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Artigos-->Apesar da podridão palaciana, Dilma continua subindo... -- 17/09/2010 - 12:01 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O Globo - 17/9/2010



Por Dilma, Erenice cai



Nova denúncia leva Lula a demitir ministra da Casa Civil para blindar sua candidata



Chico de Gois e Luiza Damé BRASÍLIA



Novas denúncias sobre a suposta participação da Casa Civil no esquema de tráfico de influência no governo federal, respingando agora na candidatura da presidenciável petista Dilma Rousseff, levaram o presidente Lula a demitir, ontem, a ministra Erenice Guerra, que assumira o cargo no início de abril. De acordo com acusação do consultor da empresa EDRB Rubnei Quícoli, publicada na “Folha de S.Paulo”, Israel Guerra, filho da ministra, cobrou R$ 450 milhões para ajudá-lo na liberação de um empréstimo no BNDES — que não foi aprovado pelo banco. E o ex-diretor dos Correios Marco Antonio de Oliveira, ligado a Erenice, teria pedido a ele doação de R$ 5 milhões, supostamente para cobrir despesas da campanha de Dilma e do ex-ministro das Comunicações Hélio Costa ao governo de Minas, que negam.



Quícoli confirmou ao GLOBO, ontem, as denúncias. Nas primeiras horas da manhã, o destino de Erenice Guerra já estava selado, para evitar prejuízo à candidatura de Dilma Rousseff. Sua saída do governo foi confirmada pouco depois do meio-dia, após encontro de Erenice com Lula, pelo porta-voz do Palácio do Planalto, Marcelo Baumbach, escalado para dar a notícia.



Na véspera, o Palácio do Planalto dera os primeiros sinais de que a sucessora de Dilma na Casa Civil estava em situação delicada, quando admitia em conversas a versão de que ela fora infeliz na nota de terça-feira, quando disse que as denúncias não passavam de calúnia e que eram fruto da campanha eleitoral e do adversário “aético e derrotado”, numa referência ao tucano José Serra. Como ministra da Casa Civil, Erenice tinha levado o escândalo que a atinge para a campanha.







Em nota, Erenice nega tudo



Erenice escreveu a nota após longa reunião com Lula e vários outros ministros, no Palácio do Planalto, mas a versão final foi considerada um tom acima do combinado.



Ontem, depois de seis dias de sucessivas denúncias envolvendo cada vez mais um maior número de parentes da ministra em atividades suspeitas no governo, o ministro de Comunicação do governo, Franklin Martins, e o chefe do Gabinete presidencial, Gilberto Carvalho, amanheceram na casa de Erenice, a residência oficial da Casa Civil.



A gravidade da nova denúncia — somada a outras durante a semana, desde que a revista “Veja” denunciou o caso — tornou a permanência de Erenice pesada demais para o governo.



O presidente Lula, que em crises semelhantes segurou o quanto pôde seus ministros, concluiu que não adiantava fazer campanha para Dilma pelo país arrastando um peso que acabaria puxando para baixo a candidatura de Dilma Rousseff.



Por isso, a solução foi sacrificar Erenice para tentar salvar a reputação de seu governo e de Dilma. A própria Dilma, já sabendo das novas denúncias, deu sinal verde logo cedo para derrubar Erenice.



Por volta das 13h, o porta-voz Marcelo Baumbach leu a carta de demissão da ministra, acertada com auxiliares de Lula e apresentada momentos antes ao presidente.



A vaga de Erenice foi assumida interinamente pelo secretário-executivo da Casa Civil, Carlos Eduardo Esteves Lima, um técnico que trabalha no governo desde a gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).



Na bolsa de apostas dois nomes foram citados para a chefia da Casa Civil: o do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, e da subchefe de Articulação e Monitoramento, Miriam Belchior, que coordena o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Mas a decisão deve ficar mesmo para depois da eleição. Há até quem aposte que Esteves pode ficar interinamente até o fim do governo Lula — seria apenas mais um ministro técnico entre os muitos que se espalharam pela Esplanada desde abril, com a desincompatibilização dos ministros políticos.



Além da denúncia do empresário paulista, o jornal “Correio Braziliense” publicou ontem que Israel Guerra, filho, e o irmão da ministra José Euricélio Alves de Carvalho eram funcionários do governo do Distrito Federal, nomeados para cargos de confiança quando José Roberto Arruda (ex-DEM) ainda era governador. Eles foram demitidos ontem pelo governo local.



Na carta divulgada no início da tarde, Erenice, se dizendo muito abalada, desqualifica as denúncias envolvendo seus familiares. Afirma que, apesar de buscar esclarecer as acusações, “defronto-me com toda sorte de afirmações, ilações ou mentiras que visam desacreditar meu trabalho e atingir o governo ao qual sirvo”.



Ainda na carta, lida pelo portavoz da Presidência, diz que não fez nem permitiu que se fizessem atos que não tenham sido pautados pelo cumprimento de seu dever profissional: “Nada fiz ou permiti que se fizesse, ao longo de 30 anos da minha trajetória pública, que não tenha sido no estrito cumprimento de meus deveres”.



Lembrou que pediu investigações de órgãos competentes, como a Polícia Federal, Controladoria Geral da União (CGU) e a Comissão de Ética da Presidência, como prova de que nada temia, mas, mesmo assim, “a sórdida campanha para desconstituição da minha imagem, do meu trabalho e da minha família continuou implacável”.



E fez questão de recorrer à sua formação cristã para se dizer perseguida: “Por ter formação cristã, não desejo nem para o pior dos meus inimigos que ele venha a passar por uma campanha de desqualificação como a que se desencadeou contra mim e minha família.



As paixões eleitorais não podem justificar esse vale-tudo.” Depois de se reunir com Franklin, Erenice foi para o Planalto e informou aos principais assessores que deixaria o governo. Estava abatida, mas resignada. Fez apenas um rápido comentário ao se despedir: — É a vida.







A queda



Merval Pereira







O presidente Lula age de acordo com as pesquisas eleitorais, nada importa mais do que eleger Dilma sua sucessora, e no primeiro turno. E a demissão da ministra Erenice Guerra pode ser um sinal de que a crise começa a afetar, mesmo que minimamente, as intenções de voto em Dilma.



Toda a estratégia montada por Lula há muito tempo previa uma eleição polarizada para ser resolvida a 3 de outubro.



Por isso, sempre que alguém aventa a possibilidade de haver um segundo turno, é acusado de “golpismo”.



Como se, como diz Marina Silva, dar mais tempo ao eleitor para se decidir fosse um ato de lesa-pátria, uma traição aos ideais democráticos.



Estranha democracia essa, que teme a confrontação direta entre os candidatos, que tem pressa em definir a eleição na primeira rodada.



Na verdade, o que os defensores da candidatura Dilma Rousseff temem, especialmente seu mentor, o presidente Lula, é que ela tenha que se expor mais ao debate durante o segundo turno, em condições de igualdade com Serra ou, mais remotamente, com Marina.



Na eleição de 2002, o presidente do Ibope dizia que, se o deputado Ciro Gomes tivesse viajado para a Austrália com sua mulher, Patrícia Pillar, e lá ficasse até o fim da eleição, estaria eleito. Ao contrário, ficou por aqui fazendo campanha e acabou pagando pela língua.



Dilma não chega a estar tão escondida quanto se tivesse viajado para a Austrália, mas tem sido protegida por um esquema palaciano o mais que é possível.



A t é m e s m o u m p ú l p i t o montaram para suas entrevistas coletivas, de forma a afastá-la dos repórteres.



Por que teria Dilma que falar sobre o caso da ministra Erenice Guerra?, pergunta o líder do governo Cândido Vaccarezza. Ora, simplesmente porque ela foi demitida da Casa Civil depois de sucessivos escândalos envolvendo sua família, e quem a colocou lá foi a própria Dilma. E porque vários dos casos denunciados ocorreram quando Dilma ainda era ministra-chefe do Gabinete Civil, e Erenice, seu braço-direito.



O que eu tenho a ver com isso?, pergunta a própria Dilma. Tudo, já que Erenice não tem existência própria sem Dilma, assim como Dilma não existe sem Lula.



Erenice não chegaria ao Ministério sem o apoio de Dilma, nem Dilma seria candidata a presidente da República sem Lula querer.



Fora isso, a demissão da ministra e as medidas anunciadas pelo ministro da Fazenda para tentar conter o vazamento de dados do Imposto de Renda de políticos e seus parentes mostram que as denúncias tinham fundamento e não são meras ações eleitoreiras, como o próprio presidente alegou inicialmente.



Na reta final da campanha eleitoral, eis que mais uma vez, a exemplo do que aconteceu em 2006, os “aloprados” petistas surgem para tumultuar o ambiente político que se anunciava risonho para a candidatura oficial de Dilma Rousseff.



Hoje, os “aloprados” surgiram em diversos lugares, e, embora nenhuma ação criminosa denunciada tenha o impacto daquela de 2006, pelo menos visual — a montanha de dinheiro vivo mostrada nos jornais e na televisão era a expressão material do mal feito —, a variedade e a gravidade de crimes cometidos no entorno do PT e do Palácio do Planalto podem ter impacto semelhante.



As denúncias sobre quebras de sigilos de parentes do candidato oposicionista José Serra, e de pessoas ligadas ao PSDB, deixam claro que, em meio às tantas irregularidades que surgiram na Receita Federal, houve, sim, um aspecto político relevante, ainda mais quando se sabe que as informações sigilosas apareceram em dossiês feitos dentro da campanha petista e em blogs ligados à campanha de Dilma Rousseff.



Mas o tema é de difícil entendimento para a média do eleitorado brasileiro, e sua repercussão ficaria restrita a um eleitor mais bem informado se não surgisse essa série de denúncias de lobby com objetivos financeiros dentro do Gabinete Civil da Presidência da República.



As pesquisas, que continuam dando a vitória de Dilma no primeiro turno, mostram que, entre os eleitores que se dizem bem informados sobre as denúncias, e entre os mais escolarizados e com renda mais alta, já há uma mudança de atitude em relação à candidatura oficial.



Entre esses, a queda de Dilma e a subida de Serra e Marina já indicam que haveria um segundo turno.



Outro fator que pode influir negativamente na escolha dos eleitores é a proximidade do ex-ministro e deputado cassado José Dirceu com a candidata oficial.



A palestra de Dirceu para sindicalistas em Salvador, ressaltando a força que o PT terá num futuro governo Dilma, deixou incomodados os dirigentes petistas e o Palácio do Planalto.



A imagem de Dirceu está associada à ala mais radical do PT, e ao mensalão, de cujo esquema foi acusado de ser o chefe da quadrilha pelo Ministério Público.



Sua influência num governo que não terá Lula para controlar seus “aloprados” assusta a classe média.



“Aloprados” foi como o presidente Lula chamou companheiros de partido que, na sua campanha de reeleição, se meteram em uma grossa enrascada ao tentar comprar com R$ 1,7 milhão em dinheiro vivo um dossiê com supostas denúncias contra o então candidato ao governo de São Paulo, José Serra, resvalando de maneira indireta na candidatura tucana ao Palácio do Planalto, naquele ano assumida por Geraldo Alckmin.



O presidente Lula não conseguiu ganhar no primeiro turno, como todas as pesquisas de opinião indicavam, devido à repercussão do episódio, e levou uma semana para se recuperar do baque. No segundo turno, teve uma vitória exuberante sobre Alckmin.



Ainda não há indicações oficiais de que a sucessão de escândalos abalou a tendência da maioria de votar em Dilma no dia 3, como Lula está pedindo. E Lula hoje é muito mais popular do que em 2006. Mas ainda faltam 17 dias para a eleição. E, como mostra a demissão da ministra Erenice Guerra, por mais popular que seja, o presidente Lula não pode tudo.







Temendo novo desgaste, Lula pode adiar escolha de ministro



Miriam Belchior foi cotada; Paulo Bernardo também seria uma opção



Gerson Camarotti e Cristiane Jungblut







BRASÍLIA. Avaliado dentro do Palácio do Planalto como o nome natural para assumir o comando da Casa Civil no lugar da ex-ministra Erenice Guerra, a coordenadora-geral do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), Miriam Belchior, perdeu força ao longo do dia.



Preocupado com a possibilidade de um novo desgaste para o Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode prolongar a interinidade do secretárioexecutivo da Casa Civil, Carlos Eduardo Esteves Lima, no posto.



O temor de Lula é que a nomeação de Miriam possa resgatar, a apenas duas semanas da eleição, o polêmico episódio do assassinato do ex-prefeito petista de Santo André Celso Daniel, com quem ela foi casada.



A indicação de Miriam Belchior chegou a ser confirmada informalmente pelos corredores do Planalto no início da tarde, pouco depois de o portavoz da Presidência, Marcelo Baumbach, ter lido carta explicando o pedido de demissão de Erenice Guerra. Ontem à noite, no entanto, ministros e petistas avaliavam que a melhor solução seria aguardar as eleições, para só depois nomear um novo chefe para a Casa Civil.



O presidente Lula deve conversar com Miriam no início da próxima semana. Segundo fontes, ela não se sente segura para assumir o cargo. E o presidente quer parar para pensar melhor na solução.



Ministro Alexandre Padilha também seria uma opção Por enquanto, a intenção é dividir as atribuições da Casa Civil. O chefe de Gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, acumularia parte da agenda, e o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, assumiria atribuições da parte operacional. Miriam continuaria coordenando o PAC.



Os nomes de Paulo Bernardo e do ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, foram citados como possibilidades para assumir ou acumular o comando da Casa Civil depois das eleições.



— Conversa! Estou de férias no Paraná. A decisão será depois da eleição. O resto é boato — disse Paulo Bernardo ao GLOBO.



Miriam foi casada por dez anos com Celso Daniel, mas já estavam separados quando ele foi assassinado, em 2002.



Investigações apontaram que ele foi assassinado porque tentou acabar com um esquema de propina em Santo André.



Miriam chegou a ser apontada pelo ex-cunhado João Francisco Daniel como uma das pessoas que se opuseram ao suposto esquema de corrupção na gestão do exprefeito.



Em depoimento ao Ministério Público de São Paulo, em 2005, declarou desconhecer qualquer esquema de corrupção.



O nome de Miriam era o preferido pelo presidente Lula para assumir a Casa Civil em março, no lugar de Dilma Rousseff, que saiu para concorrer à Presidência. Ela também contava c omo apoio de Gilberto Carvalho.



Os dois foram secretários em Santo André, interior paulista. Na ocasião, o presidente Lula decidiu assumir a nomeação de Erenice Guerra para agradar a Dilma.



Interino pode continuar até o final do ano A solução para o cargo deve ser caseira e não está descartado que Carlos Eduardo Esteves, que trabalhou na assessoria do PT no Senado, continue interinamente como ministro até o fim deste ano. Carlos Eduardo Esteves é tido como técnico e gestor, e não um petista de carteirinha.



O presidente Lula, segundo fontes, não quer fazer uma mudança que implique dança de cadeiras, o que enfraquece o nome de Paulo Bernardo para o próximo governo, em caso de vitória de Dilma.







Rancor e paranoia







Ninguém discute: José Dirceu diz o que pensa. Outro dia, num sindicato de petroleiros, denunciou uma conspiração da mídia com a oposição, com apoio ostensivo — não estou brincando — do Supremo Tribunal Federal, para sabotar praticamente tudo de bom que Lula e o PT tentam fazer pelo Brasil.



Para ele, a mídia abusa do poder de informar(?), pratica monopólio e nega o direito de resposta e o direito de imagem.







É claramente um discurso paranoico.



Quase não vale a pena rebater, mas não custa lembrar que informar não é um poder, mas uma obrigação dos meios de comunicação. E que o direito de resposta é regulamentado em lei. Nenhuma empresa de comunicação se atreve a negá-lo, quando determinado pela Justiça. Nem poderia, obviamente.



E é brincadeira falar em monopólio da informação — mesmo numa cidade com apenas um grande jornal, como acontece agora no Rio — quando, além da TV, do rádio e da imprensa, a circulação de informações pela internet expõe a opinião pública a uma massa de fatos e opiniões como nunca antes na história do planeta.



Os petroleiros foram também informados por Dirceu que os votos do ministro Carlos Ayres Britto, do Supremo Tribunal Federal, são na verdade discursos políticos. O que permite a especulação de que não sabia que havia repórteres na plateia. Afinal ele é o mais proeminente réu no processo do mensalão, o maior escândalo político e policial do governo Lula. E que o STF vai julgar qualquer dia desses.



Dirceu disse também, em tom acusatório, que “os tribunais brasileiros estão formando jurisprudência”. Esqueceu-se de informar aos petroleiros que a jurisprudência nasce exclusivamente de decisões de juízes e tribunais. Em outra pérola do pensamento dirceísta, há uma conspiração da oposição com a imprensa — sem exceções, o que é realmente extraordinário — para impedir a aprovação de projetos do governo.



Esse discurso paranoico e rancoroso não é característico da administração petista. Lula não parece ter qualquer motivo para sentir raiva da vida. Por isso mesmo, é provável que não tenha a menor vontade de se solidarizar com a amargura explosiva de seu antigo todopoderoso auxiliar. E Dilma, que deve sua recentemente inaugurada carreira política ao buraco em que Dirceu se meteu, muito menos. O que talvez ajude a explicar o rancor e a paranoia.







Amiga, braço-direito de Dilma e ministra por apenas 170 dias



Enquanto esteve no governo, emprego para o filho, irmãos e até ex-cunhada



Chico de Gois e Luiza Damé







BRASÍLIA. Amiga, braço-direito, principal assessora e indicada por Dilma Rousseff (PT) para sucedê-la na função que deixara para entrar na disputa pela Presidência, Erenice Guerra, que ontem oficialmente pediu demissão da Casa Civil depois de seis dias de sangramento sob o teto do Palácio do Planalto, teve longa parceria com a presidenciável, mas curta permanência no cargo de ministra. Cargo, aliás, para o qual já era dada como certa na possível vitória da candidata do PT. A demissionária ficou ministra 170 dias.







Dilma foi a fiadora de sua auxiliar.



Para demonstrar força política, a “mãe do PAC” bancou Erenice, contrariando, numa das raras vezes, o desejo de seu chefe, o presidente Lula, que preferia ver Miriam Belchior, hoje coordenadora do PAC, na Casa Civil. Lula é amigo de longa data de Miriam, cujo apartamento em Santo André frequentava na época em que ela era Miriam Daniel, casada com o prefeito Celso Daniel, assassinado em 2002.







Erenice é filiada ao PT desde 81



Na posse de Erenice, e de demais ministros, em 31 de março, Lula fez questão de dar seu recado. Ao se dirigir a Dilma, afirmou: — (...) Eu, se pudesse colocar duas ministras em uma só, eu colocaria a Erenice e a Míriam Belchior no... não cabe... Mas a Erenice é a parte que ajudou a Dilma a tocar a Casa Civil, e a Míriam Belchior ajudou a tocar o nosso PAC. Portanto, uma vai continuar cuidando do PAC.



Erenice é brasiliense, mas sua família saiu do Ceará em 1957 e levou dois meses viajando até chegar ao Distrito Federal.



O pai foi pedreiro em Brasília e, segundo Erenice, trabalhou na construção do Palácio do Planalto, mas morreu sem entrar no prédio. No discurso de transmissão do cargo, Erenice contou que, quando já estava na Casa Civil, trouxe a mãe para conhecer o Palácio e tirar fotos com o presidente. Ela disse que chorou ao perceber que a mãe estava emocionada.



Erenice é filiada ao PT desde 1981 e trabalhou no governo de Cristovam Buarque (hoje PDT, mas na época no PT) no Distrito Federal e na assessoria da bancada do partido na Câmara. No final de 2002, na equipe de transição, passou a atuar na área de infraestrutura, onde conheceu Dilma.



As duas também atuaram juntas no Ministério de Minas e Energia, onde a agora candidata foi ministra, antes de assumir a Casa Civil. Erenice era consultora jurídica da pasta.



Nomeada secretária-executiva da Casa Civil em junho de 2005, na época da crise do mensalão, Erenice se mostrou “mão para toda obra” e era uma das responsáveis por tocar a menina dos olhos de Lula e Dilma: o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).



Para quem, até então, fazia questão de atuar com discrição, avessa a entrevistas e badalações, Erenice teve passagem constante pelo noticiário político, sempre a vinculando a ações pouco ortodoxas. No início de 2008 seu nome foi parar no meio do escândalo dos cartões corporativos, onde foi apontada como principal suspeita de ter elaborado um dossiê a respeito de despesas de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) quando presidente (1995-2002).



Essa discrição externa não a inibiu de atuar com desenvoltura em áreas internas. Com o poder que mantinha, deu jeito de arrumar emprego para vários parentes: o irmão Antônio Eudacy Alves Carvalho foi para a Infraero e depois na Controladoria Geral da União (CGU); o filho Israel na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a irmã Maria Euriza Alves de Carvalho no Ministério do Planejamento; a ex-cunhada Gabriela Pazzini na Secretaria do Patrimônio da União; o outro irmão, José Euricélio, no Ministério das Cidades; e o amigo de seu filho, Vinícius Castro, na Casa Civil.







Durante a posse, elogios a Dilma



Além da Secretaria Executiva da Casa Civil, Erenice participava do conselho fiscal da Petrobras e do conselho da Chesf. Desde 2005, integrava o Conselho de Administração do BNDES. Foi justamente a acusação de que seu filho havia pedido R$ 5 milhões para intermediar um empréstimo do banco à empresa EDRB do Brasil a pá de cal na incipiente carreira de ministra de Erenice.



Na sua posse, diante de sua madrinha, Erenice foi toda elogios a Dilma e disse, no discurso, que não a decepcionaria: — Tenho muito orgulho de estar substituindo a ministra Dilma na Casa Civil. E a única coisa que posso dizer é que farei tudo o que estiver ao meu alcance para não decepcionála, para honrar sua confiança em mim e para continuar esse trabalho que acho que é uma missão.







Datafolha: Dilma tem 51% e Serra está com 27%



Segundo a pesquisa, petista venceria no primeiro turno; Marina tem 11% das intenções de voto







SÃO PAULO. Apesar dos recentes escândalos que envolvem a campanha de Dilma Rousseff (PT) — a quebra de sigilo de tucanos e a denúncia de tráfico de influência na Casa Civil —, ela venceria hoje, no primeiro turno, a disputa pela Presidência da República, segundo pesquisa Datafolha divulgada ontem pela “Folha de S.Paulo” e pela Rede Globo. Dilma tem 51% das intenções de voto contra 27% de José Serra (PSDB) e 11% de Marina Silva (PV).



Na simulação de um eventual segundo turno, Dilma venceria com 57%, contra 35% de Serra.



O Datafolha fez 11,8 mil entrevistas em 423 municípios, de 13 a 15 de setembro. A margem de erro é de dois pontos. A pesquisa foi registrada no TSE com o número 30014/2010. Na pesquisa anterior, Dilma tinha 50%; Serra, 28% e Marina, 10%.



Segundo o Datafolha, 57% dos eleitores tomaram conhecimento da denúncia de quebra de sigilo fiscal de Verônica Serra, filha de Serra, e de outras pessoas ligadas ao tucano. Mas só 12% declararam estar bem informados sobre o episódio.



Dilma lidera em todas as regiões do país, faixas de renda e de escolaridade. As únicas mudanças significativas aconteceram em Curitiba e em Brasília, onde perdeu oito pontos. Não houve perguntas sobre o caso de tráfico de influência. O levantamento foi encomendado por “Folha” e Rede Globo. Os demais candidatos não pontuaram.



Os votos em branco somaram 4%, e os indecisos, 7%.





***





O Estado de S. Paulo - 17/9/2010



Lula e o adeus ao poder



Aloísio de Toledo César







Há um componente novo no comportamento do presidente Lula que se torna aparente cada vez com maior frequência. Em ambientes e locais diversos, ele passou a demonstrar uma emoção quase incontrolável, que o deixa com os olhos marejados, a voz embargada e o rosto comprimido pela emoção. Interlocutores privilegiados garantem que ele já começa a viver a emoção da despedida do poder.



Não é preciso ser psicólogo nem estudioso da alma humana para concluir que essas demonstrações de emoção são sinais da tristeza que está por vir, em decorrência do próximo e inevitável adeus aos oito anos de poder quase imperial.



Talvez não seja muito delicado dizer isto, mas, para quem chegou a São Paulo num pau de arara e, a despeito da baixa escolaridade, construiu pelas próprias pernas uma quase inacreditável carreira política, deve ser medonho afastar-se do Palácio do Planalto, do avião a jato disponível a qualquer hora, da multidão de bajuladores, dos assessores que batem palmas até doerem as mãos.



Os banquetes, os almoços com os amigos, os vinhos de US$ 2 mil a garrafa, o poder de influir sobre a vida de tantos - tudo isso forma um universo de situações felizes que deixarão de existir quando outra pessoa lhe suceder no Palácio do Planalto.



Ainda que se possa admitir a hipótese, bastante plausível, de que sua candidata acabará por se eleger, em verdade quem vai estar no palácio, nos banquetes, no avião presidencial será ela. Isso o tornará, quem sabe, um conviva festejado, mas já não será o alvo das homenagens e honrarias.



Quando o triunvirato do horror (presidentes da Bolívia, da Venezuela e do Equador) vier ao Brasil, para os costumeiros agrados e obtenção de apoio, a atenção não estará mais voltada para a sua pessoa, e sim para o novo chefe da Nação, seja homem, seja mulher.



Se houver um novo convite da rainha da Inglaterra para o inesquecível passeio na carruagem imperial, o beneficiado já não será o antigo líder metalúrgico. De outra parte, possivelmente nunca mais sentirá de perto o hálito de bomba atômica de seu amigo e aliado presidente do Irã - e tomara que fique aliviado com isso.



Sem nenhuma dúvida, o presidente Lula começa a tornar aparentes os efeitos dessa próxima e irreparável perda de poder. Os políticos costumam dizer que o poder é como mulher bonita, que a gente não deve deixar para o outro, mas Lula nesse aspecto demonstrou uma certa grandeza, que merece ser destacada.



Com os inacreditáveis índices de popularidade que conquistou, não lhe seria difícil estimular os aliados no Congresso Nacional, que constituem maioria, a aprovar uma emenda constitucional capaz de lhe garantir o direito de disputar o terceiro mandato.



Os seus adversários temiam isso, mas ele foi leal a si próprio, às promessas que fizera de não ficar e afastou de pronto a possibilidade. Ou seja, o momento político eleitoral oferecia-lhe a possibilidade de permanecer mais quatro anos no Palácio do Planalto, no avião presidencial, no centro das atenções, mas o seu lado democrático não o deixou sucumbir. É justo que se lhe credite respeito por esse gesto.



Nesta antevéspera de seu afastamento, é importante reconhecer que talvez ninguém na História deste país tenha conquistado posição tão elevada e tanto prestígio em tão pouco tempo. Sobretudo, ninguém que saiu lá de baixo, como Lula, alcançou índices de popularidade tão expressivos.



Sempre se disse que Lula é um homem de sorte e não há dúvida alguma quanto a isso. Quem se lembra de que o Brasil era a "bola da vez" no governo de Fernando Henrique Cardoso? Por melhores que se mostrassem os passos da política econômica, naquela oportunidade, o ambiente externo era hostil ao extremo e impunha ao Brasil uma dura provação.



Com Lula deu-se o contrário: o panorama externo tornou-se bastante favorável e a escalada da economia consolidou gradativamente a melhora no padrão de vida de número bastante significativo de brasileiros. Sem dúvida, o controle da inflação, que devemos ao antecessor Fernando Henrique, concorreu para isso, mas é forçoso consignar que houve em parte êxito nos esforços da atual política econômica. Tanto assim é que pessoas beneficiadas, agora, externam sua aprovação. Há até mesmo indicativos razoavelmente confiáveis de que os brasileiros da classe C caminham para subir para a classe B, o que, se vier a ocorrer, será muito bom para o Brasil.



Nessa aura de sorte que o acompanha, Lula assiste agora, seguramente com satisfação, à aprovação popular de sua candidata à Presidência da República, refletida em todas as pesquisas de votos.



E a sua sorte é tamanha que os adversários tucanos, sempre incapazes de fazer oposição, não percebem que, ao fustigar a adversária, fazem com que ela cresça cada vez mais na aprovação popular.



Até mesmo a abominável quebra do sigilo fiscal de diversos tucanos parece ajudar a candidata Dilma Rousseff, porque, na medida em que é atacada pelo adversário José Serra, este cai nas pesquisas eleitorais, na mesma proporção em que ela sobe. Há uma certa ingenuidade, quase tolice, em não perceber que isso está acontecendo.



A incapacidade tucana de fazer oposição não permitiu que seus líderes, até agora, enxergassem uma ululante realidade: as quebras do sigilo fiscal tornadas públicas em momento algum atingiram o filho do presidente Lula, ou o seu famoso compadre ótimo nos negócios, nem José Dirceu, nem Delúbio Soares, nem nenhum outro político da cúpula petista. Somente tucanos foram atingidos.



Imagino o que os petistas fariam se tivesse ocorrido o contrário. Enfim, Lula tem também a sorte de seus opositores serem os tucanos.



ADVOGADO, É DESEMBARGADOR APOSENTADO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO. E-MAIL: ALOISIO.PARANA@GMAIL.COM







Lula acusa oposição de ``jogo rasteiro``



Em comício, ele diz confiar ""cegamente"" em Dilma, critica ""elite rabugenta"" e diz que tucanos são ""bando de bichos espertos""



Leonencio Nossa e Carol Pires - O Estado de S.Paulo







Mais de dez horas depois de afastar Erenice Guerra da Casa Civil para evitar problemas na campanha presidencial do PT, o presidente Lula reafirmou que confia "cegamente" na candidata Dilma Rousseff, antecessora da ministra demitida. Em comício na periferia de Belém, ele acusou a oposição de tirar proveito eleitoral das denúncias de tráfico de influência de forma suja.



"Quero dizer para essa elite política rabugenta que não vamos fazer o jogo baixo, rasteiro, com acusações e preconceitos", afirmou. "Queremos comparar cada coisa que fizemos com o que eles fizeram."



Lula disse que os tucanos formam um "bando de bichos espertos". "Nunca vi bando de bicho de bico tão grande e cantar fácil", disse. "Eles sabem tudo, mas não dizem que um presidente trabalhador fez mais universidades que um presidente doutor", afirmou, referindo-se ao antecessor, Fernando Henrique Cardoso.



Dilma não compareceu. O PT informou que ela estava com problema no pé e não pôde viajar.



Na estadia em Belém, Lula não escondeu certo abatimento com o escândalo na Casa Civil. No discurso, ele admitiu que a situação estava difícil. "Uma lição eu aprendi. Quando a situação está difícil, só tem um remédio: conversar com o povo na rua, que entende das dificuldades. O que não pode é um governante se esconder."



Inquérito. Depois de entoar o coro de que as denúncias sobre tráfico de influência na Casa Civil eram eleitoreiras, o presidente do PT, José Eduardo Dutra, anunciou ontem que o partido pediu à Polícia Federal abertura de inquérito para investigar as denúncias. A legenda acionará o empresário Rubnei Quícoli, autor das novas denúncias, na Justiça criminal (crime de calúnia e difamação). Para Dutra, as acusações de Quícoli revelam "uma clara tentativa de forjar um envolvimento do PT e da campanha".







Escândalo da Receita não afetou Dilma, indica Datafolha



Levantamento mostra petista com 51%, ante 27% de Serra e 11% de Marina, em condições de se eleger no 1º turno



Daniel Bramatti - O Estado de S.Paulo







A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, venceria no primeiro turno se a eleição fosse realizada hoje, com 51% dos votos, segundo pesquisa Datafolha divulgada ontem.



O candidato do PSDB, José Serra, tem 27% das intenções de voto, e Marina Silva, do PV, 11%. Ambos mantiveram os índices registrados na pesquisa anterior, feita entre os dias 8 e 9 de setembro. Dilma oscilou um ponto porcentual para cima.



A petista e o tucano oscilam dentro da margem de erro desde o dia 24 de agosto, o que mostra que o escândalo da violação do sigilo fiscal de tucanos não afetou o quadro eleitoral.



Segundo o Datafolha, 57% dos eleitores já tomaram conhecimento das quebras ilegais de sigilo fiscal - apenas 12%, porém, se declararam bem informados sobre o escândalo da Receita.



Mesmo nos setores de maior renda e escolaridade - que costumam ser os mais bem informados -, Dilma não sofreu prejuízos. Ela oscilou um ponto para cima entre os eleitores com curso superior e subiu quatro entre os que têm renda familiar superior a 10 salários mínimos.



A candidata petista lidera em todas as regiões do País, com destaque para o Nordeste, onde tem 47 pontos de vantagem (65% a 18%. Serra tem seu melhor desempenho no Sul (34%).



O Datafolha ouviu 11.784 eleitores em 423 municípios. O levantamento foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral com o número 30.014/2010.





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Folha de S. Paulo - 17/9/2010



Editoriais



A grande família







Demissão de Erenice Guerra alimenta suspeitas sobre a montagem de um balcão de negócios no ex-ministério da candidata Dilma Rousseff



A ministra Erenice Guerra, braço direito e substituta da petista Dilma Rousseff na Casa Civil, não resistiu a mais uma reportagem com relatos acerca de atividades de tráfico de influência e cobrança de comissões supostamente praticadas por membros de sua família. A Folha trouxe, na edição de ontem, a explosiva história de uma empresa que afirmou ter sido orientada a procurar a Capital Consultoria, de um filho da então secretária-executiva do ministério, para liberar um empréstimo bilionário do BNDES.



Segundo os autores da denúncia, em conversas gravadas pela reportagem, houve troca de e-mails com um assessor da Casa Civil e realizou-se uma reunião entre representantes da empresa que pleiteava o empréstimo e Erenice.



A firma do filho da ministra demissionária teria cobrado pelo serviço seis pagamentos mensais de R$ 40 mil, além de uma "taxa de êxito" -um eufemismo para propina- de 5% sobre o valor do financiamento. Segundo as declarações, o pacote também incluiria uma doação de R$ 5 milhões, supostamente para a campanha de Dilma Rousseff.



Em síntese, de acordo com os depoimentos colhidos pelo jornal, um balcão de negócios, montado no coração do Poder Executivo, tentou vender facilidades para uma empresa interessada em recursos bilionários do banco de fomento do governo federal -que utiliza dinheiro do Fundo de Amparo ao Trabalhador na concessão de crédito a juros subsidiados.



Para completar o descalabro, segundo um dos entrevistados, o ministério servia de guichê partidário com a finalidade de arrecadar fundos para a candidatura oficial. Em que pesem as negativas, o pedido de demissão da ministra reforçou conjeturas acerca de sua participação nas tratativas.



O caso, que se reúne aos malfeitos reportados pela revista "Veja" nesta semana, também lança dúvidas sobre o comportamento de Dilma Rousseff e da própria Presidência da República. Todas as reportagens dão conta de que havia uma quadrilha atuando sob o nariz do chefe do Executivo, em seu mais próximo e estratégico gabinete -a mesma Casa Civil em que se montou, no primeiro mandato, o esquema do mensalão.



O episódio não deixa dúvida quanto à crescente promiscuidade, no atual governo, entre interesses públicos e privados. Oito anos de incrustação petista na máquina pública foram suficientes para promover, além do conhecido loteamento fisiológico, a partidarização sem precedentes do Estado brasileiro.



O pequeno clã dos Guerra talvez possa ser visto como uma espécie de ilustração em miniatura de um conglomerado maior, a grande família dos sócios do lulismo, formada por uma legião de militantes, aproveitadores e bajuladores que parece ver no exercício das funções públicas uma chance imperdível para enriquecer e perpetuar privilégios.



Infelizmente, essa espantosa instrumentalização das estruturas governamentais, em tudo compatível com o perfil estatizante, corporativo e arrivista do PT, tem encontrado na figura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva o seu principal fiador.



Inebriado com seus elevados índices de popularidade, o mandatário é o primeiro a estimular a impunidade e a minimizar os "erros" de seus companheiros.



Da compra do apoio de partidos e parlamentares à violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa, passando pela devassa no Imposto de Renda de milhares de cidadãos, entre os quais adversários políticos do PT, tudo é atribuído a conspirações da imprensa ou de "inimigos do povo"; nada é investigado a fundo.



Apurar, ao que tudo indica, não é mesmo um verbo que se conjugue no Palácio do Planalto. Ali, prefere-se iludir, tergiversar, apaniguar. Por isso mesmo é de esperar que ainda existam instituições públicas com suficiente independência e iniciativa para proceder a uma averiguação rigorosa desses episódios.



Nesta hora em que as pesquisas de intenção de voto apontam para uma vitória acachapante da candidata oficial, mais do que nunca é preciso estabelecer limites e encontrar um paradeiro à ação de um grupo político que se mostra disposto a afrontar garantias democráticas e princípios republicanos de forma recorrente.



O Brasil não pode ser confundido com uma espécie de "hacienda" da grande família petista.



Se não há evidências sobre a participação de Dilma Rousseff em desvios como os agora apontados, é inevitável questionar a escolha de Erenice Guerra para exercer as funções de secretária-executiva e, posteriormente, chefe da Casa Civil da Presidência.



Ninguém mais do que Dilma sabia com quem estava tratando. Faltou-lhe argúcia para perceber o que se passava? Desconfiou, mas não tomou providências? Tudo não passa de um grande engano? É preciso que se responda.



Há tempos o país vem assistindo à modelagem da figura pública da postulante petista pelo presidente da República e seus propagandistas. Já é hora de o marketing dar lugar ao debate e ao questionamento. Os brasileiros precisam de informações que permitam aferir com mais acuidade as virtudes e defeitos daquela a quem Lula, em mais uma de suas sintomáticas e infelizes metáforas, empenha-se em entronizar como a "mãe" do país.







ELIANE CANTANHÊDE



Geração espontânea?







BRASÍLIA - E não é que a Casa Civil caiu mesmo? A ministra Erenice Guerra foi convidada gentilmente a pedir demissão, e só falta o presidente Lula explicar se foi:



a) para fazer um gesto de caridade com a oposição, coitada, que vai perder feio em 3 de outubro;



b) porque sucumbiu a um complô maligno da imprensa com a elite branca contra a ministra;



c) diante da evidência de que Erenice, os filhos e os irmãos estavam botando a mão na cumbuca;



d) e/ou para todo mundo esquecer rapidinho que Erenice era unha e carne com Dilma Rousseff.



Com Erenice aboletada na Casa Civil, a poucos metros do gabinete presidencial, evidentemente o noticiário seria pautado pelo escândalo durante toda a reta final da campanha. Com Erenice de volta à sua insignificância de "ex-assessora", Lula certamente conta que o caso vá saindo da manchete e perdendo espaço, até se restringir a um pé de página e cair na vala comum do esquecimento, como tantos outros.



Só que Erenice Guerra não chegou ao cargo mais importante do governo porque quis ou por geração espontânea, mas, sim, porque foi indicada pela chefe Dilma, com quem trabalhou lado a lado. Como Dilma é franca favorita para vencer a eleição no primeiro turno, precisa explicar com que informações, com que critérios e de que forma escolhe e nomeia suas pessoas de confiança. Ou é demais pedir isso da virtual presidenta da República?



O PT sempre foi craque ao devassar a vida alheia, providenciar dossiês e contas bancárias para CPIs e até, se necessário, transformar cem em mil, ou mil em um milhão para potencializar o estrago no adversário. Então, como é que o governo nomeia uma pessoa toda enrolada para o ministério mais importante sem saber quem é?



O partido era muito bom para investigar os outros, mas perdeu o pique e não quer ouvir falar de investigação para si mesmo. Nem para o aliado PMDB, evidentemente.







Procuradoria quer anular contrato no AC



Há suspeitas de favorecimento de empresa em venda de helicóptero ao governo; ação pede de volta R$ 9,2 mi



Procuradoria diz que valor de aeronave foi abusivo; empresa não comenta e governo diz que compra foi regular



JEAN-PHILIP STRUCK



DE SÃO PAULO







O Ministério Público Federal no Acre entrou com uma ação para anular um contrato entre a Helibras e o governo do Estado de compra de um helicóptero em 2008.



Segundo a Procuradoria, houve favorecimento da empresa no pregão e o valor pago pela aeronave foi abusivo.



A Procuradoria pede que a Helibras devolva R$ 9,2 milhões -valor corrigido do pagamento do aparelho, que à época custou R$ 7,9 milhões para os cofres do Acre.



A Helibras foi presidida até março pelo ex-governador e candidato ao Senado Jorge Viana (PT). Ele é aliado do atual governador Binho Marques (PT), responsável pela compra, há dois anos, e irmão de Tião Viana, candidato petista ao governo.



A Helibras afirma que ainda não foi notificada da ação e que ainda vai aguardar para comentar o caso.



O governo do Acre diz que o método usado na compra foi considerado adequado pelo Tribunal de Contas da União e que não concorda com a ação do Ministério Público. Jorge Viana negou anteriormente tráfico de influência na Helibras.



Segundo a ação, a empresa foi favorecida porque detalhes do pregão para a compra do helicóptero incluíam requisitos disponíveis apenas em aeronaves fabricadas pela Helibras, o que prejudicou os concorrentes. De acordo com a Procuradoria, o pregão especificava até a cor dos assentos da aeronave que o Acre queria comprar.



O Ministério Público também afirma que comparou valores de helicópteros fornecidos pela Helibras a outros Estados à época e notou um sobrepreço de R$ 1 milhão no comprado pelo Acre.



O modelo aplicado para a compra, o pregão presencial, também foi irregular, segundo a Procuradoria, que afirma que deveria ter sido realizada uma concorrência.



A aquisição do aparelho foi fruto de convênio celebrado entre o Estado do Acre e o Ministério da Justiça, quando Tarso Genro (PT) ainda era ministro.



No dia 6 de setembro, a Folha mostrou que a Helibras pagou uma viagem na França para servidores do Ministério da Justiça responsáveis por liberar verba para os Estados comprarem aeronaves.



A compra investigada foi feita antes da viagem.



A ação do Ministério Público também pede para que sejam ouvidos os responsáveis pelo negócio -o governo do Acre e a empresa. A ação teve origem em um inquérito civil público instaurado em novembro de 2009.



Não é a primeira vez que o Ministério Público Federal no Acre toma medidas contra o aparelho.



Em 2009, a Procuradoria pediu que a pintura da fuselagem, que mostrava uma estrela vermelha, fosse mudada. A estrela foi interpretada como propaganda do PT. O pedido não foi atendido.







Casa Civil é hoje a pasta mais influente do governo



DE SÃO PAULO







Criada em 1938 por Getúlio Vargas durante o Estado Novo para ser um órgão de assessoramento do presidente, com o tempo a Casa Civil passou a concentrar cada vez mais atribuições e hoje é o ministério mais poderoso.



A Casa Civil coordena e fiscaliza a atuação das demais pastas, verifica a legalidade dos atos presidenciais e analisa o mérito dos projetos enviados ao Congresso, avalia e fiscaliza as licitações públicas e as nomeações e transferências de funcionários.



No organograma federal, o titular da Casa Civil preside seis câmaras setoriais (Desenvolvimento Econômico, Política Cultural, Recursos Naturais, Infraestrutura, Integração Nacional e Política Social), duas comissões ministeriais (Biodiesel e Investimentos Produtivos) e diversos grupos de trabalho (Amazônia Legal, BR-163, Microempresas, Setor Sucroalcooleiro, Cooperativismo).



Além disso, o ministro da Casa Civil gerencia a maior vitrine do governo Lula -o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e seu sucessor, o PAC 2.







REGIME MILITAR



A proeminência da Casa Civil começou a se delinear durante o regime militar. Até 1964, o responsável pelo chamado Gabinete Civil não tinha nem mesmo o status de ministro extraordinário, a despeito da notoriedade de alguns de seus ocupantes -Lourival Fontes (segundo governo Vargas), Victor Nunes Leal (Juscelino Kubitschek), Hermes Lima e Darcy Ribeiro (João Goulart).



Na gestão do general Emílio Garrastazu Médici (1969-1974), o ministro João Leitão de Abreu tornou-se um dos ministros mais importantes, ao lado de Orlando Geisel (Exército), que se destacava na área militar, e de Delfim Netto (Fazenda), que gerenciava a área econômica.



Seu sucessor no cargo, Golbery do Couto e Silva, foi o grande articulador da abertura política que marcou os governos de Ernesto Geisel (1974-1979) e João Baptista Figueiredo (1979-1985).



Com a redemocratização, a pasta perdeu força política, mas recuperou o seu prestígio no governo Lula, que elevou a secretaria à condição de ministério e foi ampliando suas atribuições e o número de cargos de confiança -que cresceram de 419 para 539.



Até o escândalo do mensalão, em 2005, a influência de José Dirceu -principal operador político de Lula- rivalizava com a do do ministro da Fazenda, Antonio Palocci.



Após a queda de Palocci em 2006, Dilma Rousseff logo se tornou a principal colaboradora do presidente -que em março de 2008 já despontou como candidata do PT à sua sucessão.







Serra defende punição de "todos os responsáveis"



DE CAMPINAS



DE BRASÍLIA







O candidato à Presidência pelo PSDB, José Serra, disse ontem, em Campinas (93 km de SP), que a saída da ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra é "um primeiro passo" e derruba a tese adversária de que as denúncias tinham "um caráter eleitoral".



"Hoje, o que se precisa de fato é uma investigação séria, que não jogue areia nos olhos dos brasileiros. Pelo contrário, jogue luz sobre este escândalo para que todos os responsáveis diretos e indiretos possam ser punidos. Essa é uma questão do nosso país, não é uma questão de uma candidatura", disse.



Uma empresa de Campinas confirma, segundo reportagem da Folha, que um lobby opera dentro da Casa Civil e acusa Israel Guerra, filho de Erenice, de cobrar dinheiro para obter liberação de empréstimo no BNDES.



"A saída [da ministra] é um primeiro passo. Tem que ver as investigações agora, porque até ontem [anteontem] estavam dizendo que era uma jogada eleitoral", disse.



Para o tucano, a campanha da candidata à Presidência pelo PT, Dilma Rousseff, usa como "pretexto" a alegação de que as denúncias têm "caráter eleitoral".



"Agora, todo escândalo que aparece sempre tem um pretexto. [Dizem que] é a eleição, que são denúncias de caráter eleitoral. A prova é que o governo foi obrigado a afastar essa toda poderosa ministra", disse Serra.



O candidato afirmou ainda que a saída da ex-ministra e as acusações têm a ver "com os rumos do Brasil".



"Essa não é uma questão eleitoral, é uma questão que tem a ver com os rumos do Brasil. São sucessivos escândalos na Casa Civil nos últimos anos, um mau exemplo para o Brasil e também um problema grave para o funcionamento do governo. Eu não falo aqui como candidato, eu falo como brasileiro."



Quando questionado se a saída da ministra poderia ter reflexos na campanha eleitoral, Serra negou. "Eu não estou vendo desse ângulo."



"Eu tenho certeza de que a população brasileira não é tolerante com esse tipo de coisa. A Casa Civil é considerado o principal ministério do governo e nós temos tido gestão após gestão escândalos nessa área, isso não pode mais acontecer", disse.



Serra realizou uma caminhada de uma hora pelas principais ruas e avenidas do centro de Campinas.



Uma mulher que se identificou apenas como professora cobrou de Serra, aos berros, melhores salários aos docentes.







OPOSIÇÃO



O presidente do DEM, Rodrigo Maia, disse ser impossível dissociar a atuação de Erenice da candidata do PT. "Ela [Dilma] já está com a perna engessada, já está mancando e vai ter dificuldades no futuro. Vamos ter segundo turno e vai ser bom para o Brasil", afirmou, em referência à bota ortopédica que a petista passou a usar esta semana.



Para o senador Alvaro Dias (PSDB-PR), a demissão de Erenice não é suficiente para encerrar o episódio. "Ela tem que ser responsabilizada criminalmente. Vão aparecer novos casos [de corrupção] na Casa Civil."







Marina pede que investigação continue após saída de Erenice



ENVIADO ESPECIAL A VARGINHA (MG)







Ao comentar a demissão da ministra Erenice Guerra, a candidata Marina Silva (PV) disse esperar que as investigações não cessem e pediu aos eleitores que provoquem o segundo turno para o país refletir sobre a situação.



Em Varginha, no sul de Minas, ela disse que "não se pode açodadamente definir os rumos do país com coisas tão graves acontecendo". E acrescentou que "[há] um monte de coisa turvando essas eleições".



A candidata disse esperar punição. "É fundamental [haver] investigação séria e punição para comprovação dos casos de corrupção, tráfico de influência e o que for."



O afastamento de Erenice, disse ela, "não pode significar que passou, não".



Marina ligou os fatos à eleição ao lembrar que Erenice foi servidora de confiança da candidata Dilma Rousseff (PT).



(PAULO PEIXOTO)







ENTREVISTA



Sociólogo adverte para penetração do crime no país



UIRÁ MACHADO



DE SÃO PAULO







A existência de candidatos ligados a facções criminosas sugere uma nova etapa da estruturação do crime organizado no Brasil, diz o sociólogo Claudio Beato.



Coordenador do Centro de Estudos em Criminalidade e Segurança Pública da UFMG, ele teme a "contaminação das instituições políticas" e diz que o remédio está na própria democracia.



Folha - A polícia suspeita que o candidato a deputado Ney Santos (PSC) tenha ligações com o PCC. A penetração na política é uma meta do crime organizado?



Claudio Beato - Estamos assistindo a uma evolução na organização da criminalidade no Brasil. Isso não ocorre só com o PCC. O fenômeno das milícias, no Rio, é outro exemplo de que o crime organizado está buscando representação política. A busca por penetração na Câmara mostra que passamos a uma nova etapa da estruturação do crime.



Isso é preocupante?



Estágios anteriores de estruturação das organizações criminosas levam a problemas para as comunidades. É nessa nova etapa que começa a haver uma contaminação mais acentuada das instituições públicas. Isso é que é muito preocupante. Se olharmos para outros países, sempre vamos achar exemplos de algum momento em que houve essa mistura da política com a criminalidade.



Estamos longe de chegar a uma situação como a que houve na Colômbia cerca de 15 anos atrás. Mas precisamos prestar muita atenção para esse novo fenômeno.



Quando o crime organizado chega a esse estágio de estruturação, que tipo de resposta o Estado precisa dar?



O principal antídoto é o funcionamento das instituições democráticas, tal como está ocorrendo no momento. É preciso identificar claramente o fenômeno, ver quem está envolvido, apontar os elos. Enfim, manter a a polícia investigando e a Justiça funcionando. De uma forma geral, as instituições têm reagido bem.







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