Em tempos de Copa do Mundo, o futebol ocupa muito mais espaços na imprensa escrita, falada ou televisiva deste país. Não por que o queiram seus profissionais e dirigentes, mas o público. Todo brasileiro, interessado ou não em esportes, veste a camisa de torcedor. Enfeitam-se carros, residências, ruas om a bandeira nacional. Nenhum outro acontecimento se iguala em comunhão de anseios, desejos, vontades. A curiosidade sobre notícias do certame imanta aos veículos de informação até os que não têm o hábito de freqüentá-los.
Nesse clima feliz, de euforia e cordialidade espontânea, a mídia, insatisfeita com o tratamento que lhe é dado pelos dirigentes da Seleção na África do Sul, assestou suas baterias contra Dunga. Ao invés de prestigiá-lo, joga sobre ele as mais variadas acusações. O motivo? Restrições impostas a sua liberdade de assistir, filmar, fotografar treinos e entrevistar jogadores.
Não se discute aqui de que lado está a razão. Os jornalistas se sentem frustrados e revoltados com o cerceamento de sua atividade profissional. A Comissão Técnica e o treinador, também profissionalmente, consideram necessários os treinos sem assistência e a proibição de entrevistas não autorizadas com jogadores. Mas, entre uns e outros, não cabe dúvida de que recairá sobre os segundos a responsabilidade sobre os resultados.
Ciente disso, a torcida nacional apoiou o treinador, rebelando-se contra os jornalistas. A reação chegou ao ponto de desencadear campanha, pela internet, concitando a boicotar, na transmissão dos jogos, empresa de maior audiência. Sábia, a opinião pública! Intuiu que a tranquilidade é mais importante para alcançar o êxito pretendido. Julgou impatriótico o procedimento de quem não a queria respeitar.
Se fosse ponto de honra da ética jornalística usar a liberdade de investigar e trazer a público tudo o que a sociedade precisa saber, seria até aceitável a indignação contra o bloqueio que lhe foi imposto no futebol. Porém são muitos seus pecados de omissão.
Martin Luther King, em pensamento lapidar, disse que não se preocupava com a grita dos maus, mas com o silêncio dos bons.
Entre nós, há milhões de bons que estão em silêncio por desconhecerem a verdade, que a mídia poderia desvendar, mas esconde. Os bons, que se mobilizaram para neutralizar os ataques a Dunga puderam fazê-lo por que os constataram, veiculados por quem os desfechava. Os bons, que obtiveram êxito vedando candidaturas dos “fichas sujas”, deduziram, pelo volume de denúncias da mídia, que o descalabro impune do comportamento antiético dos parlamentares só poderia ser extirpado por iniciativa popular.
Quando os bons sabem, descruzam os braços para derrotar o mal. Mas não têm como sabê-lo, se o jornalismo se omite.
Por que não há maior divulgação do enriquecimento meteórico do filho de Lula? Por que articulistas corajosos, críticos de atos condenáveis do governo, são demitidos ou têm a palavra reprimida pelos empregadores, sem que a classe a que pertencem os defenda? Por que circulam continuamente na internet tantas denúncias graves ao partido dominante e nenhum veículo de comunicação se dispõe a lhes dar crédito? Por que não tem mínima divulgação o currículo completo de sua candidata, com todas as incursões na guerra suja subterrânea?
Vivemos o ano da Copa do Mundo, que poderá nos dar as grandes alegrias da sexta estrela ou a frustração de não conquistá-la. Nenhum resultado decorrerá de nosso jornalismo, nem afetará a marcha ascendente de nosso país. Mas vivemos também o ano de eleições.
Em ano de eleições, os bons têm o dever de saber, para poderem quebrar o silêncio. E, para poderem saber, o jornalismo tem o dever intransferível de dizer, que só a eles cabe na dimensão necessária.
Nosso futuro será decidido pelo voto, que só será expressivo dos desejos do eleitorado se este for esclarecido sobre a personalidade, o comportamento ético, a ideologia e o programa dos candidatos.
Se o país caminhar para o socialismo ditatorial de Cuba, Venezuela, Irã e outros, tão simpáticos ao governo atual, se deixarem de ser respeitados o direito de propriedade e a liberdade de imprensa, o voto não terá sido esclarecido, por que enveredaremos num destino que contraria aspirações e índole da maioria da população, bem como do próprio jornalismo.
Se tal ocorrer, o jornalismo brasileiro carregará para a história sua responsabilidade, com a mancha indelével da omissão.