A comunidade nacional, desde sempre, votou grande apreço pelos indígenas. O romantismo da literatura brasileira primou pela exaltação exacerbada, nacionalista e idílica dos índios - símbolo e tema de vários títulos em prosa e verso. “Policarpo Quaresma”, personagem de Lima Barreto, rogava ao Congresso pela instituição do tupi-guarani como língua oficial brasileira.... Aliás, bem antes, Frei Santa Rita Durão compôs o poema “Caramuru”, em que o índio era o “bom selvagem”, consoante visão utópica de Jean Jacques Rousseau, para quem o aborígine era de uma pureza e bondade ímpares. No século XIX, integrados na “corrente literária indianista”, Gonçalves de Magalhães escreveu “A Confederação dos Tamoios”; Basílio da Gama, “O Uraguay”; Gonçalves Dias, “Y-Juca-Pyrama” e outras poesias; e José de Alencar nos legou “Iracema”, “Ubirajara” e “O Guarani” - inspiração da ópera de mesmo nome, de Carlos Gomes. Outrossim, o Exército Brasileiro orgulha-se de nossos silvícolas haja vista as denominações históricas de algumas de suas Organizações Militares, a saber: 7ª Brigada de Infantaria Motorizada, de Natal (RN), “Brigada Felipe Camarão”; 2ª Brigada de Cavalaria Mecanizada, de Uruguaiana (RS), “Brigada Charrua”; 4ª Brigada de Cavalaria Mecanizada, de Dourados (MS), “Brigada Guaicurus”; 2ª Brigada de Infantaria de Selva, de São Gabriel da Cachoeira, “Brigada Ararigboia”; 16ª Brigada de Infantaria de Selva, de Tefé (AM), “Brigada das Missões”; 3° Batalhão de Infantaria, de São Gonçalo (RJ), “Batalhão Ararigboia”; 54° Batalhão de Infantaria de Selva, de Humaitá (AM), “Batalhão Cacique Ajuuricaba”; 14° Batalhão Logístico, de Recife (PE), “Batalhão Diogo Camarão”; 16° Regimento de Cavalaria Mecanizado, de Bayeux (PB), “Regimento Piragibe”.
Entretanto, faz-se necessário que se confira ao índio a sua real dimensão. Ele não é o “bon sauvage” de Rousseau, nem um ser abjeto como não poucos desejam. Em verdade, de há muito, o historiador Francisco Adolfo de Vargnhagen, Visconde de Porto Seguro, nos advertia: “Nos selvagens não há o sublime desvelo que chamamos patriotismo, como sentimento elevado que nos impele a sacrificar o bem-estar pela glória da pátria” (Vargnhagen, apud “História Geral do Brasil”). Muitos tratam os indígenas como se todos estivessem no mesmo patamar cultural; no entanto, eles devem ser considerados de maneira diversa, sendo certo que há índios: 1) isolados - sem qualquer contato com a civilização; 2) em vias de aculturação, cujos contatos com os não-índios são intermitentes; 3) aculturados - os já partícipes da sociedade, sendo cidadãos como quaisquer outros, como desejava, recorde-se, o ínclito Marechal Rondon. Ressalte-se que apenas os referidos em 1) e 2), acima, permanecem sob tutela. No Brasil hodierno, os índios integrados ao mundo civilizado caçam com armas de fogo, usam “laptops”, possuem celulares, aparelhos eletrodomésticos, etc. Destarte, não há razão para tratá-los de modo igualitário, como quer o aparato indigenista/ambientalista, tão somente para auferir escusos dividendos, como vimos alertando em nossos escritos.
Atualmente discute-se a criação, na América do Sul (no Brasil, Argentina, Paraguai e Bolívia), de uma grande “nação guarani”que almeja a autonomia, conforme avençado no 2° Encontro Continental Guarani, ocorrido em março de 2011, no Paraguai...
Por derradeiro, nossas congratulações ao Exército Brasileiro e à Aspirante-a-Oficial amapaense Sílvia Nobre Lopes, a primeira oficial indígena (“waiãpi”) incorporada à Força Terrestre! (Continua).
(*) Manoel Soriano Neto – Coronel do Exército, Historiador Militar e Advogado.