Trechos da coluna de Cesar Maia na Folha de SP (09).
1. A campanha eleitoral para presidente pode ser dividida em 3 momentos. O primeiro em que Lula procurou apresentar sua candidata pelo Brasil afora e cloná-la a seu governo. As pesquisas diziam que 40% dos eleitores votariam em qualquer candidato que Lula indicasse. Dilma chegou a este patamar antes mesmo da entrada da TV, onde aquela colagem seria garantida. O segundo momento dependeria da performance de Dilma que iria tentar capturar uma parte dos 40% de eleitores que diziam que isso dependeria dos candidatos. Dilma cresceu e passou dos 50%, conquistando mais de 35% desses eleitores independentes. Com a TV parecia que a eleição caminharia inexoravelmente para terminar no primeiro turno.
2. Nesse processo, surgiram escândalos no próprio gabinete da ex-ministra e no governo. Nada aconteceu com as pesquisas. Sondagens mostraram que o eleitor ao generalizar a desonestidade dos políticos, terminava por minimizar os fatos. Mas as denuncias jogavam Dilma na mesma cesta dos demais, fato novo para o eleitor que a viu como garantia comportamental pós mensalão do PT. Essa fragilização não afetou as pesquisas num primeiro momento, mas criou um ambiente favorável a perdas futuras, surgindo fatos novos. Serra trocou com Dilma e ficou patinando num patamar um pouco abaixo dos 30%. Abriu a campanha apostando num pós-Lula: continuidade com agregação: o Brasil pode mais. E depois, os escândalos o fizeram mudar.
3. Marina apostou em um discurso para o século 21: sustentabilidade ambiental. Ocupou o espaço do voto ‘politicamente correto’, um pouco abaixo dos 10%. A expectativa que se tinha é que com a fase final da campanha o voto útil poderia atingi-la. Mas o fato novo veio. Difundiu-se entre os evangélicos as entrevistas pré-eleitorais de Dilma, especialmente em relação ao aborto. A bandeira contra o PNDH-3 (aborto, etc.) passou a ser carimbada em Dilma. E a curva de queda dela nessa faixa do eleitorado foi se acentuando. Marina caminhou para perto dos 20%, paradoxalmente com seu eleitorado dividido ao meio: 50% progressista, os de antes, e 50% conservador, em função de valores cristãos que, aliás, são os dela efetivamente.
4. Muito dificilmente o eleitor conservador de Marina voltará a Dilma, que no dia seguinte a eleição soltava balões de ensaio em sua direção. Mas não irá compulsoriamente a Serra. O risco para esse será sempre da opção daqueles pelo voto nulo ou abstenção. Que, aliás, cresceu em 2010 em relação a 2006. A soma de brancos-nulos-abstenção foi de 25,16% em 2006 e 27,72% em 2010, preciosos, e quem sabe decisivos, 2 pontos e meio.
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SERRA CRESCE CINCO, DILMA CAI CINCO: VAMOS AOS NÚMEROS!
No primeiro turno, Dilma teve 46,9% dos votos e Serra 32,6%. Isolando os dois, significa Dilma 59% e Serra 41%. Agora, o Datafolha dá para o segundo turno: Dilma 54% e Serra 46%. Entre as mulheres Serra ganha de 43% a 42%.
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DEBATE NA LINHA ERRADA!
1. Faltam muitos dias e muitos debates. O eleitor indefinido não se define agora, mas somente na última semana. O primeiro debate não deveria ser para abrir o jogo, mas para ir entrando com a agenda vencedora: valores conservadores. Ou seja: a ética como um fim em si mesmo e os valores da família. Isso poderia ter sido feito indiretamente através de analogias com ações de governo feitas e propostas.
2. Serra tem que tomar cuidado com sua vantagem entre as mulheres no Datafolha. Em geral, o machismo tem prevalecido e a decisão de voto aproxima as mulheres dos homens.
3. A agenda de Dilma era Lula de novo. Se mudar, não sobra nada.
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"TRABALHEI EM FUNDRAISING NA CAMPANHA DA MARINA SILVA!"
(MD) 1. Em que pese a força das novas mídias, a comunicação no Brasil ainda é de massa. Temos um contingente enorme de eleitores analfabetos funcionais e gente muito pobre. Só a TV atinge 99,9% dos lares.
2. Eleição majoritária não pode pensar em nichos. Tem que agradar a maioria. O programa da Dilma tinha a linguagem da maioria, o do Serra não tinha, o da Marina muito menos.
3. A internet é crescente, mas equivale a um controle remoto de bilhões de canais. Tudo é disperso na internet, a não ser quando um assunto “cai na boca do povo”.
4. Então, o vídeo do tal bispo pode alcançar 3 milhões de visualizações, mas isso não é suficiente. Passassem aquele vídeo no Jornal Nacional, no Jornal da Record e outros e a Marina estaria no segundo turno. Questão de coisas óbvias em um plano de mídia: cobertura, impacto, frequência, afinidade.
5. O que determina o valor de um programa de TV ou de um movimento interativo na internet não é o meio, mas a mensagem, e que me desculpe o MacLuhan, o meio não é a mensagem. Eu posso fazer uma comunicação de 10 minutos na TV e não atingir o que interessa ao eleitorado. Repare que, proporcionalmente, o Tiririca foi muito mais bem sucedido que o Serra, a partir da TV. A publicidade não cria tendências, ela reforça tendências.
6. Quando começou a eleição perguntaram para a Marina como ela iria competir com os 10 minutos da Dilma. Ela respondeu: internet. Erro aritmético, em primeiro lugar. Bem feito como foi o programa de TV do PT, ela só não ganhou porque era a Dilma... Faltou simpatia e, consequentemente, credibilidade para muitos.
MORAL DA HISTÓRIA: os políticos precisam bem detectar as tendências do eleitorado majoritário, antes de produzir seus programas. E, no Brasil do momento, saber usar a TV e o rádio, que começa sabendo usar a linguagem que o povo entende. A Marina desaprendeu essa parte: o discurso dela só serve para a classe AB. O que ela consegue além é contaminação. Quanto à internet, esta pode ser motivada, mas vai funcionar espontaneamente, se estiverem refletindo as preocupações do eleitorado. E ainda não é suficiente. Espero estar somando.