No artigo A TORRE DE BABEL E ALTERAÇÃO DA LINGUA, de João de Freitas Pereira, de 02.05.2001, por sinal o texto mais lido do Usina de Letras, o autor aborda de maneira brilhante as modificações a que um idioma está sujeito ,através dostempos, por influências as mais diversas. É trabalho de fôlego, de alta erudição e fina sensibilidade. Uma aula (quase diria um verdadeiro curso sobre o assunto).
E, num dos parágrafos finais, nos conta um caso de desonestidade, no qual se lê, entre outras coisas: "... porque as cartas que recebia do Pará, vinham com sellos de tal maneira borrados que, prima facie, reconhecia-se que tinham sido usados e já inutilisados. Aduzio então aquelle digno representante da Província do Pará que deste facto lhe constava já inteirada a administração central do correio da Côrte,etc. e tal.(Anaes do Senado, 02/04/1877).
OBS. Na época, os funcionários do correio diziam o preço dos selos, recebiam o valor correspondente e eles mesmos selavam as cartas...).
Isso nos fez lembrar da nossa passagem como servidor da Inspetoria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBG, em São Luís - MA, quando o Inspetor era Dr. Adolfo Frejat.
Fomos várias vezes indicado para fiscalizar a venda de ingressos nos cinemas da cidade, dos quais nos lembramos do que funcionava no Teatro Arthur Azevedo, do Rival, do Éden e de um na rua de São Pantaleão, vizinho de onde frequentamos o Cursinho do Iran Salazar, para o Banco do Brasil.
Aconteceu que, certa noite, fomos mandado para fiscalizar o cine da rua São Pantaleão e notamos que o porteiro entregava os bilhetes vendidos de volta ao bilheteiro e este os revendia, quando o certo seria rasgá-los(inclusive danificando cada selo). Então, no momento em que o primeiro mais acumulou bilhetes nas mãos, encostamos, mostramos a identidade do IBGE e solicitamos a entrega. O porteiro vacilou e tomamos-lhe uma boa quantidade.Um impasse foi criado, a sessão não começou na hora marcada, e, só meia hora ou quarenta e cinco minutos depois, foi que chegou o Sr. Moisés Tajra, acompanhado do funcionário do IBGE, Douglas Furtado, e este, junto com o empresário, nos convidou para uma cerveja no bar defronte. Ali, disseram que o empregado seria punido pela prática irregular, e, como se tratava da primeira vez que tal acontecia, que a gente "maneirasse", não levando o acontecido ao conhecimento do Inspetor Frejat.
Fazer o quê? O Douglas, além de funcionário graduado da Inspetoria, era um bom colega e o Sr. Moisés muito educado. Disse-lhes, apenas, no meu sonho de consertar o mundo aos vinte anos, que, no caso de reincidência, faria o auto de apreensão e entrega-lo-ia às autoridades do IBGE.
Assim sendo, devolvi os bilhetes ao Sr. Moisés, que me agradeceu e ele atravessou a rua para ir mandar começar o filme. O colega Douglas foi me deixar no Hotel Ribamar e disse-me que ia buscar o amigo Moiés para deixá-lo em casa.
Contei esse caso, pensando que a linguagem muda com o passar do tempo, mas, a corrução não(só de "corrupção" para corrução..), haja vista os casos da SUDAM e do Banpará!