Em evento com Forças Armadas, Dilma evita polêmicas
Estadão.com.br
Por Leonêncio Nossa Agência Estado – 2 horas 48 minutos atrás
Em sua primeira solenidade de promoção de oficiais das Forças Armadas, a presidente Dilma Rousseff ignorou hoje o debate sobre violações aos direitos humanos nos anos do regime militar (1964-1985) e não permitiu imagens do momento em que recebeu as insígnias da Ordem da Defesa, maior comenda da área.
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Durante a solenidade, realizada no Salão Nobre do Palácio do Planalto, os promovidos evitaram bater continência à presidente e ex-presa política, limitando-se a apertar as mãos dos oficiais. A prática da continência ao chefe supremo das Forças Armadas era comum nas solenidades organizadas pelo cerimonial do palácio.
Num discurso lido, ela fez um afago aos militares rebatendo as críticas aos gastos com defesa. A presidente, porém, não comentou a sua decisão de cortar recursos da área militar e adiar a compra de caças para a Força Aérea Brasileira (FAB). "Em um País socialmente desigual como o Brasil, poderia parecer tentadora a noção de que a modernização e dimensionamento das Forças Armadas constituiriam esforço ocioso e prejudicial ao investimento em outros setores prioritários", afirmou. "Isso é um grande engano", completou. "O certo é que a defesa não pode ser considerada um elemento menor na agenda nacional".
No evento desta manhã( 05 abr), em que promoveu 70 oficiais da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, Dilma repetiu discursos de outros presidentes do período pós-ditadura ao ressaltar, de forma genérica, a "evolução democrática" das Forças Armadas e do País. Ela disse que o Brasil "corrigiu seus próprios caminhos" e alcançou uma "maturidade institucional". No discurso, ela também ressaltou o "profissionalismo" e a "dedicação" dos militares, destacando ainda a "importância" das Forças Armadas para garantia da defesa dos campos de exploração do pré-sal.
Ao final da solenidade, a presidente evitou falar com jornalistas, que estavam numa área afastada do palco da cerimônia. A uma pergunta sobre os arquivos da repressão mantidos em sigilo pelas Forças Armadas, Dilma respondeu: "Parabéns pra você".
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05/04/2011 18:36
Após calar Forças Armadas em 31 de março, Dilma é condecorada
Presidenta recebeu homenagem de militares após determinar fim das comemorações anuais do golpe de 1964 nos quartéis
Raphael Gomide e Andréia Sadi, iG
Ao lado do comandante do Exército, Enzo Peri, e do ministro da Defesa, Nelson Jobim, Dilma Rousseff recebe condecorações militares
Após ter determinado o fim das comemorações anuais nas Forças Armadas do golpe de 31 de março de 1964 e em meio à polêmica sobre a criação da Comissão da Verdade, a presidenta Dilma Rousseff recebeu nesta terça-feira, em Brasília, quatro condecorações dos comandantes militares. Por seu passado de militante de grupos guerrilheiros durante o Regime Militar (1964-1985), Dilma tem relações tensas com setores das Forças Armadas.
A data simbólica para os militares era celebrada no calendário oficial do Exército anualmente. No site da Força, o 31 de março constava da lista de datas comemorativas (hoje são 23), mas foi retirado este ano. Na ordem do dia nos quartéis do País, comandantes costumavam fazer discursos exaltando o movimento que resultou na ditadura.
Na quinta-feira passada (31 de março), foi cancelada de última hora a palestra do general-de-exército Augusto Heleno, então diretor do Departamento de Ciência e Tecnologia, sobre “A contrarrevolução que salvou o Brasil”, por determinação do ministro da Defesa, Nelson Jobim, cumprida pelo comandante do Exército, general Enzo Peri. Como Jobim já era ministro de Lula e as comemorações nunca foram proibidas, a ordem é atribuída a Dilma.
De acordo com José Genoino, assessor especial do Ministério da Defesa, “Jobim conduziu com as Forças Armadas um trabalho para que não houvesse comemorações nem retaliações no dia 31 de março”.
Na semana seguinte à polêmica, Dilma foi agraciada com a insígnia de Grã-mestra da Ordem do Mérito da Defesa, com as ordens do Mérito Militar – a mais elevada distinção honorífica do Exército Brasileiro – do Mérito Naval e do Mérito Aeronáutico. As honrarias são destinadas a pessoas que prestaram relevantes serviços às Forças Armadas. Como presidenta da República e comandante suprema das três Forças, ela recebe automaticamente a Grã-cruz, mais alto grau das condecorações de todas as Ordens.
Por ter integrado organizações da luta armada durante a ditadura, Dilma Rousseff enfrenta resistência de setores das Forças Armadas, especialmente entre os militares mais antigos e os da reserva. Em sites de militares da reserva ou reformados, é comum ver críticas e acusações contra a presidenta, que é chamada de “terrorista”, devido a sua participação na Polop (Política Operária), Colina (Comando de Libertação Nacional) e VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária Palmares, fusão da VPR com Colina).
A presidenta afirma nunca ter participado pessoalmente de ações armadas, embora admita sua filiação às organizações guerrilheiras. Foi presa em janeiro de 1970 em São Paulo e submetida a torturas. Condenada a seis anos de prisão, teve a pena reduzida a dois anos e um mês.