Escrito por Charles Krauthammer 21 Maio 2012
Internacional - Oriente Médio
A guerra não está a quatro dias de distância, mas ela se aproxima.
Em maio de 1967, violando descaradamente acordos de trégua anteriores, o Egito expulsou do Sinai os pacificadores da ONU, moveu 120 mil soldados para a fronteira com Israel, bloqueou Eilat (a saída sul de Israel para o oceano), assinou repentinamente um pacto militar com a Jordânia e, junto com a Síria, decretou guerra para a destruição final de Israel.
Maio de 1967 foi o mês mais amedrontador e desesperador de Israel. O país estava cercado e sozinho. Garantias prévias de grandes potências se mostraram inócuas. Um plano para testar o bloqueio com uma flotilha ocidental falhou por falta de participantes. O tempo estava se esgotando. Forçada a proteger-se contra uma invasão através de mobilização e massa - e com um exército composto enormemente por reservistas civis -, a vida se reduziu a quase nada. O país estava morrendo.
Em 5 de junho, Israel lançou um ataque preventivo contra a força aérea egípcia, procedendo então a vitórias luminosas nos três fronts. A Guerra dos Seis Dias é uma lenda, mas menos lembrado é que, em 1. de junho, a oposição nacionalista (o precursor do Likud de Menachem Begin) foi, pela primeira vez, trazida ao governo, criando uma coalizão emergencial de unidade nacional.
Todos entenderam porquê. Você não leva a cabo uma guerra preventiva extremamente arriscada sem a participação total de uma grande coalizão representando um consenso nacional.
Quarenta e cinco anos depois, entre os dias 7 e 8 de maio de 2012, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu chocou seu país ao incluir o principal partido da oposição, o Kadima, em um governo de unidade nacional - algo chocante porque, apenas algumas horas antes, o Knesset expediu um documento convocando eleições antecipadas em setembro.
Por que o bem-sucedido Netanyahu cancelou eleições que ele tinha certeza que ganharia?
Porque, para os israelenses de hoje, é maio de 1967. O pavor não é tão agudo: o clima não é de desespero, mas de pressentimento. O tempo está se esgotando, mas não tão rapidamente. A guerra não está a quatro dias de distância, mas ela se aproxima. Os israelenses hoje encaram a maior ameaça a suas existências - mulás apocalípticos pregando publicamente a aniquilação de Israel com armas nucleares - desde maio de 1967. O mundo está novamente dizendo aos israelenses para não fazerem nada enquanto encontra uma solução. Mas se tal solução não for encontrada - como em 1967 - os israelenses sabem que uma vez mais terão de se defender sozinhos.
Uma decisão tão grave demanda um consenso nacional. Ao criar a maior coalizão em quase três décadas, Netanyahu está estabelecendo a premissa política para um ataque preventivo, se vier a acontecer. O novo governo comanda impressionantes 94 dos 120 assentos do Knesset, descritos por um colunista de Israel como "centenas de toneladas de concreto sólido".
Isso foi demais para a recente publicidade midiática sobre a suposta grande resistência à dureza de Netanyahu contra o Irã. Duas notáveis figuras aposentadas da inteligência foram amplamente paparicadas pela imprensa por falarem contra Netanyahu. Poucos notaram que uma delas foi ignorada por Netanyahu para ser chefe do Mossad, enquanto a outra foi demitida por Netanyahu como chefe do Mossad (deixando o cargo vago). Ver o centrista Kadima (que retirou Israel de Gaza) unir-se a uma coalizão liderada pelo Likud cujo Ministro da Defesa é ex-primeiro-ministro pelo Partido Trabalhista (que ofereceu metade de Jerusalém a Yasser Arafat) é a própria definição de união nacional - e refuta a ladainha popular "Israel está dividido". "Todos estão falando a mesma língua", explicou um membro do Knesset, "ainda que haja diferença nos tons."
Para ter certeza, Netanyahu e Shaul Mofaz, do Kadima, deram razões mais prosaicas para sua união: leis de serviços nacionais, leis eleitorais e negociações com os palestinos. Mas Netanyahu, o primeiro premiê do Likud a reconhecer o Estado palestino, não precisava do Kadima para ingressar nas negociações de paz. Por dois anos ele tem esperado o comparecimento de Mahmoud Abbas. Abbas não apareceu. Nem aparecerá. Nada vai mudar nesse front.
O que muda é a posição de Israel em relação ao Irã. Essa ampla coalizão demonstra a prontidão política de Israel para atacar, se necessário (sua prontidão militar é indubitável).
Aqueles que aconselham a submissão, a resignação ou a eterna paciência a Israel não podem mais desabonar a posição dura de Israel como o trabalho de direitistas irremediáveis. Não com um governo que representa 78% do país.
Netanyahu postergou as eleições de setembro que lhe garantiriam mais quatro anos no poder. Ele escolheu, ao invés disso, formar uma coalizão nacional que garanta 18 meses de estabilidade - 18 meses nos quais Israel fará alguma coisa para impedir o Irã caso o mundo não faça nada.
E não será o trabalho de um homem, um partido ou uma facção ideológica. Como em 1967, será o trabalho de uma nação.
Publicado na National Review Online.
Charles Krauthammer é colunista da National Review e do The Washington Post.
Tradução: Felipe Melo
http://unbconservadora.blogspot.com
0000cd;">Comentário: Além do problema imediato do Irã, Israel terá outro mais adiante - o Egito. 0000cd;">Durante muitos anos, os militares do Egito obtiveram amplo apoio de sua população graças, principalmente, à devolução da península do Sinai, feita por Israel depois do Acordo de Paz entre os dois países. Com isso, a última guerra árabe-isaelense, de 1973, é considerada como uma guerra vencida pelo Egito, não por Israel, quando, na verdade, houve um cessar-fogo antes de Israel marchar pesadamente sobre o Cairo. Daí o apoio do povo egípcio às suas Forças Armadas, na pessoa do presidente-brigadeiro Hosni Mubarak, herói daquela guerra, quando era um alto chefe da Aeronáutica. Desde o governo de Sadat até Mubarak, o Egito sempre esteve automaticamente alinhado aos EUA, como pôde ser observado na Guerra do Golfo, contra Saddam Hussein que havia invadido o Kuwait. Os tempos se passaram, os problemas econômicos e sociais do Egito se avolumaram e, com as rebeliões da Primavera Árabe, iniciada na Argélia, o povo foi às ruas - incitado, principalmente, pelos radicais da Irmandade Muçulmana - para pedir a destituição de Mubarak, que acabou caindo. As Forças Armadas, bastante enfraquecidas, formaram um governo tampão, até que haja eleição presidencial, que já está demorando, por isso os recentes tumultos no país. Com um novo governo (os candidatos da Irmandade foram proibidos de concorrer à eleição presidencal), que já tem maioria radical na Assembleia do Povo (Congresso, unicameral), as Forças Armadas vão ter que 'mostrar serviço', reais ou imaginários, como no passado, para manterem o status atual, em que o Exército é dono de 30% do PIB do Egito. Haverá um agravante: o futuro governo será, provavelmente, um governo antiamericano e fundamentalista. E como os militares vão mostrar 'serviço'? No meu entender, eles estão, intimamente, torcendo para que haja uma guerra restrita contra Israel, na fronteira, mais de atrito, do que uma guerra ampla, para novamente posarem de heróis nacionais. O tempo dirá qual vai ser a próxima jogada de xadrez no país. Um ataque de Israel contra o Irã poderia acelerar esse processo bélico, porque, definitivamente, o Egito não iria ficar numa situação neutra, apesar do atual acordo de paz, indo à guerra ao lado dos aiatolás. 0000cd;">F. Maier |