O Brasil é a maior diversão. Na pantomima da Assembléia Geral da ONU, o paísapareceu de novo com uma novidade.
Depois do presidente-operário, a presidente-mulher. Mais um número infalível.
Nunca antes na história da ONU uma mulher abriu a sessão da Assembléia Geral, etc etc.
E quem é esse grande ícone feminino que entrou para a história da diplomacia internacional? Segundo a revista "Newsweek", em matéria de capa, Dilma Rousseff é uma comandante tão severa que já teria feito burocratas do Estado caírem no choro. A revista americana diz também que a temida presidente brasileira espanou os corruptos e os substituiu por pessoas de sua confiança, sempre lideradas por outras mulheres
"Não mexam com Dilma" é o título da reportagem. Mas poderia ser também: "A Mulher Maravilha da Newsweek". Melhor não contrariar. Não daria para botar a super Dilma na capa se a história fosse contada direito: os corruptos demitidos eram as "pessoas de sua confiança", ou da confiança de seu padrinho. E a mulher escolhida por Dilma para liderar seu governo era Erenice, a rainha do tráfico de influência. A comandante durona que, na literatura da "Newsweek", leva marmanjos às lágrimas, na vida real é a presidente desnorteada, que dedica seu primeiro ano de governo à partilha de cargos entre os companheiros - e nas horas vagas demite os que a imprensa desmascara. Em Brasília, Dilma declarou que a limpeza não seria pautada pela imprensa. Em Nova York, declarou que a imprensa é vital para a limpeza. No Brasil, seu partido ruge pelo "controle social" da mídia e ela se cala. Na ONU, se apresenta como militante da liberdade de expressão. É um conto de fadas que o circo da diplomacia internacional adora. Dilma Rousseff se encaixou com perfeição na Assembléia Geral da ONU. Numa reunião tradicionalmente inútil, fez seu discurso tradicionalmente insípido. Dentre as pérolas de estadista-mulher estava um diagnóstico, por assim dizer, sensível da crise mundial: a falta de soluções "não é por falta de recursos financeiros" dos países ricos, "é por falta de recursos políticos". Era a idéia que faltava para o mundo deixar de bobagem e espantar a crise. Sobre economia brasileira, disse à "Newsweek" que foi possível baixar os juros porque o país tem "um Banco Central rígido". Sabendo que o "Banco Central rígido" foi estuprado pelo populismo e obrigado a baixar os juros na marra, a revista poderia ter publicado a declaração de Dilma como piada. Mas preferiu fingir que acreditou, para não atrapalhar o mito da capa. Dilma foi um sucesso na ONU. Não disse nada de relevante e saiu com o figurino de Margareth Thatcher da esquerda que puseram nela. O show tem que continuar. Deixem as agruras da vida real para os palhaços e os contribuintes, ou vice-versa. |