
Rodrigo Craveiro
Correio Braziliense
Juan Manuel Santos, ex-ministro da Defesa de Uribe, confirma o favoritismo e derrota filósofo em eleição marcada pela alta abstenção
Os grupos armados até tentaram, mas não impediram que seu maior inimigo vencesse ontem as eleições na Colômbia, marcada pela violência e pelo alto índice de abstenção. Até as 21h30 de ontem (hora de Brasília), com 99,91% das urnas apuradas, o governista Juan Manuel Santos (leia o perfil abaixo) — ex-ministro da Defesa do atual presidente Álvaro Uribe — derrotou o filósofo e matemático Antanas Mockus, ao obter 9.004.221 (69,05%) dos votos, contra 3.588.819 (27,52%). Mais que a confirmação das pesquisas eleitorais, que davam a Santos cerca de 65% dos votos, a vitória de ontem teve um significado histórico. Pela primeira vez em 51 anos de democracia, um candidato a presidente conseguiu praticamente unificar o mapa político do país: 31 dos 32 departamentos (estados) da Colômbia votaram em Santos, que só perdeu em Putumayo (sudoeste).
De acordo com a Comissão Eleitoral, cerca de 13,3 milhões dos 29,9 milhões de cidadãos inscritos exerceram o direito de escolher seu presidente. A alta taxa de abstenção (56%) teria sido provocada pela chuva e pela partida da seleção brasileira contra a Costa do Marfim, pela Copa do Mundo.
Por volta das 20h de ontem (hora de Brasília), Mockus reconheceu a derrota e cumprimentou o rival. “Felicito o doutor Juan Manuel Santos e a todos aqueles que votaram por ele”, disse, prometendo que seu Partido Verde terá independência e deliberação em relação ao novo governo. Em seu primeiro discurso como presidente eleito, Santos afirmou que “chegou a hora da unidade nacional”. “A partir desse momento, sou o presidente eleito de todos os que me apoiaram e de todos os que não me apoiaram”, declarou.
Pouco antes, Uribe havia telefonado para Santos, parabenizado o ex-ministro. “O presidente disse que se une à alegria por sua vitória”, disse César Mauricio Velázquez, assessor de imprensa da Presidência. “Uribe afirmou: ‘Peço a Deus todo sucesso para você e sua família’.”
Por telefone, o colombiano Vicente Torrijos, professor de ciências políticas e relações internacionais da Universidad del Rosario (em Bogotá), disse ao Correio que três fatores explicam o triunfo incontestável do ex-ministro. “O primeiro deles é a habilidade de Santos de fazer alianças com o conservadorismo e com o liberalismo. Depois do primeiro turno, ele deixou de ser o escudeiro do presidente Uribe para passar a construir seu próprio projeto hegemônico. Apenas a esquerda marxista ficou de fora desse processo”, disse. “O segundo é a combinação entre a segurança democrática — a luta contra o terrorismo — com uma iniciativa de pleno emprego, cujo lema era ‘trabalho, trabalho e mais trabalho’. Isso passou a ocupar um lugar muito importante no imaginário político dos colombianos”, acrescenta.
Segundo Torrijos, o terceiro fator envolve o intervencionismo do presidente venezuelano, Hugo Chávez, nos assuntos internos da Colômbia, durante o primeiro turno. “A população cerrou fileiras em torno de Santos, como numa espécie de apoio moral nacionalista”, comenta. Para o cientista político, Mockus também comentou erros decisivos. “Foram tantos os enganos processuais e jurídicos, que ele mesmo chegou a se definir como o campeão dos gols contra do Partido Verde”, lembra. Desde o fim do primeiro turno, Mockus não conseguiu forjar uma aliança sequer, nem mesmo com a esquerda marxista do Polo Democrático.
Tão logo tome posse como presidente da Colômbia, em 7 de agosto, Santos dará continuidade à política de segurança de defesa. “Ao elegê-lo, a população praticamente escolhe o ministro da Defesa, responsável pela luta contra o terrorismo e contra os países hostis”, acredita Torrijos. “Ele contará com uma folgadíssima maioria no Congresso e com uma oposição frágil.”
Confrontos
No departamento de Norte de Santander, sete policiais morreram em uma emboscada com explosivos na zona rural. “Temos um fato muito lamentável: o ataque a uma patrulha da polícia com explosivos que deixou sete policiais mortos”, disse à France-Presse a secretária de governo, Margarita Silva. O atentado ocorreu no município de Timbú, às 11h (13h em Brasília) e foi reivindicado pelos rebeldes do Exército de Libertação Nacional. Quatro militares foram assassinados nos departamentos de Antióquia (noroeste) e de Meta (centro-leste).
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