Almas perfumadas
Por José Ricardo Camargo Xavier
Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta.
De sol quando acorda.
De flor quando ri.
Ao lado delas, a gente se sente no balanço de uma rede que dança gostoso numa tarde grande, sem relógio e sem agenda. Ao lado delas, a gente se sente comendo pipoca na praça. Lambuzando o queixo de sorvete.
Melando os dedos com algodão doce da cor mais doce que tem pra escolher. O tempo é outro. E a vida fica com a cara que ela tem de verdade, mas que a gente desaprende de ver.
Tem gente que tem cheiro de colo de Deus.
De banho de mar quando a água é quente e o céu é azul.
Ao lado delas, a gente sabe que os anjos existem e que alguns são invisíveis.
Ao lado delas, a gente se sente chegando em casa e trocando o sapato (no caso dos homens) ou o salto (no caso de mulheres), pelo chinelo.
Sonhando a maior tolice do mundo com o gozo de quem não liga para isso.
Ao lado delas, pode ser abril, mas parece manhã de Natal do tempo em que a gente acordava e encontrava o presente do Papai Noel.
Tem gente que tem cheiro das estrelas que Deus acendeu no céu e daquelas que conseguimos acender na Terra.
Ao lado delas, a gente não acha que o amor é possível, a gente tem certeza.
Ao lado delas, a gente se sente visitando um lugar feito de alegria. Recebendo um buquê de carinhos.
Abraçando um filhote de cão graciosos ou mesmo de um urso panda.
Tocando com os olhos os olhos da paz.
Ao lado delas, saboreamos a delícia do toque suave que sua presença sopra no nosso coração.
Tem gente que tem cheiro de cafuné sem pressa.
Do brinquedo que a gente não largava.
Do acalanto que o silêncio canta.
De passeio no jardim.
Ao lado delas, a gente percebe que a sensualidade é um perfume que vem de dentro e que a atração que realmente nos move não passa só pelo corpo.
São os feromônios que exalam da alma e nos faz sentir estimulados.
Corre em outras veias. Pulsa em outro lugar.
Ao lado delas, a gente lembra que no instante em que rimos Deus e seus Anjos estão dançando conosco - talvez até de rostinho colado.
E a gente ri grande igual menino arteiro.
E eu fui um menino muito arteiro!
Costumo dizer que algumas almas são perfumadas, porque acredito que os sentimentos também têm cheiro e tocam todas as coisas com os seus dedos de energia.
Observemos quando fazemos Amor e o que sentimos no entrelaçar das almas.
Quem conhece sabe do que falo e sente novamente em suas lembranças e mente àquele momento resurgir como que por encanto.
Minha avó era alguém assim. Ela perfumou muitas vidas com sua luz e suas cores.
Meu Pai, que Deus o tenha nos seeus braços, nos ensinou isso, e, meus irmãos que não estão aqui aprenderam sentir e ver esse cheiro e esses gostos de sentimentos.
Eu os guardo e os aplico à quem faz por merecer!
A minha vida é assim, e minha família é uma delas, que aprendeu a saborear a vida em intensidade.
Minhas filhas também já aprenderam, e muito bem essa lição!
E o perfume é e continua a ser tão gostoso, tão branco, tão delicado, que ela mudou de frasco, mas ele (sentimento de poder sentir), continua vivo no coração de tudo o que amamos.
E tudo o que eu amar vai encontrar, de alguma forma, os vestígios desse perfume de Deus, que, numa temporada, se vestiu de Cintia, Alyne, Daniele, Michele, e Gabriele - minha primeira neta, e Luiza que acaba de chegar, ambas, com seus buraquinhos no queixo, para que me falem sempre de amor.
Minha continuidade do saber sentir a vida em sua plenitude.
José Ricardo
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