1. Forçado a renunciar, Hosni Mubarak não entregou o poder a seu substituto constitucional, mas ao Conselho Supremo das Forças Armadas. Este aboliu a Constituição e dissolveu o Parlamento, tendo prometido nova Carta Magna e próximas eleições dentro de seis meses. Enquanto isso, o povo reunido na Praça Tahrir celebrava a vitória da democracia.
2. Na verdade, com a queda de Mubarak, os militares ampliaram de maneira considerável seu poder. Não suspenderam a Lei de Emergência e podem governar mediante decreto. Estão mais fortes do que na época de Mubarak. Toma tempo a preparação de uma nova Constituição e das leis concernentes à organização das eleições, a reestruturação dos partidos políticos e de seus candidatos, a escolha de um novo governo e tantas outras importantes medidas no sentido de uma transição segura e transparente para a democracia. Nada foi anunciado até agora nessa via.
3. Mubarak partiu, mas o poder permanece com o regime militar, não com o povo ou seus representantes. Aliás, o povo nunca esteve è frente da revolução. Eram 300.000 na Praça Tahrir, num Cairo com 12 milhões de habitantes – nada que se compare às grandes manifestações populares da revolução iraniana de 1979 ou dos levantamentos populares de 1989 na Europa Oriental.
4. No Egito, as forças armadas e policiais optaram por não enfrentar a multidão para se livrarem de Mubarak, de sua tirania, de sua corrupção e de sua megalomania – a ponto de pretender ser sucedido por seu filho, que sequer cumprira o serviço militar. Portanto, havia uma diferença crítica entre o regime militar e Mubarak.
5. Aquele consistia num conjunto complexo de instituições, que mantinham uma relação estreita com uma burocracia civil controlada por militares. Mubarak pretendia distinguir seus interesses pessoais dos interesses do regime. Por isso, o regime se revoltou. As manifestações populares não se voltaram contra o regime militar. Mas contra Mubarak. E deram aos militares o ensejo de preservar o regime.