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Artigos-->Agora nem confissão condena malfeitor -- 31/08/2011 - 11:19 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Agora nem confissão condena malfeitor



José Nêumanne



Acusação de ministro a colegas da bancada que representa no primeiro escalão é uma confissão



Ao pretender livrar-se de um questionamento insistente sobre a faxina que andou fazendo em seu primeiro escalão, demitindo às pencas funcionários de dois ministérios, dos Transportes e da Agricultura, os ministros inclusive, a presidente Dilma Rousseff decretou para pôr fim à conversa: "Combater a corrupção não pode ser programa de governo". Trata-se, ao mesmo tempo, de uma obviedade e de um truísmo. Seria, de fato, absurdo tornar a demissão de gatunos no governo um objetivo estratégico programado. Lutar contra a corrupção, contudo, é uma rotina que nunca deve ser abandonada por um bom gestor. A cada descoberta de qualquer malfeito, o malfeitor tem de ser punido com rigor, para impedir que a exceção se torne regra e o intolerável passe a ser inexorável. A prioridade, ela garantiu, será sempre "combater a miséria". A menos que a miséria à qual se referiu seja a pobreza de quem ocupa cargos públicos para se locupletar, uma coisa nada tem que ver com a outra: a probidade administrativa não é inimiga da exclusão social. Ao contrário, quanto menor for a rapina do Tesouro, mais recursos públicos haverá para financiarem programas de inclusão social.



Sua Excelência só deveria ter feito tal afirmação se pudesse apoiá-la não na confiança ou na esperança, nem mesmo na convicção, mas na certeza de que os focos de furto de seu governo se limitassem às áreas que se pensa que ela saneou expulsando da Esplanada dos Ministérios Alfredo Nascimento, do PR, e Wagner Rossi, do PMDB, na companhia de vários asseclas. Tudo indica que não é bem assim. Seu ministro do Turismo, Pedro Novais (PMDB-MA), aquele que pagou uma conta de motel com dinheiro público em São Luís, encontrou uma boa justificativa para fazer vista grossa ao que se faz de errado nas proximidades de seu gabinete, ao reconhecer num de seus depoimentos no Congresso a probabilidade de haver irregularidades na gestão orçamentária de sua pasta sem que ele saiba. Acatou, com isso, o exemplo do macaquinho que não vê, não ouve nem fala e radicalizou a convicção do antecessor e padrinho da presidente, Lula da Silva, que nunca soube e, por isso, jamais puniu. A lei Novais é mais abrangente: nenhum subordinado cometeu delito algum se o chefe dele não tomou conhecimento.



Mas - como, infelizmente, tem ocorrido no Brasil nesta quadra - a sentença de Novais logo perdeu sentido quando assomou à cena o baiano Mário Negromonte, correligionário do paulista Paulipetro Maluf. Ele trava uma encarniçada luta pelo poder não nos corredores palacianos, como se deveria esperar num regime presidencialista que um dia já foi qualificado de monárquico, mas, sim, nos intestinos da bancada de seu partido governista, o PP. Acusado publicamente de ter criado uma versão pepista do episódio alcunhado de "mensalão", ou seja, de propor cargos ou mesada de R$ 30 mil a colegas da bancada federal em troca do apoio deles a seu pleito de impedir que seus adversários internos lhe arranquem da mão a pasta conquistada, o ministro não se limitou à óbvia negação como defesa: partiu para o ataque em entrevista a O Globo na qual recorreu ao exemplo bíblico de Caim contra Abel, avisando que, "em briga de família, irmão mata irmão e morre todo mundo" e profetizando: "Isso vai virar sangue". Pior ainda: acusou vários colegas de partido de não terem currículo ou carreira, mas "folha corrida".



Ninguém protestou ou desmentiu o desabafo do ministro, que se esqueceu de uma premissa básica: ele não foi convocado para a pasta por seu notório saber sobre urbanismo nem pela eventual admiração de Dilma, tida como "gerentona" e assim vendida por Lula ao eleitorado, por sua capacidade de gestor. Nada disso. Negromonte é mais um dos frutos do pomar da governabilidade. Ele está no primeiro escalão do governo para que a chefe deste possa contar com seus colegas de partido nas votações de projetos que interessem ao governo federal no Congresso. Em nosso presidencialismo de coalizão, o ilustre baiano representa exatamente aqueles seus companheiros que ele acusa de serem fichados pela polícia. Não será, por isso, fora de propósito considerar a afirmação de Sua Excelência uma confissão. Ainda assim, contudo, a chefe não o demitiu. Nem sequer lhe puxou as orelhas.



Nos últimos dias especulou-se muito sobre a possibilidade de nas hostes do lulismo explícito reinar a desconfortável sensação de que a propalada faxina de Dilma, cujo ímpeto de limpeza despertou o apaixonado apoio do senador Pedro Simon (PMDB-RS) e de mais alguns gatos-pingados no Congresso, causaria danos à imagem do paraninfo da presidente. Algumas evidências explicavam a futrica: três dos quatro ministros demitidos este ano por suspeitas de corrupção, Antônio Palocci, da Casa Civil, além de Alfredo Nascimento e Wagner Rossi, foram herdados do padrinho pela afilhada. Aliás, o quarto, que não foi acusado de furto, mas de excesso de sinceridade, ou seja, escassez de hipocrisia, Nelson Jobim, da Defesa, também fazia parte do mesmo legado.



Fosse futrica ou verdade, certo é que o súbito abandono da vassoura surpreende. E aponta para um avanço nefasto. Muito se furtou em governos anteriores a Lula, inclusive nos que se apresentaram como faxineiros, Jânio Quadros, Fernando Collor e os generais do Almanaque. Mas "nunca antes na história deste país" nenhum chefe de governo se atribuiu com tanto entusiasmo o papel de "perdoador-geral da República" como o fez o ex-dirigente sindical. Se Negromonte não for demitido, ficará a impressão de que a gestão de Dilma tornará inócua a única atitude que tem levado delinquentes à condenação. Antigamente só os réus confessos eram condenados. Tendo Negromonte confessado de forma indireta ao acusar seus pares, agora nem mesmo a confissão levará alguém para trás das grades. É a impunidade plena, geral e irrestrita?



Jornalista, escritor e editorialista do Jornal da Tarde.



(Publicado na página 2A do Estado de S. Paulo na quarta-feira 30 de agosto)





E a entrevista feita por Sílvia Amorim, da Sucursal de O Globo em São Paulo, e publicada na página 12 do primeiro caderno do jornal carioca (em anexo, reprodução da página em PDF)



O GLOBO



&
39;Lula não é de esquerda, é um conservador&
39;



Jornalista, que lançou livro sobre o ex-presidente, diz que ele recusou proposta de Golbery de apoiar volta dos exilados



Observador privilegiado da ascensão do ex-presidente Lula, desde os tempos de líder sindical, o jornalista e escritor José Nêumanne Pinto defende em seu livro 'O que sei de Lula', lançado na semana passada, a desmistificação do petista como revolucionário e representante da esquerda. Considera Lula o maior político da História do país, mas diz que, na essência, ele é um 'conservadoraço'.



Nêumanne acompanhou, como repórter, a rotina de Lula no tempo das greves no ABC paulista. Os dois foram amigos, mas, com a eleição de Lula, a relação acabou.



- Sempre me rebelei com a imagem feita ao longo do tempo e pensei: tenho o privilégio de conhecer bem o assunto, a origem, a saga dele e o fato de ele nunca ter sido revolucionário de esquerda.



NÊUMANNE PINTO: 'O Lula foi o primeiro cara que uniu a esquerda, mesmo sem ser de esquerda'





Silvia Amorim





Qual a maior revelação que o livro traz?



JOSÉ NÊUMANNE PINTO: É que Lula não é de esquerda, é um conservador e grande conciliador.



O senhor questiona o mito em que ele se transformou. O que o fez chegar a essa conclusão?



NÊUMANNE: Isso não é uma opinião. Eu mostro isso com episódios. Entre 1978 e 1979, eu fui procurado pelo Claudio Lembo, presidente da Arena na época, porque ele tinha uma missão. O general Golbery do Couto e Silva queria fazer a volta dos exilados e queria apoio do Lula. A reunião foi em um sítio do sindicato, e lá eu ouvi o Lula dizer: 'Doutor Claudio, fala para o general que eu não entro nessa porque eu quero que esses caras se danem. Os caras estão lá tomando vinho e vêm para cá mandar em nós?' O Lula falava que a Igreja tinha dois mil anos de dívidas com a classe trabalhadora e que não resolveria em dois anos. Com os estudantes, dizia que poderia fazer um pacto: eles não encheriam o saco do sindicato e o sindicato não encheria o deles. Isso tudo eu vi, ninguém me contou. Ele é um conservadoraço. Nunca foi revolucionário.



E a história dele com o PT?



NÊUMANNE: Costumo usar a seguinte imagem para ilustrar a história da esquerda na vida dele. Pense numa cebola. O núcleo da cebola é o homem. O resto é casca ideológica e política construída ao longo do tempo. O meu objetivo era descascar essa cebola e chegar ao homem, porque eu acho que o segredo do sucesso do Lula é a condição humana dele, a origem, o ambiente familiar, a carreira no sindicato e, sobretudo, dois talentos, que não têm nada a ver com ideologia. O primeiro é o talento que ele tem de se comunicar. O segundo é que Lula é o maior de todos os conciliadores da História do Brasil. O Lula conseguiu um milagre. Quando eu conheci o Lula, falava-se muito que a esquerda brasileira só se reunia na cadeia, porque eram todos inimigos. E o Lula foi o primeiro cara que uniu a esquerda, mesmo sem ser de esquerda.





Qual dessas caraterísticas é, na sua opinião, a responsável por torná-lo, como o senhor diz, o maior político do Brasil?



NÊUMANNE: Ele é o maior político brasileiro e não considero isso, necessariamente, um elogio. Você sabe o que é o político brasileiro? É o cara que faz qualquer coisa para ficar no poder, e isso é o Lula. A primeira vez que eu usei essa expressão, o (ex-governador José) Serra me chamou e disse que Getulio Vargas era o maior político que o país tivera. Falei: 'Serra, o Getulio meteu uma bala no peito por causa de uma corrupçãozinha por causa de um segurança do pai dele. O Lula administrou uma quadrilha chamada mensalão e a oposição não tem um cara para enfrentá-lo na eleição. Nunca houve um conciliador como Lula'.



Isso foi aprendido ou é inato?



NÊUMANNE: É inato e foi desenvolvido. Quando conheci o Lula, ele não tinha noção desses talentos. Nas primeiras entrevistas que fiz com ele, na época do sindicato, ele era terrível, despreparado. Fui vendo, aos poucos, ele se transformar num cara genial, no meu melhor entrevistado. O talento de conciliador ele descobriu no bar da Tia Rosa, em frente ao sindicato em São Bernardo do Campo, onde fazia as negociações quando sindicalista. O PT que Lula fundou é a soma dos sindicalistas autênticos, a Igreja progressista e a esquerda armada.



Todos esses setores tinham como plano usá-lo para chegar ao poder, mas foi ele quem acabou usando todos eles?



NÊUMANNE: Defendo isso no livro. Primeiro, o Golbery pensou que ia dominar o Lula. A Igreja tentou usá-lo, mas, na primeira oportunidade, ele jogou a Igreja para escanteio ao escolher José Alencar para vice, representante de um partido evangélico.



E o ex-ministro José Dirceu?



NÊUMANNE. Lula usou o Zé Dirceu. O PT era esfacelado, e o Lula não tinha domínio sobre o PT. O Zé Dirceu é quem tinha e deu o domínio a Lula. Na primeira chance que ele teve, despachou o Zé Dirceu. Eu sempre achei que o projeto do Lula era o Palocci (ministro da Fazenda na gestão Lula).



O senhor diz que Lula não mudou tanto nesses quase 40 anos. Em que ele continua o mesmo?



NÊUMANNE: Apesar de ele dizer que é uma metamorfose ambulante, ele não mudou. Usa os mesmos métodos. No palanque, nos tempos do sindicalismo, a primeira coisa que aprendi foi o método dele. Ele botava dois companheiros para defender teses diferentes: um a favor de manter a greve e o outro contra. Ele olhava a reação do povo e decidia. Esse é o cara que colocou Dirceu versus Palocci. Ele governa na cizânia. Tem a sabedoria ancestral de dividir para reinar. Um repórter da revista 'Playboy' perguntou a ele quais eram as duas maiores personalidades do século XX. Ele disse Gandhi e Hitler. Um pacifista e um assassino. Isso é ele.



Acredita que ele voltará a disputar a Presidência?



NÊUMANNE: Cada dia mais eu me convenço de que esse é o plano dele.



Há algo que o senhor sabe sobre Lula e não está no livro?



NÊUMANNE: Tem coisas que não posso provar e, se escrevo, ou vou para a cadeia ou tomo um tiro.






Obs.: Essa de ir pra cadeia ou levar um tiro prova que o Apedeuta não é conciliador, nem conservador, mas um mafioso (F. Maier).







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