Não sabemos se o ato cristão de oferecer o outro lado, após receber uma sonora bofetada em um dos lados da face é um sinal grandeza, de boa vontade, de disfarçada covardia ou de estoicismo.
Volta - e - meia somos aturdidos por notícias na área militar de causar arrepios e, pelo seu desenrolar, somos levados a crer que os Comandantes Militares, pelo seu mutismo, aceitaram - nas, sem delongas, por concordarem, ou foram tão estóicos ou subservientes que as acataram sem dar um pio.
Ao longo da vigência de diversos Ministros da Defesa, fatos desagradáveis e prejudiciais às Forças ocorreram, e em nenhuma daquelas ocasiões ouviu – se qualquer rumor ou boato de que os Comandantes tenham esboçado a mais leve reação. Talvez, por excesso de disciplina, preferiram engolir em seco a, no mínimo, levantar um mero olhar de reprovação para uma ordem ou desejo do Ministro da Defesa da ocasião.
Já abordamos como a disciplina pode tangenciar a tênue linha que separa a pusilanimidade, da hombridade. Embora, extremamente fina, a dita pode nomear um mal - cheiroso estrume ou um portentoso caráter.
Poderíamos citar um rosário de acontecimentos nos quais ficaram patentes que os Comandantes se sussurraram reprovações ao estabelecido pelo Ministro, nós, afastados do colóquio, nada ouvimos, e suas veladas reações perderam – se, envergonhadas. Assim foi na Política e na Estratégia de Defesa (END) e, recentemente, na Reestrutura do Ministério da Defesa (MD).
Entre outros assuntos da maior ou menor importância, cabe citar o direito ao uso da farda de general por parte de qualquer civil que venha a ocupar o Ministério da Defesa, um loteado cargo político. Somente, alguém com ego super - inflado gostaria de, mesmo em ocasiões especiais, posar de general, nem mesmo tendo prestado o Serviço Militar Obrigatório.
As razões das omissões ou da “disciplina acima de tudo” praticados pelos Comandantes de Força, nunca saberemos, contudo, cabe – nos cumprimentar a Consultoria Técnica do Senado, que ao analisar a PEC que reestrutura o MD chegou à brilhante consideração de que o Senado, ao aprovar o Projeto de Lei estaria dando ao Ministro super - poderes.
O tema fora denunciado, inclusive por Oficiais, na maioria da Reserva, que apontaram as pretensões do ministro, entre outras razões, como uma cunha política a ser cravada no estamento militar. No artigo “A submissão consentida”, declaramos que era a intrusão da política na caserna, e pela porta da frente, pois assim será, caso a proposta seja endossada pelo Senado (na Câmara o Projeto de Lei foi aprovado por 328 votos a 05).
Alertamos que os postos e cargos de alto nível nas Forças Armadas poderiam fazer parte de barganhas e negociações. A indicação política terá um peso enorme na nomeação. “Este serve, este não, este concorda, este não, este é a favor...”, dentro do viés dos interesses, em lugar da criteriosa seleção e da capacitação profissional dos concorrentes ao posto. Da mesma forma, perigosamente, para a escolha dos Comandantes de Força, além dos critérios esdrúxulos que existem na atualidade, outros mais escorregadios passariam a ser considerados. A PEC, definitivamente, inocula uma perigosa manipulação no Estamento Militar. A designação dos futuros Comandantes, por indicação do Ministro da Defesa poderá tornar - se uma “indicação para atender sabe - se lá que interesses”.
Por isso, pelo alerta que não foi dado por nenhuma das Forças e, muito menos, pelos seus disciplinados Comandantes, agradecemos à Consultoria Técnica do Senado por desnudar o óbvio e emitir um Parecer tão cristalino e irretorquível.