"Na política, a lenta tenacidade vence sempre a força, não dominada; o plano elaborado triunfa sobre o impulso improvisado; o realismo sobre o romantismo."
(Stefan Zweig, Em Maria Stuart - Capítulo VI).
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O LONGO CICLO POLÍTICO DA ARENA!
1. Depois da eleição de 1965, onde as urnas sinalizaram oposição ao regime autoritário, os partidos constituídos a partir da "república de 1946" foram extintos e criado artificialmente um sistema binário com a ARENA -oficialista- e o MDB -híbrido. Com a democratização e as eleições de 1982, novos partidos foram criados. Em função das restrições, cinco partidos participaram das eleições: PDS, PMDB, PT, PDT e PTB.
2. O processo sucessório presidencial, marcado para 1985, abriu uma profunda cisão no PDS. Isso veio com a morte prematura do ministro da justiça, Petronio Portela (autor da emenda número 11 de 1978, que desenhou o processo de transição democrática), por uma ala do PDS que acompanhava esta orientação. Com a morte de Portela, Maluf tornou-se imbatível na convenção e, assim, abriu-se espaço para que um setor democratizante portelista do PDS organizasse a Frente Liberal, rompesse com o PDS, garantisse a eleição de Tancredo Neves e formasse um novo partido: o PFL.
3. A aproximação do PFL ao PP, da Espanha, na segunda metade dos anos 90, orientou seu caminho em direção ao Centro, reproduzindo a mesma estratégia do Partido Popular da Espanha. Após a eleição de 1994, o governador do Paraná e o prefeito do Rio, ambos PDT de origem, foram contatados pelo presidente do PFL, que apresentou a estratégia elaborada com o PP da Espanha. A entrada de ambos no PFL foi o primeiro grande passo naquela direção.
4. Após a eleição de 2002, iniciou-se uma segunda etapa, com diversos seminários. a elaboração de novos documentos programáticos e, finalmente, o Congresso de 2004, chamado de Refundação do PFL. O conteúdo destes documentos é claramente de um partido de centro, de caráter social-liberal. Completamente atual para este propósito.
5. O passo seguinte foi a mudança de nome para "Democratas" e a eleição de uma nova executiva, observando a renovação geracional de forma a que as "novas caras" do DEM -até pela idade- não sinalizassem envolvimento com o regime autoritário. É natural que, num processo como esse, de renovação politico-ideológica, um setor do partido fosse cético quanto a sua eficácia.
6. Era natural também, que uma mudança desse teor produzisse, como sempre acontece, perdas políticas e de mandatos por um período. Finalmente, a base tradicional do PDS-PFL no interior do nordeste foi capturada pelo PT -paradoxalmente- com um programa clássico social-liberal de igualação de ponto e partida, o bolsa-família. Essa perda de mandatos parlamentares e de chefes de executivo era perfeitamente previsível.
7. Mas ocorreu um fato inesperado. Os segmentos do partido mais próximos à representação de importantes setores econômicos, como, por exemplo, setores financeiro e de obras públicas, foram surpreendidos quando estes setores aderiram ao governo do PT. Isso estimulou uma aproximação com a base partidária do governo. Na verdade, este fato seria até bem-vindo, pois aceleraria o caminho do DEM em direção ao Centro e, com isso, a eliminação dos últimos vestígios da Arena no DEM.
8. Esses dois vetores se reforçaram (grupos econômicos urbanos e chegada ao centro) e produziram uma reativação dos vestígios de sobrevivência da Arena. Com isso, estabeleceu-se com maior nitidez uma disjuntiva: afirmar o DEM como partido de Centro, num modelo do PP da Espanha, ou fundir-se com o PMDB e migrar para a base do governo federal. É isso que se discute, tanto na recente eleição de líder na câmara de deputados, quanto na convenção de março de 2011: um retorno à Arena, ou um avanço ao Centro, conforme estratégia da segunda metade dos anos 90.