Ironicamente ou não, pois eles são aliados, as agruras de um coronel, Muamar Kadafi, da Líbia, podem ajudar outro - Hugo Chávez, da Venezuela. Mas só até certo ponto.
A guerra civil na Líbia e a rebelião pró-democracia no Norte da África e no Oriente Médio fizeram os preços do petróleo saltarem para as cercanias de US$100 o barril. Isto ocorre no momento em que a Venezuela enfrenta grave crise, o que levou a revista inglesa "The Economist" a indagar: "É possível um dos maiores produtores de petróleo do mundo ir à bancarrota?" Para a consultoria londrina Capital Economics, "há risco crescente de a Venezuela não conseguir fazer frente a suas obrigações financeiras em 2012".
A condução da economia por Chávez parece fazer de tudo para realmente tornar o país inadimplente. Mas, se o petróleo continuar num patamar próximo de US$100, esse desfecho deve ser adiado, e o ditador bolivariano poderá até se beneficiar de alguma folga para investir na campanha às eleições de 2012, reduzindo a possibilidade de a oposição - que pretende anunciar candidato único - derrotá-lo.
Segundo a Capital Economics, se o preço do petróleo continuar naquele patamar, as receitas de exportação da Venezuela deverão cobrir suas necessidades de divisas - US$11 bilhões em serviço da dívida, US$28 bilhões em fuga de capital e US$100 bilhões em importações - nos próximos dois anos. Mas há dois grandes problemas. Primeiro, nada garante que o petróleo continue naquele preço. Segundo, mesmo que fique, Chávez terá apenas uma sobrevida, pois a economia do país desmorona a tal ponto que ele depende hoje do petróleo para 92% de suas receitas de exportação.
"The Economist" considera uma das maiores causas do derretimento da Venezuela "a pilhagem" da estatal petrolífera PDVSA por Chávez, que a entulhou de correligionários, deixou-a à míngua de investimentos e usou-a para caixa de programas assistencialistas. A produção de 3,3 milhões de barris/dia em 1998 baixou para 2,25 milhões, dos quais 1 milhão é vendido a preços subsidiados interna (a gasolina na Venezuela é a mais barata do mundo) e externamente, na política de apoio a aliados, como Cuba, Bolívia e Nicarágua.
Chávez se mantém em guerra permanente com o setor privado, nacionalizando centenas de empresas e levando muitos empresários a desistirem do país. Com isso, passaram a ser importados muitos bens que eram produzidos internamente. O salva-vidas do ditador bolivariano tem sido a China, que desde 2008 emprestou US$12 bilhões, dinheiro que está sendo pago em petróleo, o que reduz ainda mais a receita da PDVSA.
Na contramão do mundo, Chávez colocou no Twitter uma mensagem de apoio a seu aliado: "Vida longa à Líbia e sua independência! Kadafi enfrenta uma guerra civil." Nada indica que vá durar muito mais o regime implantado por Kadafi, o mais longevo ditador no poder no mundo - 41 anos. Chávez dirige a Venezuela há 12 e pode se recandidatar indefinidamente. Mas se continuar no atual ritmo de destruição do país, antes que ele espera poderá ter o mesmo fim que parece aguardar o outro coronel.