o uso das armas de "crime de guerra" e afirmou que esse foi o maior ataque de arma química desde 1988, quando o ex-presidente do Iraque, Saddam Hussein , usou seu arsenal em Halabja , no Iraque, ( F S P , 17.-09.2013, p. A-11) .
RÚSSIA ACUSA REBELDES
O regime da Síria entregou ao governo da Rússia, evidências que supostamente demonstra o envolvimento de rebeldes no ataque químico de agosto. Para o vice-chanceler russo Sergei Ryabkov, o relatório publicado pela ONU sobre o assunto, traz conclusões "preconcebidas" e está contaminado por política. Detalhes do relatório indicam que os foguetes com armas químicas foram disparados de uma zona controlada pelo regime. ( F S P , 19.09.2013, p. A-20).
SÍRIA ENTREGA DADOS SOBRE ARMAS QUÍMICAS
A Organização para a Proibição de Armas Químicas - OPCW, confirmou em 20 de setembro, ter recebido uma divulgação inicial por parte do governo sírio a respeito de seu arsenal químico.
As informações estão sendo examinadas por um comitê técnico e mais dados serão entregues entre os dias 21 e 22 de setembro.
Em geral , um processo de divulgação das armas leva 60 dias, mas o governo sírio, pressionado pela Rússia, agilizou a entrega dos dados.
O arsenal químico poderá ser destruído de quatro formas diferentes: detonação a frio, neutralização, detonação a quente e incineração . (F S P , 21.09.2013, Mundo 1, p. A-12).
A Síria completou em 21 de setembro a entrega de informações sobre seu arsenal à OPCW, cumprindo o prazo estabelecido pelo acordo firmado em 14 de setembro. O arsenal deve ser destruído até meados de 2014 , mas , considerado um dos maiores do mundo , tomará muito tempo e dinheiro para isso. ( F S P , 22.09.2013, p. A-21).
Rebeldes tentaram atingir a missão diplomática russa com morteiros e foguetes, mas apenas três funcionários se feriram . A embaixada da Rússia está localizada no distrito de Mazrra, em Damasco, onde também estão um estádio de futebol e clubes noturnos.
O ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, em entrevista à TV estatal russa disse que militares russos podem ajudar Assad a entregar as armas químicas da Síria ao controle internacional . Segundo ele, seria necessário apenas um pequeno destacamento, e com a participação de países árabes e da Turquia.( F S P , 23.09.2013, p. A-12) .
ACORDO NO CONSELHO DE SEGURANÇA DA ONU
Os países com poder de veto no Conselho de Segurança da ONU anunciaram em 26 de setembro, terem chegado a um acordo para uma resolução que determine a eliminação do arsenal químico da Síria.
A resolução não deve prever nenhuma espécie de uso da força no caso de os sírios não cumprirem os seus termos , como prevê o Capítulo 7 da Carta da ONU, que prevê ação militar para fazer cumprir as medidas. ( F S P , 27.09,2013, p. A-14) .
ONU NOVAS INVESTIGAÇÕES
Inspetores da ONU que já se encontram na Síria, vão investigar relatos de sete diferentes usos de arma químicas na Síria e três se referem a incidentes ocorridos após 21 de agosto, data do ataque que deixou ao menos 1.400 mortos nos arredores de Damasco.( F S P ,28.09.2013, Mundo 1, p. A-22) .
COMEÇA A DESTRUIÇÃO DAS ARMAS QUÍMICAS
Uma equipe de especialistas internacionais em desarmamento , enviada à Síria há uma semana, começou em 6 de outubro a destruir parte do arsenal e equipamentos utilizados para produzir armas químicas no país.
Segundo comunicado das Nações Unidas e da Opaq, a equipe destruiu ogivas, bombas aéreas e equipamentos usados para misturar produtos químicos no primeiro dia de campanha oficial de desarmamento na Síria.
Segundo o comunicado, os inspetores supervisionaram o trabalho de sírios , que usaram maçaricos e trituradores para destruir uma variedade de objetos. "O processo continuará nos próximos dias".
Pelo acordo, instalações de mistura e produção de armamentos têm que ser destruídas até novembro. O objetivo da Opaq é eliminar todo o estoque de armamentos químicos sírio até a metade de 2014. O estoque é estimado em 1.000 toneladas de agentes nervosos sarin, mostarda e VX, construído ao longo de décadas. Os armamentos estão espalhados pelo país, o que dificulta a inspeção. (F S P , 7.10.2013, p.A-11 .
A Opaq pediu em 9 de outubro um cessar-fogo na Síria durante o processo desarmamento , para que os inspetores possam destruir as armas químicas até meados de 2014, pois a tarefa já teve que ser interrompida diante de disparos. É o primeiro país onde a Opaq começa a atuar , com uma guerra em andamento.( F S P , 10.10.2013, p. A-13) .
PRÊMIO NOBEL DA PAZ
A Opaq, Organização para a Proibição de Armas Químicas, criada em 1997, com sede em Haia, levou o Prêmio Nobel da Paz de 2013. A Organização põe em prática a Convenção contra Armas Químicas e seu primeiro presidente foi o brasileiro Maurício Bustani, hoje embaixador do Brasil na França.
A Opaq já fez mais de 5.000 inspeções em 86 países . O comitê do Nobel alertou que EUA e Rússia ainda não cumpriram a sua meta de eliminar suas armas químicas até abril de 2012. Os EUA ainda detém 10% de seu arsenal e a Rússia , 30%.
Os galpões químicos da Índia, Albânia e Coréia do Sul foram eliminados, além de parte do arsenal americano, russo e líbio.
Como vencedora a Opaq recebe uma medalha de ouro e um prêmio de R$ 2,7 milhões , que será investido na própria instituição.
A Opaq tem 190 membros e não fazem parte dela: Angola, Coréia do Norte, Egito, Israel, Mianmar e Sudão do Sul. A Síria aderiu em 2013.
O brasileiro Maurício Bustani, que comandou a Opaq entre 1997 e 2002, quando foi destituído por pressão dos EUA declarou que a Guerra do Iraque , em 2003, poderia ter sido evitada:" Se os americanos tivessem deixado o processo continuar, não teria havido necessidade de invadir o Iraque: veríamos no processo de inspeção que não havia armas. Foi perda de oportunidade para os EUA não terem reconhecido o trabalho que a organização fazia - não tinham interesse em que a solução fosse feita por esse caminho. Paciência. Minha grande frustração é que não consegui impedir aquela inútil invasão". ( F S P , 12.10.2013, p. A-14) .
Para ativistas e opositores do governo sírio, a Opaq, premiada com o prêmio Nobel não terminará com a guerra no país, neutralizando o arsenal químico sírio. O diretor do Observatório Sírio de Direitos Humanos, Rami Abderrahman declarou e, 12 de outubro "Todos somos contra o uso de armas químicas no mundo, mas este prêmio não tem nada a ver com a paz na Síria ou com a destruição do arsenal do regime".
O porta voz do Exército Livre Sírio, o coronel Qasem Saadedin afirmou" Não me surpreenderia se, no futuro, o dessem a Bashar al Assad. Estamos muito incomodados com a comunidade internacional , que só se focou nas armas químicas e esqueceu o sofrimento do povo sírio" ( F S P , 13.10.2013, p. A-21) .
INSPEÇÃO DO ARSENAL
Em 17 de outubro de 2013, a Opaq afirmou que completou metade de sua inspeção do arsenal sírio. ( F S P ,18.10.2013, p. A-17) .
PLANO DE DESTRUIÇÃO APRESENTADO NO PRAZO
A Opaq informou em 27 de outubro ter recebido no prazo exigido o plano de destruição do arsenal químico da Síria . O documento entregue à organização no dia 24 de outubro "permite estabelecer os planos para efetuar uma destruição sistemática , integral e verificada das armas químicas declaradas , assim como das instalações de produção e montagem". ( F S P , 28.10.2013, p. A-13) .
PRODUÇÃO DE ARMAS QUÍMICAS FOI DESFEITA
Segundo afirmou a Opaq em 31 de outubro de 2013, o regime da Síria completou a "destruição funcional" de todas as suas instalações de produção de armas químicas, antes do prazo que terminava em 01 de novembro.
Todo o equipamento para a fabricação de armas químicas foi inutilizado. Os especialistas visitaram 21 de um total de 23 localizações declaradas pela Síria em seu inventário químico. As duas restantes foram consideradas de alto risco por causa da guerra civil do país, mas seu equipamento foi transferido para inspeção.
Falta destruir as armas químicas em posse do regime, estimadas em 1.000 toneladas, incluindo gás mostarda e sarin e isso deverá ser feito até meados de 2014. ( F S P , 1.11.2013, p. A-15) .
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