Folha de S. Paulo - 01/07/2013
ATOS PEDEM QUEDA DO PRESIDENTE DO EGITO
Manifestantes vão às ruas no 1. aniversário do governo do islamita Mursi,
exigindo novas eleições; choques matam 7
Presidente, primeiro líder eleito de maneira democrática no país, diz em entrevista
que não vai deixar o cargo
DIOGO BERCITO DE JERUSALÉM
Manifestantes levaram de volta às ruas do Egito ontem o mantra da Primavera Árabe --
'o povo quer derrubar o regime'. O Exército disse que 'milhões' participaram.
Desta vez, porém, o alvo não foi Hosni Mubarak, o ditador que regeu o país por três
décadas, mas o islamita Mohammed Mursi, primeiro presidente eleito
democraticamente no Egito.
Seu governo completou um ano ontem em meio aos protestos em massa.
Houve confronto entre simpatizantes e opositores ao presidente, com sete mortos e ao
menos 600 feridos.
Escritórios da Irmandade Muçulmana, ligada a Mursi, foram queimados.
O grupo Tamarod, ou Rebelião, afirma ter reunido 22 milhões de assinaturas pedindo
pela saída de Mursi, por meio da antecipação da eleição presidencial no país.
Manifestantes, apoiados por intelectuais, afirmam que permanecerão nas ruas até
atingir o objetivo, visto como continuação da revolução que derrubou Mubarak em
fevereiro de 2011.
'Queremos antecipar as eleições e vamos esperar [nas ruas] até que atendam às
nossas demandas', afirma à Folha Emad Hamdy, analista político do jornal egípcio
'Dostor'. 'Os egípcios estão recusando Mursi. Ele não fez nada pelo Egito.'
Em meio ao clima opressivo do verão, somado ao período de jejum iniciado no mês do
ramadã, no começo de julho, há dúvidas se os protestos conseguem persistir durante
um longo prazo.
Simpatizantes de Mursi apontam ainda que a única saída democrática para o impasse
tem de ser a conclusão regular do mandato dele e, então, novas eleições. Afirmam que
as manifestações contra o presidente são uma tentativa de golpe.
Ehab Fahmy, porta-voz do governo, disse durante coletiva de imprensa que Mursi está
aberto a negociar com a oposição. 'O diálogo é a única maneira por meio da qual
podemos entrar em acordo.'
Em entrevista ao jornal britânico 'Guardian', o presidente do Egito afirmou que não
haverá uma 'segunda revolução' ali. '[Caso o governo seja refeito], então haverá
pessoas se opondo ao novo presidente também, e depois de uma semana ou um mês
vão querer que ele renuncie.'
CONTEXTO
Manifestantes apontam que Mursi, visto como um líder islamita, desviou o país dos
ideais da revolução.
Desde a queda de Mubarak, a economia seguiu também em declínio, com
desvalorização da moeda e sucessivos empréstimos tomados com credores
internacionais, como Arábia Saudita.
Em novembro, Mursi foi alvo de forte oposição no país ao emitir decreto que protegia
suas decisões de posterior revisão judiciária.
'MURSI É RADICAL DEMAIS', PROTESTA MULHER NA PRAÇA
JERONIMO GIORGI ANGELO ATTANASIO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO CAIRO
'Voltaremos todos os dias até que Mursi vá embora igual a Mubarak', gritava o
empresário Alfons, 65, que foi com a família à praça Tahrir, no Cairo, ontem.
A praça, o epicentro dos protestos que levaram à queda do ditador Hosni Mubarak em
2011, voltou a ser ocupada por dezenas de milhares de homens, mulheres e crianças
que gritavam 'Erhal' --vá embora, em árabe-- dessa vez para o presidente Mohammed
Mursi, o primeiro democraticamente eleito no país após três décadas de ditadura.
Ao cair o sol e em meio ao rebuliço de cornetas e buzinas, Martha, uma mulher de 40
anos, se manifestava ao lado do marido: 'A política e as regras de Mursi são ilógicas.
Ele é radical demais'.
Enquanto um helicóptero do Exército sobrevoava, ameaçador, a praça, ela sentenciou:
'A gente precisa comer. Que [Mursi] vá embora'.
A crise econômica e medidas consideradas pelos críticos como uma 'guinada
autoritária' de Mursi e da Irmandade Muçulmana, o grupo islamita ligado ao presidente,
minaram sua popularidade nos últimos meses e deram fôlego aos novos protestos,
expondo as divisões no país pós-Mubarak.
'Essa é uma nova revolução contra a Irmandade Muçulmana e um regime autoritário',
afirma Hani Raslan, analista do Centro para Estudios Políticos e Estratégicos Al Ahram.
'Pode haver choques violentos, mas o regime já caiu', avalia.
O tamanho da manifestação de ontem foi uma vitória para o movimento Tamarod --
rebelião, em árabe--, que desde o final de abril vem juntando assinaturas para pedir a
saída do presidente e a convocatória de novas eleições.
O porta-voz do movimento, Mahmud Badr, anunciou ontem: 'Acabou-se. O povo fez o
regime cair. Temos 22 milhões de assinaturas'.
A cifra é 9 milhões a mais que os votos que levaram Mursi ao poder.
LADOS OPOSTOS
Ás 18h, quatro grandes manifestações se encontraram às portas do palácio
presidencial. Apesar dos relatos de violência no resto do país e o ataque à sede da
Irmandade Muçulmana na capital, o clima, naquele momento, foi festivo, entre cânticos
e bandeiras do Egito.
A poucos quilômetros dali, nas imediações da mesquita de Raba al Adawiya, milhares
de partidários do presidente seguiam concentrados desde sexta-feira. Defendiam a
legitimidade democrática do governo Mursi.
'Assumi a responsabilidade em um país consumido pela corrupção e estou enfrentando
uma guerra para me derrubar', disse Mursi, na quarta-feira, em uma mensagem à
nação onde disse também 'ter cometido erros'.
Ontem, foi a vez de o porta-voz da Presidência refazer o apelo. Repetiu que a oferta do
governo Mursi é para abrir um 'verdadeiro e sério diálogo nacional'.
Leia os textos de Félix Maier acessando o blog e sites abaixo:
Verdana">PIRACEMA - Nadando contra a corrente
Mídia Sem Máscara
Netsaber
Verdana">Usina de Letras
Para conhecer a história do terrorismo esquerdista no Brasil, acesse:
color:
2672EC">'Quando todas as armas forem propriedade do governo e dos bandidos, estes decidirão de quem serão as outras propriedades' Verdana;mso-bidi-font-family:Tahoma;color:
2672EC">(Benjamin Franklin).
Escracho

font-family:Verdana">O Palácio do Planalto amanheceu com uma faixa no topo do prédio:
font-family:Verdana;color:red">'AQUI VIVE UMA TERRORISTA'