ENCAMINHANDO DEPOIMENTO QUE DEIXA CLARO QUE O MOVIMENTO ESTUDANTIL É USADO COMO A VANGUARDA DO PROLETARIADO.
ISTO É, OS QUE SÃO LANÇADOS A FRENTE, PELOS "CHEFÕES", PARA LEVAR AS BORRACHADAS DA POLÍCIA, CHEIRAR GÁS LACRIMOGÊNIO, ETC,
DESGASTANDO A IMAGEM DAS FORÇAS DA ORDEM E, SEMPRE QUE POSSÍVEL,OBTENDO MORTOS E FERIDOS PARA USUFRUIR DIVIDENDOS POLÍTICOS.
Jorge B. Ribeiro -
c64934" face="Berlin Sans FB Demi" size="5">16/11 - Contribuição para a Comissão da Verdade XIV
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Radicalização do Movimento estudantil 3ª parte
Depoimento de Vladimir Palmeira, líder estudantil a Antonio Caso para o livro a Esquerda Armada - coletânea de depoimentos de militantes da luta armada - 1967 /1971, publicado em Lisboa em 1976 por Moraes Editores:
'O movimento estudantil somente conseguiu sair massivamente às ruas para lutar contra a ditadura, depois de desmistificar ideologicamente a universidade. A partir de então, foi quando realmente tivemos a presença forte nas ruas. E aproveitando uma excepcional conjuntura de apoio da classe média da população, desenvolvemos naquele período, grandes manifestações e pudemos enfrentar com êxito a repressão.
No estado da Guanabara a principal consigna reivindicatoria foi esta: ' Mais verbas para a Universidade!' Com ela , pudemos reunir todos os estudantes numa greve que se levou a cabo no mês de Junho em todas as universidades do Rio de Janeiro. Mais tarde conseguimos desenvolvê-la em manifestações estudantis contra a política educacional do governo, até convertê-la, finalmente em enormes manifestações populares contra a ditadura.
Nesse ano os estudantes enfrentaram a polícia com a violência organizada, e em diversas oportunidades puseram em acção as forças repressivas. Em outras palavras, os estudantes provaram, na prática, que era possível enfrentar com êxito a repressão (...)
(...) É importante assinalar que, nessa altura, o movimento estudantil brasileiro já compreendia, com clareza, muitas das suas limitações. Sabia, por exemplo, que não podia tomar o poder; que o seu papel era o de servir a classe operária como um instrumento de luta das camadas médias, tratando de levar uma orientação sempre correcta a esses setores da população(...)
(...) Não pretendíamos, com isso, dar uma direção ideológica ou uma orientação política à classe trabalhadora. Não. simplesmente nos limitávamos a ler os manifestos dos companheiros operários de Osasco aos trabalhadores do Rio de janeiro.(...)
(...) Outra coisa importante: já em 1968 não se ouvia mais o palavrório sobre uma luta armada romântica.
Desenvolveu-se, no estado da Guanabara, um grande trabalho de educação política da massa estudantil, para impedir que ela visse naquele momento o princípio de uma insurreição popular e para que passasse a ocupar o seu correcto posto de combate junto da classe operária na luta pelo poder. Também se fez propaganda sobre a luta armada e a necessidade de formação de um exército guerrilheiro, mas considerando-o unicamente como um instrumento da classe operária para a conquista do poder. (....)
(...) O ano de 1968 marcou, de resto, o aparecimento das acções armadas efectivas da guerrilha urbana brasileira.
Realizaram-se, nesse ano , as primeiras expropriações de dinheiro e de armas . Foram feitas por duas organizações: Vanguarda Popular Revolucionária ( VPR ) e Acção Libertadora Nacional ( ALN) . (...)
(...) Devo dizer que, ao organizar uma manifestação, nós tínhamos por hábito anunciar um determinado lugar para a concentração e então , quando a polícia ocupava esse lugar, nós iniciávamos a demonstração noutro local. Isso tinha as suas vantagens, (...)
(...) O caso é que naquele dia , decidimos cumprir a nossa palavra e efectuar a manifestação no local anunciado, custasse o que custasse . escolhemos o Ministério de educação para iniciar a manifestação e, mesmo com a polícia já ocupando o local, quando chegámos, decidimos tomar o edifício à força.
Dividimos os estudantes em três grupos e tentámos tomar a Ministério de assalto. Fomos porém violentamente reprimidos. travou-se uma luta séria . Policiais feridos, estudantes feridos, e não pudemos tomar o edifício. então saímos em manifestação até à avenida Rio Branco, a principal da cidade, e ali erguemos barricadas e enfrentámos a repressão de forma organizada. Pela primeira vez, não era a polícia que avançava contra os estudantes, mas os estudantes que avançavam contra a polícia. A direcção estudantil deu a ordem de avançar e de reprimir a polícia com os seus próprios métodos . Os estudantes atacaram os agentes repressivos, obrigando-os a correr e a debandar. em desordem .(...)
(...) Lutámos contra a cavalaria militar e contra a polícia militar e incendiámos dois ou três veículos do exército. Fomos reprimidos brutalmente pelos soldados, mas os danos que sofremos foram mínimos . Alguns estudantes foram presos, mas a manifestação terminou ordenadamente , não sem deixar convocada uma outra para o dia seguinte.(...)
(...)Realizámos uma grande manifestação durante a qual atacámos o edifício da embaixada norte-americana, protestámos contra a repressão e tivemos de ser dispersados a tiros de espingarda no centro da cidade, na zona conhecida por Cinelândia. Naquele dia a repressão causou doze mortos e numerosos feridos e por isso ficou conhecido em todo o Brasil , como a 'sexta-feira sangrenta' (...)
(...) Não há exagero em afirmar-se que naquela tarde houve uma verdadeira batalha do povo contra a repressão.(...)
(...) Passada a 'sexta-feira sangrenta' , convocámos os estudantes para uma nova manifestação, a meio de uma situação extremamente tensa. Advertimos o governo de que se houvesse repressão tomaríamos a cidade, isto é, que nada faríamos para deter a massa popular e que chegaríamos até ás últimas consequências .(...)
(...) Das grandes manifestações de 1968 foram muitos os jovens que sairam para integrar organizações guerrilheiras urbanas. Nesse sentido,
o trabalho político , dentro do movimento estudantil , deu os seus frutos. (...)
(,,,) Durante aquele ano, contudo, a Dissidência Comunista da Guanabara amadureceu e já em janeiro de 1969 saía dos marcos da luta de massas para incorporar-se na luta armada.(...) (...) no que diz respeito ao encaminhamento para a formação de um exército popular que leve a classe operária ao poder, (...) (...) O facto concreto é que , a partir de então, existe no Brasil uma esquerda que faz a revolução com as armas na mão.'
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