A Colômbia rejeitou ontem discutir um “plano de paz” que a Venezuela levará amanhã à reunião de chanceleres da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), em Quito. O governo do presidente Álvaro Uribe advertiu ainda, de forma taxativa, que não fará uma retificação à sua denúncia sobre a presença de guerrilheiros colombianos na Venezuela. “Não há nada mais delicado do que uma política de segurança e de paz”, declarou o chanceler da Colômbia, Jaime Bermúdez.
O ministro das Relações Exteriores colombiano convocou uma entrevista para explicar a posição que seu país levará ao encontro extraordinário da Unasul. Segundo Bermúdez, Bogotá “insistirá em conseguir um mecanismo concreto e eficaz que permita a verificação” das acusações. “Esse mecanismo deve, melhor ainda, impedir a presença de terroristas”, assegurou. O chanceler lembrou ainda que “um verdadeiro plano de paz passa por capturar os terroristas e por não permitir sua presença, com conivência de algumas autoridades”. “A Colômbia tem claro que seus inimigos são o narcotráfico e o terrorismo”, concluiu Bermúdez.
Por sua vez, Uribe descartou a possibilidade de incluir atores internacionais no processo de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). “Sabemos que a cobra do terrorismo, quando sente que está encurralada, pede processos de paz, para que afrouxemos a força e para que ela possa tomar oxigênio e voltar a envenenar”, criticou ele.
Na tentativa de restabelecer as relações diplomáticas entre Caracas e Bogotá — rompidas na última quinta-feira —, o ex-presidente argentino Néstor Kirchner, secretário-geral da Unasul, passou boa parte da madrugada de ontem reunido com o presidente eleito da Colômbia, Juan Manuel Santos. Ao fim do encontro, Kirchner considerou a audiência “interessante e frutífera”. “Trabalharemos pela construção de uma melhor convivência entre os países das Américas. Não queremos que esse tipo de situação se repita”, afirmou Néstor.
O ministro venezuelano das Relações Exteriores, Nicolás Maduro, também esteve ontem com ele e sua mulher, a presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, e garantiu que a Venezuela quer melhorar as relações com o vizinho. “Mas, para isso, é necessária uma retificação profunda por parte do próximo governo da Colômbia (ainda sob comando de Álvaro Uribe) em sua relação com a Venezuela”, ponderou Maduro. Pouco depois, o pedido do chanceler foi rechaçado por Bermúdez.
Néstor lembrou que “dois países irmãos não podem manter um conflito”. O secretário-geral da Unasul prometeu visitar a Venezuela e a Colômbia, no próximo dia 5, para mediar o fim da crise. No próximo dia 7, Uribe entregará o cargo a Santos. Maduro defendeu a ajuda das nações sul-americanas para encerrar brigas bilaterais. “Há vontade política de construir um novo modelo de relação, baseado no respeito absoluto à sociedade venezuelana”, destacou o chanceler, após reunião com Kirchner.