A Tortura Institucional
por Dr. José Ricardo Camargo Xavier
Nos idos de 1964, quando da chamada Revolução de 1964, militares tomaram o poder pela força das armas para nos preservar de forças ocultas, e pela tentativa de destruição da liberdade, precária era verdade, mas de certa forma existia, muitos desmandos sabidos ocorreram.
Muitos morreram e lutaram por um Brasil melhor.
Veio a denominado fim da Ditadura, que na verdade apenas mudou de nome, mas a situação permanece, com seus focos criminosos Institucionalizados. E não querem os mandatários de plantão, e, pequenos grupos auto denominados fortes que tem a caneta em suas mãos, sentados sobre dinheiro e/ou poder concedidos pelos seus padrinhos, os mesmos que com força vilipendiante e agregados, não respeitam e nem querem respeitar o que Constitucional é, pois não interessa fazer prevalecer as Leis em vigor, apenas que aconteça o que lhes seja conveniente e manter o status quo de suas atuais posições.
Será que a chamada Ditadura tão combatida foi mesmo extirpada da mente de todos, ou permanece em alguns setores que fazem uso sabido dos detentores do chamado poder da caneta para perpetuá-lo?
Sei e conheço inúmeras pessoas de bem, trabalhadores que fazem esse país andar de verdade que ainda sofrem torturas, espancamentos, extorsões, assédio moral e físico, lavagem cerebral impostas para se obter o que desejam esses grupos, escondidos por detrás do símbolo de “autoridades constituídas”, que chamamos de polícia e seus partidários.
Não todos, felizmente.
Os órgãos fiscalizadores desses elementos também são omissos para com seus quadros, salvo, quando a mídia, ora com interesse, ora não, por ligações em subterfúgios, levam ao conhecimento público fatos que discorrem sobre a usurpação de Direitos Humanos, mas somente quando há real interesse em manifestá-los e o Ibope se elevará.
Alguns Promotores de Justiça e parte dessa justiça, Corregedores de Classes, Delegados Seccionais e seus subalternos, congregam a manutenção de Torturas, agressões, extorsões, escárnios, mortes inconfessáveis dentro de dependências onde exercem suas funções, as Delegacias de Polícia.
Não adianta Oficiar e/ou comunicar esses fatos a essas “autoridades” constituídas, pois se amigos ou laços íntimos ou profissionais e/ou de interesses outros existirem, nada será apurada, e, certamente a protelação será para o engavetamento daquilo que fato corriqueiro acontece diuturnamente, e as vítimas..........que vítimas diriam eles ! ?
Em mentes lineares, como as deles, impedidas por seus interesses em assim se manterem, ou por interesses de “autoridades” superiores, muitos cidadãos brasileiros já padeceram por imputação de crimes, nem sempre cometidos pelos apenados, mas para manterem calados os que sabem da verdade e podem prová-los, em seus próprios corpos deixadas as solenes marcas dessas atitudes, ou por atitudes chamadas de corriqueiras como: invasão de domicílio sem ordem judicial – que é ilegal, pois a ordem judicial deve ser lida e entendida para o endereçado, e eles policiais acham normal nada disso fazerem, e, dentro da “legalidade” agem como querem; espancamentos nas caladas dos dias ou da noites; imputação de crimes que só ocorrem em mentes doentias, pois não sabem pensar, apenas executar o que lhes manda o repertório e manutenção dos porões da Ditadura – DOPS = Departamento da Ordem Pública e Social, tão vivo como dantes,mas com outra denominação.
Há um cordão umbilical que unem e protegem essas “autoridades constituídas”, pelos favores passados por vínculos amistosos e/ou familiares, quais não se permitem apurar a luz da verdade e das Leis em vigor, nossa Constituição da República Federativa do Brasil e do próprio Código Penal Brasileiro, as atrocidades que praticam esses agentes das leis.
Como trabalhei por mais de 20 anos no Sistema Prisional, vi policiais adentrarem presídios e espancarem os apenados apenas por serem desafetos desses, com a conivência de Diretores desses Presídios, e infelizmente nada pude fazer para intervir nas agressões, apenas comunicar as autoridades competentes, e nada aconteceu.
Vi e fui testemunha do massacre do Carandiru, pois lá tratava da saúde dos apenados, por ter sido contratado para esse fim; e o fazia de modo exemplar, ao contrário dos que fazem apenas para justificar o salário que recebem. Carandiru foi uma aventura dos tempos bárbaros, um verdadeiro retrato do filme Conan o bárbaro – tendo como protagonistas os agentes penitenciários e os policiais comandados pelo Sr Ubiratan e seus asseclas.
Vilipendiaram vidas e nada aconteceu pelos interesses de quem apurava os fatos e dos envolvidos naquele massacre com muito mais que 111 vitimados, pois muitos saíram mortos pelos guindastes que estavam lá para levantarem o Carandiru 2, mas foram utilizados pra outros fins.
O fato é que não se pode julgar pelo simples fato de quer fazê-lo, pois para tanto existem juízes para esse fim.
Contudo, as provas estavam lá e ninguém foi punido pelos assassinatos cometidos, tudo em nome da proteção dos compadres envolvidos.
E quem escreveu sobre o Carandiru pouco trabalhava lá, até por ser cirurgião plástico voluntário, e quando aparecia a cada três meses, era apenas para visitação curricular.
Mas eu estava lá trabalhando como Enfermeiro, e vi cada ação e reação dos envolvidos, gravados em minha mente como um filme de terror que nunca quis assistir, menos ainda participar, mas eu vi e senti muitas mortes sendo praticadas por agentes da Lei.
O livro Carandiru é uma versão oficial e mentirosa de quem não sabia o que lá acontecia. E sabemos disso, e queremos apagar de nossa memória.
Fiz minha parte. Nada aconteceu. Não faço parte do cordão umbilical dos quem mandam nessa nação de degradados, oficiais ou não.
E assim caminha nossa humanidade brasileira.
Vi e senti vizinhos, amigos, e eu próprio passar por essas situações, por saberem muito e/ou comunicar esses fatos, caracterizando uma perseguição velada ao saber de crimes, delatá-los, mas quem os pratica são os mesmos que deveriam impedir e apurá-los, e são protegidos pelos componentes do cordão umbilical que ora permanece fazendo jus a manutenção da Ditadura subliminar. Os porões da Ditadura ainda acontecem, e muito.
Não interessa a quem de Direito fazer uma depuração dos fatos e dos quadros em nossos dias, dos que praticam a usura, prevaricação, torturas, espancamentos, extorsões, ou tentativas dessas, mesmo com comprovação, pois o “cordão umbilical” que os une fortemente não permite tal apuração e ação, pelo tamanho comprometimento que há entre as partes. Se não existisse esse comprometimento, porque não apuram e punem os prevaricadores e criminosos que usam o emblema de policiais e outras funções assemelhadas?
Se quisermos fazer uma pequena pesquisa, verdadeira e diferente do que pensam os membros do “cordão umbilical”, e se fato assim apurados in loco são verdadeira ou não, basta perguntar e observar o que acontece com nossos vizinhos, amigos e familiares, e outros tantos quanto possíveis, e veremos que os porões da Ditadura Legal e ora protegida estão mais sofisticados, premiados, e infelizmente para alguns, continuam ignorantes em seus pensamentos lineares.
As vítimas de torturas e demais crimes cometidos por agentes da Lei devem permanecer impunes e desconsiderados? Creio que não!
Bastam termos afastado a covardia de nos calarmos frente a essa situação que muitas coisas boas hão de vir e sentirmos como cidadãos de verdade, se deixarem os elementos do “cordão umbilical”
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