segunda-feira, 30 de janeiro de 2012
A omissão da oposição: o (des)caso Gemini
Artigo no Alerta Total - www.alertatotal.net / Por João Vinhosa
Continuam a serem denunciadas, sem que ninguém do Governo se manifeste, as várias facetas da Gemini - espúria sociedade por meio da qual o cartório nacional de produção e comercialização de Gás Natural Liquefeito (GNL) foi entregue a uma empresa privada pertencente a um grupo norte-americano.
Esse silêncio do Governo é normal, pois fingir-se de morto é a melhor estratégia para quem não tem como explicar aquilo que é inexplicável.
O que não é normal é a impressionante omissão da oposição, fato destacado em artigo publicado em 27 de janeiro de 2012 no blog do jornal Tribuna da Imprensa sob o título "Privilégio concedido pela Petrobras à multinacional (...) precisa ser investigado. A acusação é grave demais.".
Em tal artigo, o jornalista Carlos Newton - depois de esclarecer que o caso já havia sido infrutiferamente denunciado "à então chefe da Casa Civil Dilma Rousseff, que na condição de ministra de Minas e Energia e presidente do Conselho de Administração da Petrobras, avalizou a criação de tal sociedade" - foi no âmago da questão: "Não dá para compreender é porque a oposição não se interessa em apurar nem cobra uma manifestação de Dilma a respeito das graves denúncias".
Cumpre informar que inúmeras vezes denunciei - de maneira clara, precisa e enérgica - às mais diversas autoridades e a políticos da oposição, atos lesivos ao interesse nacional envolvendo a Gemini.
A curiosidade de Serra
Depois de já estar denunciando há anos o autêntico crime de lesa-pátria representado pela Gemini, levei o assunto ao pessoal da campanha do candidato Serra para que ele questionasse a candidata Dilma logo nos primeiros debates para as eleições presidenciais.
Enquanto Serra era atacado sob a alegação que, se eleito fosse, iria privatizar a Petrobras, Dilma - que não teria como se explicar diante das maracutaias que beneficiaram enormemente uma empresa privada em detrimento da Petrobras - navegava tranquila na imensa incapacidade do pessoal da campanha de Serra.
A situação se tornou ridícula no último debate, realizado na TV Record em 25 de outubro de 2010. Pelas regras de tal debate, um candidato perguntava, o outro candidato replicava; porém, não havia possibilidade de tréplica. como nos debates anteriores.
Só nessa última precária oportunidade, Serra tentou imprensar Dilma com o caso Gemini, afirmando: "O atual governo cedeu para a (...), uma multinacional, a sociedade do fornecimento de gás liquefeito. A Petrobrás ficou com a menor parte, 40%. Ela favoreceu uma multinacional em relação à ação da Petrobras, que tinha toda a condição para fazer esse trabalho".
Embora Serra tenha citado duas vezes tal espúria sociedade, Dilma, que sempre se recusou a falar do caso Gemini, não se manifestou sobre o assunto.
Só restou a Serra, em entrevista concedida ao final do debate, afirmar pateticamente que havia ficado "curioso" para saber o pensamento de Dilma sobre "essa associação estranha da Petrobras com a (...), que entregou a essa multinacional o controle do gás liquefeito no Brasil".
Interessante é que Serra fez um papel ridículo, e deve continuar, até hoje, curioso para saber o pensamento de Dilma a respeito da Gemini; porém, tem medo de perguntar, pois não é do feitio de nossa oposição contestar quem tem alto índice de aprovação popular, por mais suspeita que sejam as pesquisas.
Tráfico de influência para blindar a Gemini
Entre minhas denúncias, uma das mais recentes encontra-se no artigo "Escândalo Gemini: Dilma questionará Graça Foster - sua preferida para presidir a Petrobras?", publicado no Alerta Total (http://www.alertatotal.net/) em 28 de novembro de 2011.
Em tal artigo - que é, na realidade, uma carta-aberta à presidente Dilma - acusei, entre outras coisas, o fato de a Diretora de Gás e Energia da Petrobras, Maria das Graças Foster, ter se mantido em silêncio diante da denúncia por mim formulada ao Procurador-Geral da República em 19 de outubro de 2010.
Referida denúncia - que se encontra anexada a uma carta não respondida pela citada Diretora - trata de evidências sobre uma rede de cumplicidade para praticar tráfico de influência com o objetivo de blindar a Gemini.
Para piorar a situação, tal denúncia foi considerada altamente ofensiva à honra da presidente Dilma pelo Ministério Público Federal (MPF). A seguir, são reproduzidos alguns trechos do documento em que o Procurador Paulo Roberto Galvão de Carvalho decidiu pelo arquivamento da denúncia.
1 - "O objeto destas peças informativas é, exclusivamente, o suposto tráfico de influência imputado à Presidenta da República";
2 - "A alegação de tráfico de influência praticado pela então Ministra das Minas e Energia, Dilma Rousseff, foi mera ilação";
3 -"Aprovação da formação da sociedade pelo CADE, ilícito este que teria sido praticado pela Presidenta da República Dilma Rousseff";
4 -"Quanto ao suposto tráfico de influência, deve-se dizer que não há um mínimo de lastro probatório para dar suporte a tese de que a Presidenta da República Dilma Rousseff, então Ministra das Minas e Energia e Presidenta do Conselho de Administração da Petrobras tenha praticado atos ilícitos";
5 -"A mera correlação feita pelo representante entre os cargos ocupados à época e a fusão das empresas não permite a presunção de que tenha ocorrido intermediação ilícita entre a então Ministra de Minas e Energia e os Conselheiros do CADE, a ensejar a irregular aprovação da criação da empresa. Trata-se, assim, de mera ilação".
Cabe informar que, para confrontar com o acima transcrito entendimento do MPF, escrevi o artigo "Dilma foi caluniada no escândalo Gemini?", no qual afirmei que as interpretações do MPF seriam por mim pulverizadas em outra oportunidade - caso a presidente Dilma se julgasse por mim caluniada e, em defesa de sua honra, me processasse judicialmente.
Finalizando, deixo no ar a pergunta: onde anda a oposição?
João Vinhosa é Engenheiro - joaovinhosa@hotmail.com
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