Telegramas de ex-embaixador de Washington minimizam proteção de Amazônia e pré-sal
BRASÍLIA. Em mais dois telegramas vazados pelo site WikiLeaks, a Embaixada dos Estados Unidos no Brasil minimiza dois temas caros ao projeto de defesa nacional. Na visão dos americanos, a ênfase na proteção da Amazônia é uma paranoia, e as reservas do pré-sal - frequentemente usadas para justificar um reforço à segurança marítima - não estão sob ameaça.
Produzidos em 2009, os comunicados têm a assinatura do ex-embaixador americano Clifford Sobel. Ambos tratam da Estratégia Nacional de Defesa, lançada pelo governo no ano anterior. Num dos trechos, o diplomata diz que, além de indicar os desafios para proteger a floresta de vizinhos instáveis, o projeto contempla a "tradicional paranoia brasileira em relação às atividades de organizações não governamentais e outras forças internacionais obscuras, que são popularmente percebidas como ameaças potenciais à soberania do Brasil".
Sobel sustenta que não há risco às reservas de petróleo, embora a mídia e os líderes brasileiros as citem rotineiramente como razão urgente para melhor a segurança das plataformas de exploração em alto mar. Ele escreve que os planos traçados coadunam com os objetivos de modernização e aparelhamento militar. Mas ressalva: "deixando de lado elefantes brancos politicamente populares como um submarino nuclear".
Procurados, os ministérios da Defesa e das Relações Exteriores não se pronunciaram. Em nota, a embaixada americana informou que não falaria sobre os documentos. "Os Estados Unidos veem o Brasil como um parceiro essencial no hemisfério e no mundo, e nós estamos dedicados a aprofundar nossas relações com o governo e o povo do Brasil", acrescentou.
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Folha de S. Paulo
Folha tem acesso exclusivo a dados sobre o Brasil
Thu, 02 Dec 2010 07:40:12 -0200
DE SÃO PAULO
Desde segunda-feira, a Folha publica reportagens com base em telegramas sigilosos -aos quais teve acesso exclusivo- produzidos pela diplomacia dos EUA no Brasil.
Os despachos fazem parte de um lote de 251.287 documentos diplomáticos obtidos pela organização WikiLeaks (wikileaks.org). Destes, 1.947 foram emitidos pela Embaixada dos EUA em Brasília.
Há também 12 telegramas dos diplomatas americanos baseados em Recife, 119 do Rio de Janeiro e 777 de São Paulo, num total de 2.855 documentos.
Até agora, só 16 foram divulgados, sempre com exclusividade pela Folha.
Na segunda-feira, o jornal revelou que o então embaixador dos EUA no país, Clifford Sobel, comunicou a Washington, em 2008, que o Brasil disfarça a prisão de terroristas.
Na terça, a Folha mostrou que, em 2008, os EUA se referiram ao Itamaraty como adversário com "inclinação antinorte-americana". O ministro Nelson Jobim (Defesa), porém, seria visto como aliado.
Ontem a Folha revelou que documentos emitidos em 2009 pela Embaixada dos EUA em Brasília contêm duras críticas à Estratégia Nacional de Defesa, lançada em 2008.
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Folha de S. Paulo
Divulgação gera crise diplomática para EUA
Thu, 02 Dec 2010 07:39:46 -0200
Premiês Putin, da Rússia, e Erdogan, da Turquia, cobram americanos por informações divulgadas por WikiLeaks
Robert Gates teria dito que "democracia russa sumiu`; já premiê turco pede controle dos EUA sobre seus diplomatas
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
O vazamento de relatos reservados da diplomacia americana desde o domingo pelo site WikiLeaks passou a ameaçar relações estratégicas dos EUA.
Ontem, houve reações exaltadas do primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, e de seu equivalente turco, Recep Tayyp Erdogan.
As respostas de ambos são os primeiros sinais concretos de atrito desde o começo do vazamento.
Até ontem, as reações de autoridades citadas em despachos da diplomacia americana tinham tom majoritariamente evasivo, sem ataques aos EUA.
Em entrevista ao programa de Larry King na CNN que seria veiculada ontem, Putin se utilizou de um tom inusitadamente duro para dizer a Washington que não interfira nos assuntos de ordem interna russa.
O ex-presidente e atual premiê da Rússia referia-se a documento de fevereiro, vazado agora, que atribui ao secretário da Defesa americano, Robert Gates, as declarações de que "a democracia russa desapareceu", e que o país é "uma oligarquia dirigida por serviço secreto".
A afirmação foi duramente rechaçada pelo premiê, que qualificou Gates como "profundamente desinformado" e alertou para que os EUA "não interfiram em decisões soberanas do povo russo".
Putin, descrito em outro documento como "Batman" do "Robin" Dmitri Medvedev -atual presidente-, disse ainda "não suspeitar que [esses relatos] fossem feitos com tamanha arrogância e de maneiras tão antiéticas".
Anteontem, o Kremlin havia dito que "heróis inventados de Hollywood não merecem comentários oficiais".
O estremecimento nas relações entre EUA e Rússia é uma ameaça àquela que é considerada uma das poucas iniciativas bem-sucedidas do governo Barack Obama na política externa: o "recomeço" da relação bilateral.
Putin aproveitou para também cobrar os EUA pela demora na ratificação de um tratado de redução de armas nucleares, o Start 2, parado no Senado.
O premiê afirmou que a Rússia vai ser obrigada a desenvolver e posicionar novos armamentos nucleares caso os EUA não a incluam num escudo antimísseis na Europa e não aprovem o tratado.
"Se nossas propostas receberem respostas negativas, e novas ameaças forem colocadas, teremos de garantir nossa segurança de outra maneira, [até mesmo] com tecnologias de mísseis nucleares", declarou Putin.
O sistema antimísseis em parceria com a Rússia, anunciado por Obama na última cúpula da Otan (aliança militar ocidental), é visto com ceticismo por Moscou, pois não prevê uma integração total.
Textos do WikiLeaks também revelaram a existência de artefatos atômicos dos EUA estacionados em ao menos quatro países europeus (Alemanha, Holanda, Bélgica e Turquia), o que pode ter desagradado à Rússia.
TURQUIA
Já o premiê turco qualificou de "caluniosas" informações de despachos diplomáticos de que ele possui contas em bancos da Suíça, é autoritário, odeia Israel e dirige governo de inclinação islâmica.
"Os EUA deveriam chamar os seus diplomatas a prestar contas. Os EUA são responsáveis pelas calúnias que fazem. Há mentiras e incorreções nesses documentos", declarou.
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Correio Braziliense
Washington na berlinda
Thu, 02 Dec 2010 07:39:07 -0200
Visão do Correio
Independentemente da relevância ou insignificância do conteúdo, há fatos incontestáveis no vazamento de documentos diplomáticos pelo site WikiLeaks. O mais evidente é o constrangimento causado à autoproclamada maior democracia do planeta. Os Estados Unidos foram postos na berlinda com a revelação de inconfidências de suas embaixadas mundo afora e vêm tendo incoerências contestadas e intromissões criticadas.
Na reação talvez mais violenta até agora, o primeiro-ministro da Rússia, Vladimir Putin, alertou Washington a não interferir em “assuntos domésticos russos”. Foi resposta a telegrama de 8 de fevereiro último, que veio à tona esta semana, em que o secretário de Defesa norte-americano, Robert Gates, manifestava-se sobre o governo de Moscou como “oligarquia gerenciada por serviços de segurança”.
Outra realidade inconteste no episódio é a fragilidade da guarda de correspondências classificadas como secretas pelo Estado norte-americano. É igualmente verdade que a responsabilidade pelo sigilo de telegramas com tal chancela é exclusiva da máquina estatal. Culpar o site é buscar a saída do marido traído no sofá de casa que troca o móvel para não se ver de novo na mesma situação.
Mais: além de ineficaz, por não proteger dado algum, a tática põe os EUA no perigoso papel de questionador da liberdade de expressão. Ator global que se apresenta como modelo de democracia autêntica não pode se pôr contra o anseio universal por transparência. Parta de onde partir, a humanidade deve rejeitar toda e qualquer tentativa de censura à internet.
Por fim, incontestável também se revelou a falta de coerência de Washington — seja nos fatos mostrados pela rede de intrigas que atingem países de suas relações, seja nas reações da Casa Branca à divulgação dos documentos. De um lado, a secretária de Estado, Hillary Clinton, tentou minimizar o caso, avaliando que ele não afeta a diplomacia dos EUA. De outro, o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, almirante Michael Mullen, manifestou-se preocupado com os problemas de segurança que possa provocar.
No que toca ao Brasil, não é novidade o antiamericanismo presente em setores do governo. Muito menos a resistência ao reconhecimento oficial do caráter terrorista das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Quanto à suposta declaração do ministro brasileiro da Defesa, Nelson Jobim, de que o ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos, embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, “odeia” os Estados Unidos, pode ser posta na categoria das fofocas. Como disse o presidente Lula, são insignificâncias que “não merecem ser levadas a sério”.
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Folha de S. Paulo
Governo dos EUA derruba WikiLeaks
Thu, 02 Dec 2010 07:41:35 -0200
Amazon interrompe acesso a site após pressão política da Casa Branca; conexão foi restabelecida no fim da tarde
A pedido de corte sueca, Interpol emite "alerta vermelho" em busca de Assange, fundador e face pública do site
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
Quatro dias após o início do vazamento de documentos sigilosos da diplomacia norte-americana pelo site WikiLeaks, o governo dos EUA reagiu de forma dura.
Pressionou a Amazon Web Services a interromper o contrato pelo qual fornecia o servidor de acesso ao site.
Em consequência, o WikiLeaks, que diz ter 250 mil documentos em seu poder, ficou fora do ar por pelo menos cinco horas. No final da tarde, voltou a funcionar, após transferir as operações ao servidor sueco Bahnhof.
A Amazon Web Services é parte da Amazon.com, popular site de venda de livros e outros produtos.
A informação foi dada primeiro pelo senador americano Joe Lieberman, presidente da comissão de Segurança Nacional do Senado.
Apesar de não pertencer a nenhum partido, Lieberman, ex-democrata, é próximo da Casa Branca. O senador disse que ele mesmo pediu à Amazon que cortasse o serviço.
O Departamento de Segurança Doméstica dos EUA também confirmou que fez gestões junto à Amazon para cortar o serviço.
O contrato entre o WikiLeaks e a empresa teria sido firmado nessa semana após o site ter dito que sofreu ataque de hackers nos últimos dias.
A Amazon não comentou as acusações. A reportagem da Folha entrou em contato com o escritório nos EUA, mas não obteve resposta.
"Eu peço a qualquer outra companhia ou organização que esteja abrigando o WikiLeaks a imediatamente encerrar a sua relação com o site", afirmou Lieberman.
Segundo o jornal "Wall Street Journal", a página dedicada aos documentos utilizava servidores da Amazon em Seattle (EUA) e da empresa francesa Octopuce.
Já a página principal usaria servidores da Amazon nos EUA e na Irlanda.
Com ironia, o perfil do WikiLeaks no Twitter reagiu.
"Servidores do WikiLeaks na Amazon derrubados. Liberdade de expressão na terra dos livres. Tudo bem, nosso $ agora é gasto para empregar pessoas na Europa."
O porta-voz do WikiLeaks, Kristinn Hrafnsson, disse que tem "caminhos de superar a suspensão do serviço".
PROCURADO
A Interpol emitiu ontem um alerta internacional para informar que Julian Assange, fundador do site, figura na sua lista de mais procurados.
O alerta vermelho da Interpol, usado para prender alguém provisoriamente, foi emitido a pedido da corte criminal de Estocolmo.
Assange é acusado de estupro, assédio sexual e coerção ilegal. Os supostos crimes foram registrados na cidade sueca de Gotemburgo.
O advogado dele, Mark Stephens, afirmou ontem que seu cliente está sendo perseguido pelas autoridades suecas, que promovem um processo penal sobre os supostos crimes.
Oficiais suecos afirmam que o alerta foi emitido porque ele não se disponibilizou a se reunir com procuradores. Stephens afirma que as autoridades suecas negaram repetidas ofertas para conversar com Assange.
Ele nega as acusações e diz que as denúncias são uma tática do Pentágono para desmerecer seu site. Contra a ordem de prisão, Assange, que está em local desconhecido, apresentou recurso.
A corte sueca ordenou a detenção de Assange em 18 de novembro, quatro dias antes do WikiLeaks anunciar que iria vazar novos documentos secretos.
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Folha de S. Paulo
O informante e outros figurantes
Thu, 02 Dec 2010 07:41:07 -0200
JANIO DE FREITAS
O que prometem os papéis dos EUA é motivo para serem levados a sério, a ponto de gerar medidas preventivas
A DESQUALIFICAÇÃO que Lula buscou fazer da revelação de documentos do governo americano, a propósito dos que expõem inconfidências do ministro Nelson Jobim ao embaixador dos EUA, presta-se a duas finalidades. Das quais, a de maior importância não é a que transparece nas palavras de Lula.
Feito com muita rispidez, o comentário de Lula referiu-se à correspondência em que o então embaixador Clifford Sobel comunicou ao seu governo a informação, recebida do ministro da Defesa do Brasil, de que Samuel Pinheiro Guimarães, ex-secretário-geral do Itamaraty e atual ministro de Assuntos Estratégicos, "odeia os Estados Unidos".
A frase inicial de Lula anunciou o despropósito que viria: "Por que eu tenho que acreditar num americano, que nem é mais embaixador aqui?" Não tem, acredita se quiser. Mas há motivos relevantes para o assunto ser levado a sério. Lula é o presidente brasileiro e a correspondência oficial diz respeito ao Brasil. Nela figurando o próprio ministro da Defesa como informante, a governo estrangeiro, de um dado inconveniente ao Brasil e a seu governo. De outra parte, a improbabilidade de um embaixador ser inverdadeiro ou impreciso em sua correspondência oficial, dirigida ao Departamento de Estado, recomenda considerá-la a sério, seja para o que for.
Lula tem muitas certezas em torno do assunto, mas feitas todas de suposições: "Tenho certeza do comportamento do Jobim, tenho certeza do comportamento do Samuel, tenho certeza de que os dois são amigos, tenho certeza de que um não falaria mal do outro". Não há quem possa ter tais certezas. Nem mesmo os próprios.
Apesar de farta experiência como testemunha (senão como personagem) de vazamentos com graves consequências, Lula sentencia sobre os documentos vazados do governo americano: "Se fossem importantes não teriam sido vazados". Mas só foram vazados por serem importantes.
A presença de Nelson Jobim como informante do embaixador não se limita a Samuel Guimarães, com inconfidências também sobre governante estrangeiro, caso de Evo Morales. Tanto em apenas meia dúzia de documentos já revelados com envolvimento do Brasil, o que prometem os restantes 1.900 com presença brasileira é motivo para serem levados a sério, mesmo por Lula, a ponto de provocar medidas preventivas. Como buscar a desmoralização das correspondências dos embaixadores americanos, dos documentos vazados em geral e do próprio vazamento.
Eleições presidenciais brasileiras têm deixado lados obscuros muito mais significativos do que os visíveis. A corrida de Collor ao então presidente George Bush pai, sua primeira iniciativa de eleito, foi para agradecimento. De quê? Bill Clinton mandou gente do seu time eleitoral para auxiliar Fernando Henrique a vencer Lula, e não faltaram retribuições -uma delas, a entrega do sistema de vigilância da Amazônia, a pedido de Clinton, à americana Raytheon. A eleição de Lula em 2002 não esteve mais exposta à claridade.
A estratégia da conciliação, traçada por José Dirceu para neutralizar esperáveis investidas contra o governo Lula, se tolerada sua eleição, não visou só ao conservadorismo interno.
Em relação aos Estados Unidos, a presença de George Bush filho na Casa Branca, e já nos desatinos do pós 11 de Setembro, era agravante dos riscos. A embaixadora à época, Donna Hrinak, foi muito receptiva. E os entendimentos caminharam para muito além do presumível. O que explica as recepções sempre simpáticas e as referências de Bush filho a Lula, assim como a complacência com as posições do Brasil na América Latina, com a recusa à Alca, as atenções a Cuba e o período de proximidade com Chávez.
Por trás da conciliação há registros. Depois dos vazamentos há revelações.
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Folha de S. Paulo
Brasil teme terror na Rio-2016, dizem EUA
Thu, 02 Dec 2010 07:40:50 -0200
Norte-americanos enxergam brecha para aumentar aproximação estratégica e criar oportunidades comerciais
Documento confidencial afirma que "risco" é que país "escolha relaxar com os louros da vitória e não comece a planejar"
FERNANDO RODRIGUES
DE BRASÍLIA
O governo brasileiro demonstrou "grande abertura em áreas como compartilhamento de informações e cooperação com o governo dos Estados Unidos -a ponto de admitir que pode haver a possibilidade de ataques terroristas" durante a Olimpíada de 2016, no Rio.
Esse relato consta de um telegrama confidencial de 24 de dezembro do ano passado preparado pela ministra conselheira Lisa Kubiske, da Embaixada dos EUA em Brasília.
No despacho, ela relata a seus superiores as oportunidades comerciais e de aproximação estratégica com o Brasil durante eventos esportivos globais, como a Copa de 2014 e a Olimpíada.
Pelo menos uma diplomata brasileira, Vera Alvarez, chefe da Coordenação-Geral de Intercâmbio e Cooperação Esportiva do Itamaraty, é citada também falando sobre o risco de terrorismo no país.
"[Ela] admite que terroristas podem atingir o Brasil por causa da Olimpíada, uma declaração pouco usual de um governo que oficialmente acredita que não exista terrorismo no Brasil", relata.
Durante a campanha para sediar o evento, o presidente Lula sempre citou como ponto positivo o fato de o Brasil não ser alvo de terrorismo.
O documento lido pela Folha com exclusividade faz parte de um lote de centenas de telegramas diplomáticos norte-americanos que estão sendo gradualmente divulgados pela organização não governamental WikiLeaks (http://cablegate.wikileaks.org/). A Folha.com criou uma seção sobre o caso (folha.com/wikileaks).
O despacho produzido pela Embaixada dos EUA traça um histórico a respeito da vitória do Brasil na disputa para sediar a Olimpíada.
Há menção ao uso eleitoral a favor da então pré-candidata a presidente, Dilma Rousseff. "[O presidente] Lula busca turbinar sua já alta taxa de aprovação e então usá-la para ganhar apoio para Dilma Rousseff."
Para a diplomacia dos EUA, apesar de o governo brasileiro admitir reservadamente riscos na segurança do país na Olimpíada, pouco está sendo feito a respeito. Aí abre-se um espaço para a influência norte-americana.
"Já há oportunidades para o governo dos EUA buscar cooperação a respeito da Olimpíada, e usar essa cooperação para ampliar seus objetivos no Brasil, incluindo fornecer mais experiência sobre atividades de contraterrorismo", diz o telegrama.
Mas o tom geral do relato é de desconfiança. Depois de vencer a disputa para sediar os jogos, diz a diplomata dos EUA, "o risco é que o governo brasileiro escolha relaxar com os louros da vitória e não comece a planejar".
Quase no final do documento, a norte-americana conclui dizendo que os EUA podem acabar tendo de socorrer o Brasil. "Articular objetivos mais amplos e deixar os detalhes para o último minuto pode ser o jeito tipicamente brasileiro de fazer as coisas, mas pode resultar em problemas", diz o texto.
"Os atrasos que nós esperamos do governo do Brasil em planejar e executar trabalhos preparatórios para que haja sucesso na Copa do Mundo e na Olimpíada vão quase com certeza colocar um ônus maior no governo dos EUA para garantir que o padrão necessário seja alcançado", continua.
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Folha de S. Paulo
Para americanos, apagão pode ter sido sabotagem
Thu, 02 Dec 2010 07:40:37 -0200
DE BRASÍLIA
Integrantes do governo brasileiro admitiram de maneira reservada a diplomatas dos EUA que o apagão elétrico de novembro de 2009 pode ter sido causado por "interesses do setor privado" americano com o objetivo de tentar "ganhar mais acesso comercial" ao sistema de distribuição energética no país.
Essa informação consta de um telegrama diplomático secreto americano datado de 1º de dezembro de 2009, assinado por Cherie Jackson. Também segundo esse relato, ao qual a Folha teve acesso, o ONS (Operador Nacional do Sistema) descartou a ação de piratas cibernéticos no apagão que atingiu 18 Estados.
Apesar de hackers ou crackers não terem sido considerados como possíveis responsáveis, eles já teriam obtido sucesso.
"Descartou-se a possibilidade de hackers porque, depois de algumas reconhecidas interferências no passado, o governo do Brasil fechou o sistema para apenas um pequeno grupo de operadores autorizados", diz o telegrama americano.
Ou seja, hackers já conseguiram interferir no fornecimento de energia no país em algum momento.
Essa é a primeira vez que uma fonte oficial -embora por meio de um relato diplomático dos EUA- fala sobre a atuação de hackers usando a internet para causar falhas no sistema elétrico.
VERSÃO OFICIAL
O relato sobre o apagão demonstra que os EUA se interessaram em saber os detalhes do ocorrido.
Nos contatos com autoridades brasileiras, também tomaram conhecimento da mesma versão apresentada ao público em geral: que dois curto-circuitos sequenciais causaram a queda do sistema em cascata.
Os diplomatas dos EUA elogiaram o amplo acesso que tiveram ao ONS e ao Ministério de Minas e Energia para obter as informações.
O governo brasileiro afirmou em um primeiro momento que fenômenos da natureza poderiam ter causado o blecaute. Depois, relatório técnico comprovou haver problema de manutenção. (FR)