Há vários meses fizemos mais de uma vez comentários acerca da atividade de militares venezuelanos que assistiam aulas técnicas de preparação profissional de nosso país, atividade esta que sempre se destacou por sua qualidade. Agregamos em alguns desses comentários que aproveitavam sua presença e as amizades que naturalmente surgiam com os argentinos que participavam dessas escolas preparatórias, para demonstrar com uma certa sutiliza inicial, uma série de argumentos justificatórios – e laudatórios – do presidente militar da Venezuela, tenente-coronel Hugo Chávez Frias. Segundo soubemos pouco depois, alguns destes oficiais estrangeiros que já ampliavam mais decididamente sua tarefa propagandística, assinalaram sua estranheza e um certo mal-estar por nossas informações, sobretudo quando as precisamos com certas versões relativas à chegada de armas de fabricação russa que especialmente se haviam desembarcado em países vizinhos onde existe atividade extremista e um ambiente político favorável.
As coisas não tiveram maiores repercussões, porém, agora o jornalista Alexis Di Capo, que muitas vezes publica artigos pontuais sobre diversos temas políticos que nunca foram desmentidos, pelo manifesto apego à verdade de seu conteúdo, produziu o informe que publicamos mais abaixo. Consideramos tão importante pela clareza dos dados que agora aporta e a firmeza com que analisa o comportamento destes militares – muitos dos quais se movimentariam só em âmbitos civis conduzidos por ativistas locais e dependentes do governo -, que resolvemos concedê-lo sem tirar uma vírgula (como quem diz) e até respeitamos seu título. Este material já circula por diversos âmbitos e não podemos deslindar a relação que há de existir com organizações que, abertamente, são respaldadas pelo poder central que tolera sua expansão.
Desembarque militar venezuelano na Argentina
Alexis Di Capo
A partir do governo do presidente Kirchner tem aumentado notoriamente a quantidade de oficiais venezuelanos na República Argentina. É assim que, no ano de 2007, cursaram estudos na Escola de Guerra do Exército, sete oficiais (entre capitães e majores) que foram incorporados ante o reclamo do Adido Militar da República Bolivariana da Venezuela.
Nesse mesmo ano ordenou-se a incorporação de vários oficiais venezuelanos na Escola de Defesa Nacional, que haviam sido rechaçados por se apresentarem fora de prazo e não reunirem os méritos acadêmicos suficientes para cursar o pós-graduação em tal Instituto.
Alguns destes oficiais cursantes da Escola Superior de Guerra do Exército, como o Capitão Harry Morales, faziam graça frente a seus companheiros argentinos e de outros países, de seu marxismo praticante, sem poupar elogios sobre o Comandante Chávez e sua revolução bolivariana. Perplexos, os capitães argentinos escutaram pela boca destes oficiais chavistas “os relevamentos sociais” que realizavam aos sábados e domingos nos assentamentos de La Matanza e Lomas de Zamora. Terá algo a ver com estes “exercícios militares combinados” nosso piquetero D’Elía e outros dirigentes argentinos?
Outros oito oficiais navais cursaram durante o referido ano estudos em instituições de nossa Armada (Marinha).
Além da quantidade de oficiais mencionada, setenta e cinco militares mais do Exército venezuelano cursaram carreiras em distintas universidades argentinas. Não somente estudavam, mas promoviam a revolução bolivariana chavista.
Nesse sentido, e com a intenção de cooptar ou doutrinar acerca do “ideário chavista”, os oficiais venezuelanos costumavam presentear um livro a seus companheiros argentinos e professores. Trata-se de “El Código Chávez”, escrito por uma jornalista venezuelana-americana, Eva Golinger. Basicamente, é uma apologia do presidente Hugo Chávez e se baseia em uma forte crítica aos Estados Unidos como promotores do golpe de abril de 2002 na Venezuela. O curioso é que a primeira edição foi feita em Caracas, em março de 2005, porém a segunda em agosto do mesmo ano, fez-se em Buenos Aires. Imprimiu-se nas oficinas gráficas de “La Verdad S.R.L.”, Posadas, Misiones. Da edição “gratuita”, a obra foi financiada pela PDVSA Argentina S.A.
Milícias no conjunto habitacional [1]?
Surge, pois, claramente, a ação política, militar, social e propagandística dos militares venezuelanos em lugares específicos do conjunto habitacional bonaerense (assentamentos urbanos ou vilas de emergência). O proselitismo chavista aberto, levado a cabo por oficiais em tarefas de relevamento, se assemelha aos procedimentos utilizados na Venezuela para a formação de milícias populares. O possível acionar futuro destes grupos ver-se-ia facilitado pela ausência de um Exército em aptidão real de cumprir com seu mandato constitucional, ao se encontrar virtualmente desmantelado.
Atualmente, e segundo informação de militares argentinos, elementos das forças especiais venezuelanas estariam “trabalhando” na zona de La Matanza, onde “casualmente” acaba de desembarcar o bando “Tupac Amarú” da jujenha [2] Milagro Sala, discípula predileta de Evo Morales.
A Ministra da Defesa argentina, Nilda Garré, constituiria uma peça-chave nesta manobra e desdobramento, já que facilita o ingresso institucional de oficiais caribenhos e impõe aos comandos argentinos a incorporação destes aos institutos de aperfeiçoamento militar. Esta situação poderia ao mesmo tempo ter relação ou ver-se auspiciada pelo fato de que a funcionária em questão trabalhou como embaixadora em Caracas (substituiu o Embaixador Sadous), onde travou uma estreita amizade com o mandatário venezuelano. Nesse sentido, é possível pensar que as medidas tomadas pela funcionária Garré, a respeito de seu interesse pelo incremento de intercâmbio de oficiais entre ambos países (Argentina e Venezuela), seriam funcionais à manobra hegemônica regional de Chávez, constituindo-se (consciente ou não) em um agente a serviço do mandatário venezuelano.
Tudo parece indicar que a política de defesa estaria orientada a seguir reformando as atuais Forças Armadas (ou o que reste delas), para que sejam compatíveis com eventuais milícias populares revolucionárias. Como ocorre na Bolívia com os para-militares indígenas, este plano apontaria para a criação de um suporte militar necessário, para garantir o desenvolvimento de um projeto hegemônico.
Atualmente, em 2010, é interessante conhecer o perfil dos oficiais venezuelanos que fazem cursos na Escola de Defesa Nacional de nosso país.
O governo caribenho mandou dois de seus melhores militares para realizar estudos neste instituto. Um é o Coronel José Carrizales Flores (irmão do ex-vice-presidente de Chávez), que nessa qualidade mantém inúmeras reuniões com a Federação de Terra e Residência, coordenada por Luis D’Elía. O coronel Carrizales foi, e continua sendo, um dos responsáveis pela formação das milícias armadas e revolucionárias bolivarianas da Venezuela.
Outro alto oficial que “estuda” em nossa Escola de Defesa é o Capitão de Navio Giussepe Alejandro Alessandrelo, que foi no ano de 2009 o responsável e encarregado da compra de armamento ao Irã, por parte do governo Chávez.
O Coronel José González Peña, Magister em Defesa Nacional, título obtido na Universidade de Tres de Febrero, atualmente “ministra” aulas de adestramento (físico ou militar?) em González Catán a um grupo de trinta pessoas que pertencem às “tropas” do “General” Luis D’Elía. O nexo neste “intercâmbio cultural” é a Diretora de Direitos Humanos e Direito Internacional Humanitário do Ministério da Defesa, a Drª Ileana Arduino, que tem a seu cargo a Drª Nora Bluro, docente da Escola de Defesa Nacional, militante do Partido Socialista Autêntico e, como advogada, especialista em Direitos Humanos.
Os destacados e distintos oficiais venezuelanos, junto aos mencionados civis, mantiveram reuniões no camping do Centro Naval de Olivos, nas quais se “disfarçam” com o rótulo de “UNASUL: Civis e Militares para uma nova Defesa da America”.
A toda esta atividade não está alheio o general Aníbal Laiño, diretor da Escola de Defesa Nacional, como tampouco um dos sub-secretários do Ministério, o Licenciado Alfredo Forti, figura muito pouco simpática para os oficiais de Campo de Mayo.
Ambas as pessoas mencionadas, e com a anuência da Universidade de Tres de Febrero, organizaram uma carreira de pós-graduação em especialização de “civis para a defesa” que dura um ano. Atualmente estão cursando a mesma umas vinte pessoas, em sua maioria militantes das organizações de D’Elía e Emilio Pérsico. O objetivo estabelecido é que ao fim do ano, ao finalizar o ciclo, estes “novos especialistas em Defesa” sejam contratados no ministério, e no próximo ano sejam incorporados ao quadro permanente do mesmo. Isto já haveria gerado conflitos com a União Pessoal Civil da Nação (UPCN), pelo fato de que os novos “profissionais” nesta matéria seriam incorporados sem concurso.
Todas estas atividades (contatos, reuniões, etc.) não poderiam ser executadas sem a presença do argentino “organizador”. Trata-se do Capitão de Corveta Marcelo Sáenz Hinze, estudante da Escola de Guerra Naval e da Escola de Defesa Nacional. É um muito efetivo operador da ministra Garré e já demonstrou sua incondicionalidade ao governo. Seus camaradas de armas da Armada sabem, sobretudo seus superiores, pelo qual parece seguro de que não alcançará a hierarquia necessária para “baixar quadrinhos” ou contribuir desde o almirantado em consumar a destruição das FFAA.