Sempre digo que já passei do estágio de acreditar em Deus para o estágio de conhecê-Lo, ou seja, eu hoje SEI que Ele existe, e não apenas ‘acredito’ nesse fato.
Calma, eu explico.
Na minha formação como pessoa, e como médico, constantemente eu tenho me situado no dilema pessoal que surge perante a dúvida, a manifestação mais honesta da ignorância, e que me faz ponderar entre as duas atitudes básicas do espírito humano, a de ‘crer’ (ou acreditar) e a de ‘conhecer’ (ou saber).
Para cada coisa nova que se conhece, surge um oceano novo de dúvidas, fazendo-me parecer que, realmente, quanto maior for a ciência do homem, maior será a sua ignorância, e, portanto, maior a angústia de suas novas dúvidas.
Pois é exatamente na ciência que eu fui encontrar o conhecimento de Deus, não em escrituras sagradas, livros antigos ou atuais, nem nas cativantes teorias do espiritismo ou nos dogmas religiosos. Quase como de repente, me veio ao espírito a seguinte indagação que, mais do que uma das muitas dúvidas, representou praticamente uma demonstração axiomática da existência e da presença de Deus como efetuador do toda fenomenologia, dessa energia primeva geradora de todas as coisas, dos espaços, e dos princípios físicos e metafísicos que regem o universo, que mal começamos a conhecer.
A indagação é: “Como pode uma meia célula, haplóide, que nasce em nosso corpo com uma finalidade altamente restrita – que entre o nascer e o morrer terão decorrido apenas algumas horas –, ao juntar-se com outra meia célula, com as mesmas características ontológicas e biológicas, formar outra célula, diplóide, e com um potencial incrível de iniciar uma multiplicação “orientada”, pela qual produzirá um novo indivíduo completo e composto de bilhões de células altamente especializadas em tecidos e órgãos com funções caracterizadas para crescer, viver, se reproduzir, e morrer?
Que tipo de ‘energia’ extraordinária está envolvida nesse instante único em que o núcleo de um espermatozóide se funde com o núcleo de um óvulo para gerar um ovo, que resultará num novo indivíduo completo?
Em face do desconhecido, sempre tive a prática de não “acreditar” em explicações simplistas, ou dogmas filosóficos como resposta à minha ânsia de saber. É a educação científica que sempre tive. Desde que me entendo por gente, sei de há muito que acreditar é confortável, aprazível, calmante. Você acredita e vai dormir o sono dos justos.
Deixar, todavia, uma questão em aberto, dizendo para si próprio: “hoje eu não tenho a resposta para isso, mas amanhã talvez eu a tenha”, é uma atitude muito mais doída, muito mais corajosa, e que gera muito mais ansiedade e angústia. Mas é, também, a atitude que move o mundo adiante. É a atitude científica.
Quando eu pergunto: “Que tipo de energia está envolvida no ato celular e momentâneo da fecundação?” – eu estou apenas seguindo um hábito mental. Ora, quantos tipos de energia devem existir no universo sobre os quais nem sequer desconfia a vã filosofia humana?
Assim, me parece óbvio que um Deus a conhecer – e não simplesmente a acreditar – há de ser uma ou um conjunto de formas de energia do qual mal conhecemos apenas algumas. Sabemos hoje que a própria matéria é um estado concentrado de energia!
E como disse o poeta, certa vez, num momento de inspiração verdadeira, “tudo o que existe é imaculado e santo”... Ou seja, nós fazemos parte daquele ‘conjunto energético’ a que podemos chamar de Deus; estamos dentro d’Ele e seguimos os seus princípios, que regem a natureza de tudo que existe, pois que de certo é pré-existente.
Desde então, passei a ter a nítida sensação de que conheço Deus e não apenas, simplesmente, a de que creio nele. O interessante disso tudo é que, quase como uma consequência do fato, eu deixei de sentir a necessidade, que a maioria das pessoas têm, de praticar qualquer ritual religioso, embora eu nutra um profundo respeito e admiração por todos eles, desde que tenham como base o amor aos semelhantes, a tolerância, e o perdão como objetivo.
Não sei se me tornei uma pessoa melhor para os que me rodeiam, mas, o importante é que me tornei uma pessoa muito melhor perante mim mesmo.
Já houve época, no passado, que eu admitia que a interrupção voluntária de uma gravidez, desde que feita até a oitava semana de prenhez (até então com o embrião desprovido ainda de um sistema nervoso capaz de configurar sofrimento), era algo aceitável, tanto moral como psicossocial e cientificamente.
Hoje, não consigo aceitar sequer que se impeça a nidificação do ovo no endométrio, como ocorre com o uso do DIU e da pílula do mês seguinte. Como desfazer o que Deus fez ordinária, mas divinamente, no momento da fecundação?
Continuo a aceitar as práticas que impeçam a fecundação, tais como o uso de anovulatórios, de espermaticidas, de camisinha, e de outros mecanismos anticoncepcionais. Mas, uma vez que Deus tenha se manifestado pelo mistério energético divino da concepção, qualquer tentativa de destruir o que foi criado é moralmente, e até cientificamente, indefensável.
Acho mesmo que essa deveria ser a atitude das religiões, pois os subsídios da ciência podem ser usados para o seu aprimoramento, uma vez que ela, ciência, não compete com dogmas religiosos.
Da mesma forma, a Lei tem que respeitar o Direito Natural – o que equivale dizer que esse direito é o que decorre do dever da vida –, bem como a religiosidade e a espiritualidade das pessoas e, ipso facto, da comunidade, deve gerar leis que sejam cada vez mais justas e aplicáveis para o bom funcionamento da vida em comum.
Em suma, sob os aspectos citados neste artigo, estou convencido de que o aborto – perpetrado a partir da concepção em diante – é moralmente inaceitável, espiritualmente uma ofensa a Deus, um crime perante a maioria das religiões, e deve ser sempre considerado um delito a ser proibido pelo Direito Humano, em qualquer circunstância.