Não poderia haver situação mais confortável para a candidata oficial do que começar a campanha de rádio e televisão hoje com as pesquisas mostrando-a em ascensão e com a possibilidade de vencer já no primeiro turno. Não era esse o cenário que o candidato oposicionista imaginava, e provavelmente a estratégia montada deve ter sido alterada na última hora
Todas as contas de José Serra eram de chegar ao horário eleitoral pelo menos em situação de empate técnico, para virar o jogo com o auxílio da campanha eletrônica e dos debates que ainda se realizarão.
O problema é ainda maior porque o tucano está perdendo força em estados e mesmo regiões onde deveria ter seu melhor suporte eleitoral: em São Paulo, com reflexos na região Sudeste, e no Sul do país.
Desde a última eleição, o país vem votando dividido por regiões no primeiro turno, o que o torna muito semelhante, em termos eleitorais, aos Estados Unidos, que têm estados vermelhos (republicanos) e estados azuis (democratas).
E existem os estados que são chamados de “campos de batalha”, onde os dois partidos disputam os votos de maneira equilibrada.
O presidente Barack Obama se elegeu em 2008 tendo vitórias históricas em estados que tradicionalmente optavam por candidatos republicanos, como Ohio e Pensilvânia.
E ganhou também em “campos de batalha” como Virgínia, que não escolhia um candidato democrata desde 1964, mas mesmo assim não era considerado um estado “vermelho”.
Aqui no Brasil, as regiões Sul e Sudeste têm sido “tucanas”, enquanto o Norte e o Nordeste têm votado com o PT.
Até as pesquisas de ontem, esse equilíbrio se mantinha, embora já fosse detectado um enfraquecimento da candidatura de José Serra em estados em que a oposição domina, como os estados do Sul, onde, mesmo continuando na liderança, a distância para Dilma estava sendo reduzida.
Na região Sudeste, a vitória do PSDB dependia basicamente do tamanho da diferença tirada em São Paulo.
O ex-presidente Fernando Henrique chegou a tirar 5 milhões de votos em cima de Lula em 1998, o que certamente foi decisivo para que vencesse no primeiro turno por uma pequena margem.
O ex-governador Geraldo Alckmin, mesmo sendo derrotado, venceu em São Paulo com 3,8 milhões de votos de diferença, o que o fez vencer Lula na região Sudeste por uma diferença pequena, já que perdeu em Minas e no Rio de Janeiro e venceu por pequena margem no Espírito Santo.
O candidato José Serra, até o momento, não conseguiu tirar nem mesmo a vantagem mínima em São Paulo, ficando abaixo do histórico do seu partido.
Ele também começou a campanha vencendo em Minas, mas deixou escapar esse momento, e hoje Dilma já vence lá por diferença semelhante à que Lula ganhou em 2002 e 2006.
São Paulo, que é um estado “tucano”, terá que melhorar a performance a favor de Serra se o PSDB quiser ter a chance de ir para o segundo turno.
Já Minas Gerais, embora governada há oito anos por Aécio Neves, nunca pode ser considerado um estado “tucano”, pois o PT sempre foi forte por lá, e sobretudo Lula tem uma popularidade grande no estado.
Minas é um típico “campo de batalha” onde a eleição pode vir a ser decidida se o ex-governador Aécio Neves conseguir reverter o quadro que no momento é favorável ao candidato da coligação petista Hélio Costa e à candidata oficial Dilma Rousseff.
Não há dúvida de que, no momento, está mais fácil Dilma vencer no primeiro turno do que Serra conter sua queda e tentar reverter a situação no segundo turno.
Especialmente porque parece que ele vem perdendo votos diretamente para Dilma, o que faz com que não importe se a candidata Marina Silva mantenha os cerca de 10% de apoio.
Há, porém, questões que devem ser observadas diante da experiência que já temos em campanhas eleitorais e pesquisas.
Na eleição de 2006, o presidente Lula, tentando a reeleição, iniciou a campanha de rádio e televisão com 55% de votos válidos — mais, portanto, do que os 51% que Dilma tem hoje — e acabou com 48,61%.
É bem verdade que, para impedir que ganhasse no primeiro turno, como todas as pesquisas previam, houve o episódio dos “aloprados” comprando com uma montanha de dinheiro vivo um dossiê com supostas acusações contra o candidato José Serra, que disputava o governo de São Paulo.
É também importante frisar que, àquela altura, ainda com sequelas do mensalão, Lula tinha 55% de avaliação de “bom e ótimo” nas pesquisas, e hoje tem 77%. Mas, como não é ele que concorre, e sim uma sua “laranja eleitoral”, a transferência de votos ainda não é total, e possivelmente não será.
O resultado da pesquisa Ibope de ontem — Dilma com 51% e Serra, 38% dos votos válidos — é curiosamente quase a repetição do final do primeiro turno de 2006, se contarmos a margem de erro: Lula, 48,61% e Alckmin, 41,6%.
Em teoria, esta seria a posição já fixada do eleitorado, com a diferença importante a favor de Dilma de que ela chega a esses números em ascensão, enquanto Serra chega em queda.
Ao contrário, em 2006, quem caiu foi o presidente Lula, e Alckmin cresceu quase 20 pontos durante a campanha de rádio e televisão.
Por outro lado, não existe na nossa curta experiência de eleição presidencial com segundo turno exemplo de viradas: Collor e Lula foram para o segundo turno nas eleições que venceram à frente de seus adversários e mantiveram a dianteira.
Mas há exemplos regionais de viradas, o mais espetacular deles acontecido em Minas, quando o mesmo Hélio Costa deixou de ganhar a eleição no primeiro turno por uma diferença mínima e perdeu no segundo turno para Eduardo Azeredo, o que lhe valeu a fama de ser um “cavalo paraguaio”, que não aguenta a reta final e perde sempre a corrida.
Com a ajuda do presidente Lula, o candidato do PMDB quer exorcizar essa fama. Mas é ela, além da popularidade, que alimenta a esperança do ex-governador Aécio Neves de reverter o jogo.
Se houver segundo turno em Minas, e Alckmin vencer no primeiro turno em São Paulo, é possível que Serra tenha uma performance melhor num eventual segundo turno frente a frente com Dilma.
Mas, para isso, será preciso primeiro frear a subida da candidata oficial.
Ibope: Dilma sobe mais e hoje venceria no primeiro turno
Petista agora aparece com 43%, contra 32% de Serra e 8% de Marina
Jailton de Carvalho, Isabel Braga e Adriana Vasconcelos
BRASÍLIA. A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, ampliou de cinco para 11 pontos a vantagem sobre seu principal adversário, o ex-governador José Serra (PSDB), segundo pesquisa Ibope divulgada ontem no “Jornal Nacional”. Dilma está com 43% das intenções de voto, contra 32% de Serra. Marina Silva (PV) permanece em terceiro lugar, com 8%. Os votos em branco e nulos somam 7% e os eleitores indecisos, 9%.
A pesquisa foi encomendada pela Rede Globo e pelo jornal “O Estado de S.Paulo”.
A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos.
Segundo o Ibope, se a eleição fosse hoje, Dilma poderia vencer no primeiro turno. Considerandose só os votos válidos (excluindo-se os votos em branco e nulos e os eleitores indecisos), ela tem hoje 51%, contra 38% de Serra e 10% de Marina.
Nesse cenário, os demais candidatos têm, juntos, 1%.
No cenário de 2oturno, Dilma vence por 48% a 37% O secretário geral do PT, deputado José Eduardo Cardozo (SP), comemorou: — Os que achavam que ela iria derrapar nos debates e fraquejar em entrevistas estão tendo agora que engolir a realidade: ela é uma excelente candidata e apta a ser a primeira mulher presidente do Brasil.
Ao Blog do Noblat, o coordenador do programa de governo de Dilma, Marco Aurélio Garcia, foi irônico sobre o desempenho de Serra: — Se ele insistir nessa tecla de não ter um discurso definido, essa é uma tecla de delete.
Ele vai se deletar. Ele tem de definir quem ele é.
Num eventual segundo turno, Dilma venceria Serra também por 11 pontos (48% a 37%). Na sondagem anterior, a vantagem era de 5 pontos (44% a 39%).
A oposição tentou minimizar o resultado e disse estar confiante de que Serra poderá mudar esse quadro com o horário eleitoral na TV, a partir de hoje: — O importante é que Serra tem mantido um patamar significativo para começar sua campanha, enquanto o patrimônio de Dilma é decorrente de um monumental uso da máquina governamental. Em 2006, Alckmin tinha 24% das intenções de votos e Lula seria eleito no primeiro turno, mas a eleição foi para o segundo turno — disse o senador Álvaro Dias (PSDB-PR)
Serra: `picaretas` hoje estão com Dilma
Tucano lembra declaração dada por Lula em 1993 sobre Congresso e critica ainda apadrinhamento em estatais
João Guedes* e Chico Luz*
PORTO ALEGRE e NOVO HAMBURGO (RS). Durante o lançamento de um movimento suprapartidário de apoio à sua candidatura em Porto Alegre, o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, lembrou, para alfinetar a presidenciável petista, Dilma Rousseff, uma famosa frase do presidente Lula. Serra ironizou a maioria governista na Câmara, mencionando sentença de Lula, que, em 1993, disse que o Congresso tinha 300 picaretas.
— Eu não sou daqueles que dizem que o Congresso tem 300 vigaristas ou picaretas. Teve alguém que disse isso. Hoje estão todos com a outra candidata.
O comentário foi feito quando Serra criticava concessão de cargos em estatais a apadrinhados: — Os Correios foram privatizados.
Sua diretoria não serve aos Correios, mas a partidos e setores de partidos. Nunca o patrimonialismo e a fisiologia avançaram tanto. Nunca o governo foi tão usado para fins privados como é hoje no Brasil.
Serra foi recebido numa churrascaria na capital gaúcha por militantes, vereadores, prefeitos e deputados de PSDB, DEM, PPS, PP, DEM, PTB e PMDB, que lançaram o grupo suprapartidário Gaúchos com Serra.
Depois, Serra foi a Novo Hamburgo, tradicional polo coureirocalçadista, onde visitou uma fábrica de calçados e deu entrevista a uma rádio e a um jornal.
Ao falar sobre carga tributária a empresários, o tucano defendeu redução dos gastos públicos para que os impostos caiam e voltou a alfinetar Dilma: — A desoneração tributária pedida aqui tem a ver com os gastos públicos, que estão crescendo demais. Dilma diz que a carga atual é boa, mas não é: é muito alta. É a maior entre todos os emergentes — disse, antes de criticar a taxa de câmbio. — A taxa de câmbio nos faz perder combatividade. Ela estimula o Brasil a importar, não a exportar, e o setor coureiro-calçadista sofre com essas condições macroeconômicas.
O tucano, porém, afirmou que o câmbio deve continuar flutuante, “mas de verdade”.
Na entrevista, Serra disse que o governo Lula se recusa a fazer concessões com a parceria privada e que “por isso o setor aeroportuário está paralisado”. ¡ (*) Especial para O GLOBO
Dilma agora promete remédio de graça
Petista diz que pretende universalizar medicamentos para hipertensão e diabetes
Gerson Camarotti e Roberto Maltchik
BRASÍLIA. A presidenciável do PT, Dilma Rousseff, anunciou que seu programa de governo incluirá distribuição gratuita de remédios para hipertensão e diabetes. A promessa foi feita ontem, após reunião com a coordenação de campanha sobre o programa de governo. O plano, de 13 pontos, está sendo anunciado a conta-gotas e será mostrado no horário eleitoral.
Segundo Dilma, a universalização do tratamento da hipertensão e da diabetes fará parte de sua política de medicamentos.
A candidata informou que atualmente o governo subsidia 90% desses medicamentos, um gasto anual de R$ 400 milhões.
Segundo ela, a intenção é complementar os 10% restantes e dar a medicação aos pacientes.
A ex-ministra lembra que pretende usar o programa Aqui Tem Farmácia Popular, que atua em parceria com mais de 12 mil farmácias da rede privada, para distribuir a medicação. Segundo ela, o medicamento será entregue a custo zero. Dilma ressaltou que a universalização “diminui a pressão e também o custo”: — Estamos nos propondo a universalizar o tratamento para essas duas doenças que mais incidem na população: hipertensão e diabetes.
A petista evitou responder diretamente sobre a necessidade de recriação da CPMF para financiar a saúde e esse aumento de gastos com medicamentos.
Reconheceu que o fim do imposto “faz falta”, mas sugeriu como alternativa o crescimento do PIB, para aumentar arrecadação e, com isso, destinar mais verba à saúde. Segundo ela, com isso não será preciso aumentar “um milímetro” os impostos.
— É claro que a CPMF faz falta.
A não ser que eu seja completamente sem nenhum realismo, alguém pode considerar que perder R$ 40 bilhões não altera a ordem das coisas? No Ministério da Saúde, não há plano para subsidiar integralmente remédios para controle de diabetes e hipertensão. Hoje, 13 mil farmácias estão credenciadas e atendem a cerca de um milhão de pessoas. Ano passado, o gasto com cinco tipos de medicamentos fornecidos com desconto alcançou R$ 74,9 milhões.
Este ano, a previsão é de R$ 88,2 milhões. Em 2009, o ministério acionou a PF para coibir fraudes, entre as quais a venda irregular de remédios, sem a identificação do usuário.