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Artigos-->Monteiro Lobato, esse meu amigo -- 30/12/1999 - 11:06 (Vânia Moreira Diniz) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
vaniamdiniz@zaz.com.br

http://www.terravista.pt/FerNoronha/5843







MONTEIRO LOBATO, ESSE MEU AMIGO



Eu ia fazer nove anos quando chegou á minha casa um pacote cujo destinatário era eu. Não me surpreendi e imaginava que meu pai o houvesse comprado e mandado de surpresa. Ele costumava fazer isso. Adorava dar presentes e eu era um de seus alvos prediletos. O que me intrigou foi o tamanho da encomenda , talvez maior que eu. Ficava imaginando o que seria embora a sofreguidão com que eu rasgava o papel não desse muito tempo para isso. A minha surpresa real foi quando me deparei com uma coleção imensa de livros. Não me lembro direito mas parecia que eram 15 lindos livros todos encadernados maravilhosamente e em cor verde.

Fiquei encantada porque desde muito pequena gostei de livros. Mas aqueles me surpreenderam pelo volume e quantidade não comum para uma menina de minha idade. Nada, porém , me emocionaria mais. Sem saber porque apaixonei-me por eles que viriam a ser meus companheiros queridos pela vida afora, Sim, porque até hoje os amo como se os tivesse recebido agora. É possível uma coisa dessas?

Hoje, passados tantos anos ainda sinto a sensação de posse que tomou conta de mim ao sentir-me proprietária daquele pequeno tesouro. Meus pais olhavam fascinados a minha alegria , encantados talvez pela surpresa que se tornou mais deles do que minha. Sim, porque imaginaram dar-me algo diferente mas jamais entenderiam a minha excitação, pelo insólito presente.

Se eu acreditasse realmente em predestinação ou coisa parecida poderia compreender a minha alegria. Parece que estava realmente adivinhando o quanto aqueles livros significariam pela vida afora em todo o tempo vivido até esse momento.

Resolvi lê-los imediatamente, pelo menos para ter uma idéia do que se tratava. Uma hora depois estava tão fascinada que não conseguia parar a leitura. A figura de Narizinho, Pedrinho e Emília conquistaram-me a primeira vista.

Sim, era a coleção infantil de Monteiro Lobato, tão querida das crianças que tiveram o privilégio de ler o grande autor. E eu considero essa coleção de livros responsável por boa parte dos meus conhecimentos. Os pequenos aprendiam de uma forma amena e profundamente agradável.

Quantas vezes seria punida na sala de aula ou mesmo em casa por estar agarrada á leitura desses livros em hora imprópria, eu não sei calcular. Mesmo assim , jamais me arrependeria de todas as ocasiões em que isso foi feito.

O pó de pirlimpimpim levou-me a paragens nunca vistas por ninguém e nada , nada mesmo ,pelo menos na minha opinião se compara a um passeio desses feito por qualquer criança.

Muitas vezes, quando estava zangada,o fascínio de Lobato me levantava o ânimo e sentia-me forte como Hércules sendo vencedor em cada um de seus doze trabalhos.

Nunca esquecerei a expressão de minha mãe, irritada ao ver-me lendo as histórias de Narizinho em vez de estudar. Jamais poderei também esquecer o dia em que no colégio, além de ter sido proibida de levá-los para as aulas ainda me alertaram para o conteúdo “material e agnóstico do autor.”

Nada me importava, quanto mais dificuldades , mais os amava. E sentia uma mágoa crescente daqueles que tentavam diminuir o valor incalculável do “meu tesouro”.

Monteiro Lobato, era meu amigo incondicional representado pelas fascinantes personagens de seus livros.

Amava o Sítio do Picapau Amarelo com a mesma intensidade que gostava de me deliciar com a aritmética da Emília ou com que ouvia as histórias da geografia contada por dona Benta. Tudo era fascínio sem limites e aprendizado garantido.

Ainda hoje, quando as delícias da infância não se fazem mais presentes e os sonhos infantis se transformaram em quimeras, a minha imaginação me conduz aos mesmos caminhos dos meus nove anos , trazendo de volta os livros preferidos da minha cabeceira remota.

E parece que Monteiro Lobato, esse meu amigo, desenvolvia nas crianças além de uma sede insaciável de aprender, uma vontade imensa de realizar façanhas na agitação que parecia tomar conta de seus pequenos leitores.

É fácil compreender como o autor estudou desde a mais tenra idade, sabendo-se das suas potencialidades. Porque antes dos sete anos quando ingressou na escola já aprendia em casa com um professor particular tendo sido alfabetizado pala mãe muito cedo.

Recordo-me com saudade de uma ocasião em que meu pai entrou em seu escritório para ver o que eu estava estudando para a prova de português no dia seguinte. E qual não foi a sua surpresa quando se deparou comigo a ler sofregamente um dos famosos livros verdes. Espantou-se admoestando-me que não era hora de brincar mas consegui convencê-lo que só estava tirando uma dúvida em“Emília no país da Gramática”. Até hoje, na verdade não sei se ele realmente se convenceu ou se ficou agradavelmente divertido, porém, de qualquer jeito me considerei vencedora.

Muitas, inúmeras vezes, aliás, iria recordar-me desses livros , de seu conteúdo ao mesmo tempo divertido , em certas ocasiões irônico e transbordante de ensinamentos iniciadores de uma boa cultura.

Todas as figuras de sua obra, trazem mensagens importantes e sua decepção com os adultos que por interesses pessoais prejudicaram-no ,fazem com que ele fale pela língua dessa literatura infantil que tanto amou.

O pó de pirlimpimpim tão amado pelas crianças e que me trouxe sonhos magníficos foi a forma mais eficaz que o fantástico escritor conseguiu de trabalhar a fantasia da criança, estimulando uma imaginação sadia.

Monteiro Lobato, esse meu amigo, de uma infância lembrada e querida, que sempre na vida das pessoas será a base sustentatória do futuro, esse meu amigo, anticonvencional, culto, de espírito jovem, corajoso, leal, cujas verdades não conseguiu ocultar, viverá para sempre em cada uma de seus personagens e na cabeça e coração dos pequenos leitores que fizeram parte “desse mundo “.



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