Faço-o, ao menos uma vez por mês, para saber do amigo.
Já não é mais uma criança, está entre os setenta e os oitenta. Mais para os "oi " que para os " se ".
Não sou somente eu quem o diz, mas é quase opinião unânime daqueles que com ele conviveram como amigos, subordinados e até como superiores hierárquicos: correto, a qualquer limite, intransigente em seus princípios morais e profissionais.
Um amigo sincero, alegre e inteligente. Uma agradável convivência.
Conversáramos há menos de um mês. A mudança de opinião ou de maneira de pensar ocorreu ou culminou nesse lapso de tempo.
A conversa de ontem, transcorria amena, como sempre. Informações pessoais, a família, o dia-a-dia ( de um e de outro ) e, por aí a fora. Pela primeira vez me pergunta a respeito de minha vida de aposentado pelo I.N.S.S..
Respondo-lhe que vou me adaptando aos poucos. Que não é fácil acostumar-se à inatividade.
- Não ! - exclama. Como está se adaptando aos valores miseráveis da aposentadoria; com os quais não me acostumei, mesmo passados dez ou doze anos ?
Não importa muito - digo-lhe. O essencial é que possamos "dormir com a consciência tranqüila " !
- Pois, eu hoje já não sei se vale a pena ter "a consciência tranqüila ".
E, eu o entendi perfeitamente.
A crescente onda de desmandos que vêm acontecendo, dentro da esfera de atuação dos Poderes do Estado, em todos os níveis, em todos os Poderes e, passando impunes; faz com que, até o mais incorruptível cidadão questione seus valores.
Porém, somente questiona; jamais transigirá ou violentará seus princípios.
As pessoas que, ocupando cargos públicos, praticam toda a sorte de atos condenáveis, muitas vezes, o fazem sem consciência de culpa.