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Artigos-->Entrevista do general Santa Rosa -- 17/05/2010 - 10:08 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Folha de S. Paulo - 17/5/2010



ENTREVISTA - MAYNARD MARQUES SANTA ROSA



Governo Lula quer implantar ditadura totalitária no país



General pivô de polêmica defende que ditadura de 1964 foi autoritária, mas não totalitária, e deixou imprensa "amplamente livre"



LUCAS FERRAZ



DA SUCURSAL DE BRASÍLIA



ELIANE CANTANHÊDE



COLUNISTA DA FOLHA



O general foi duro em relação à pré-candidata Dilma Rousseff ao dizer que a Comissão da Verdade, criada pelo PNDH, só seria correta "se você perguntasse a Dilma quantas pessoas ela assaltou, torturou, matou..."



Quanto à eleição, diz não estar animado: "Na Dilma, não voto de jeito nenhum, mas não é fácil engolir o Serra".



Santa Rosa foi exonerado após a Folha ter publicado e-mail em que ele classificou a Comissão da Verdade de "comissão da calúnia integrada por fanáticos". Ficou encostado no Comando da Força até passar para a reserva, em 31 de março. Segundo diz, "95% do Exército" pensa como ele. A diferença é que Santa Rosa é um dos raros casos de militar que diz o que pensa em público.



FOLHA - Qual é sua opinião sobre o governo Lula?



MAYNARD MARQUES SANTA ROSA - Acho o presidente uma pessoa simpática, tem empatia com o público e sensibilidade em detectar os anseios da massa. O que é diferente da linha governamental que ele segue. Está rodeado de pessoas impregnadas de preconceito e ideologia. O governo tem várias caras. Ideologicamente, é intolerante, autoritário. Para ser mais preciso, tem anseio totalitário.



FOLHA - O Lula?



SANTA ROSA - O governo. O presidente, não. Não sei se ele é usado ou se ele usa esse grupo para promover seus interesses.



FOLHA - O que caracteriza o autoritarismo do governo?



SANTA ROSA - A intolerância com opiniões contrárias. Quem examinar o Programa Nacional de Direitos Humanos vai interpretar o que digo. Aquilo é um tratado ideológico de extrema intolerância, onde se pretende regular uma sociedade inteira. Adota o tal princípio da transversalidade. Na medida em que se têm intenções que transcendem Legislativo e Judiciário, são pretensões que transcendem até preceitos da Constituição, portanto, totalitárias.



FOLHA - Em que parte o 3º PNDH transcende Legislativo e Judiciário?



SANTA ROSA - Quando propõe a institucionalização de mecanismos ilegais. Ingerir no processo judicial de reintegração de posse transcende a lei e na estimulação da degradação dos costumes à revelia da tradição cristã que temos, ao estimular a homoafetividade.



FOLHA - Totalitarismo não é o contrário, exigir que todos tenham o mesmo comportamento?



SANTA ROSA - Querer consertar isso com outra penada mais totalitária é que é o erro. Temos de deixar fluir a natureza, inclusive nas relações sociais.



FOLHA - Os dois planos elaborados no governo FHC já não continham basicamente os mesmos pontos.



SANTA ROSA - O primeiro plano não choca ninguém. Embora tenha bandeiras polêmicas, obedece ao princípio da naturalidade, não faz a sociedade civil engolir pontos que não lhe pertencem, diferentemente do de agora, fabricado de fora.



FOLHA - De fora? De onde?



SANTA ROSA - Se você pesquisar a similitude entre a Constituição venezuelana, e também a equatoriana e a boliviana, que são clones adaptados aos seus países, vai verificar qual é a origem. Isso tudo é uma composição organizada, é uma conspiração internacional.



FOLHA - Durante seus 49 anos no Exército, o sr. conheceu muitos gays nas Forças Armadas?



SANTA ROSA - Não, existe uma rejeição inata da estrutura militar contra isso. O problema é que existe uma articulação, no sentido de transformar a sociedade, colocar uma nova cultura goela abaixo na classe média, e isso é apenas uma fase preliminar para depois se implementar o que se quiser.



FOLHA - E o que se quer?



SANTA ROSA - Uma ditadura totalitária.



FOLHA - Comunista?



SANTA ROSA - Exatamente. Primeiro, transformar os costumes da sociedade, para, por último, implementar o sistema totalitário. Falar isso no século 21 é quase uma aberração.



FOLHA - Após 21 anos de ditadura, a democracia não é irreversível?



SANTA ROSA - Não acho. O povo não reage, está numa situação letárgica. Nosso povo não tem opinião, e quem tem se cala. Estamos anestesiados.



FOLHA - No seu e-mail contra o plano não havia nada disso.



SANTA ROSA - O nosso foco era a defesa da instituição militar.



FOLHA - Nosso? De quem?



SANTA ROSA - Meu. O foco militar era porque, se se conseguisse abrir a Comissão da Verdade, o resto seria facilmente alastrado. Houve uma reação institucional à qual até o próprio ministro [Nelson Jobim] aderiu, reconhecendo que iria causar uma desarmonia grande. Então, ele contrapôs aquele protesto que levou o presidente a flexibilizar a redação do plano.



FOLHA - Que nota o sr. dá para o ministro Nelson Jobim?



SANTA ROSA - Para o momento, é o melhor que se tem. É preparado, foi ministro do STF, da Justiça, tem relacionamentos de alto nível e é inteligente. O Ministério da Defesa é uma necessidade, faz parte da modernidade do Estado.



FOLHA - Como o sr. define o regime de 1964?



SANTA ROSA - Um regime emergencial, um mal que livrou o país de um mal maior.



FOLHA - E a tortura?



SANTA ROSA - Nunca foi institucionalizada, é um subproduto do conflito. A tortura começou com os chamados subversivos. Inúmeros foram justiçados e torturados por eles próprios, porque queriam mudar de opinião. A tortura nunca foi oficial.



FOLHA - O sr. critica que o plano está transportando para o país um regime autoritário, mas não foi justamente o de 1964?



SANTA ROSA - Foi autoritário, mas não totalitário.



FOLHA - Qual é a diferença?



SANTA ROSA - A imprensa, por exemplo, foi amplamente livre.



FOLHA - Como?!



SANTA ROSA - Só teve censura no momento de pico, a partir do AI-5 [1968]. Se não houvesse um enrijecimento político naquela oportunidade, poderia se perder o controle. Considero isso tudo um mal, mas um mal menor e necessário.



FOLHA - O sr. aceita um militar torturando uma pessoa indefesa, um jovem, uma mulher, desarmados?



SANTA ROSA - Nenhum militar torturou ninguém. Se houve, foi no Dops [Departamento de Ordem Política e Social, oficialmente vinculado à polícia].



FOLHA - Não é covardia matar pessoas e torturar rapazes e moças, algumas grávidas, depois de presas?



SANTA ROSA - Sinceramente, não sei de nenhum caso. O que existe é produto de imaginação.



FOLHA - O sr. tem dúvida? A própria ex-ministra Dilma Rousseff foi presa e torturada.



SANTA ROSA - Ela diz que foi torturada, mas... Só no Brasil, a pessoa que sobrevive, e está com boa saúde, alega a tortura para ganhar os benefícios, sejam políticos ou de pensão.



FOLHA - É mentira que houve tortura?



SANTA ROSA - Com certeza absoluta. Vocês conhecem algum ex-torturado cubano? Ou russo? Ou chinês? Não existe, porque não se deixava sair [da prisão]. Então foi a bondade, entre aspas, dos torturadores que permitiram que saíssem [no Brasil]. Institucionalmente, legalmente, não houve [tortura]. Não posso afirmar que, fora do controle, não tenha havido.



FOLHA - Não é justo, portanto, ter uma Comissão da Verdade para apurar se houve ou não houve?



SANTA ROSA - Seria justo se os dois lados dissessem a verdade. Se você perguntar a Dilma Rousseff quantas pessoas ela assaltou, torturou, matou...



FOLHA - Até onde se sabe, ela não matou ninguém.



SANTA ROSA - É o que ela alega. Sabe-se que tem vítima.



FOLHA - Qual é a sua opinião sobre José Serra? Ele foi presidente da UNE, exilado no Chile...



SANTA ROSA - É um administrador competente, um gestor público excelente, tanto que, se voltar para São Paulo, se reelege. Mas eu estou me atendo ao produto do trabalho dele.



FOLHA - E a Marina Silva?



SANTA ROSA - Tem uma visão da Amazônia igual à da Fundação Ford, igual à dos americanos. É uma visão internacionalista.



FOLHA - O sr. vota em quem?



SANTA ROSA - Na Dilma não voto de jeito nenhum, mas não é fácil engolir o Serra.





perfil



Democracia com limite até em casa



DA COLUNISTA DA FOLHA



DA SUCURSAL DE BRASÍLIA



Com uma pulseira da Nasa no braço esquerdo, "para equilibrar o sistema simpático e para-simpático e ficar zen", o general Maynard Marques Santa Rosa convive com uma curiosa liberdade religiosa na sua família: ele é espírita, a mulher, católica, e o filho, evangélico.



"Temos uma democracia religiosa", brinca ele, mas deixando claro que democracia tem limite também em casa.



"Em quem a sua mulher vai votar?", perguntou a Folha.



"Em quem eu mandar", respondeu, rápido.



Ele se declara apaixonado por "política e estratégia" e um leitor voraz. Considera Graciliano Ramos e Machado de Assis muito pessimistas. Prefere José de Alencar.



Durante almoço na quarta-feira, em Brasília, ele foi cáustico crítico das ONGs, "que recebem mais dinheiro do governo do que o Exército", e contra a adesão brasileira ao Protocolo Adicional do TNP (Tratado de Não Proliferação Nuclear).



Criticou ainda o excesso de proteção da Amazônia e o zoneamento ecológico para proteger índios, quilombolas "e outras minorias". Mas atacou especialmente a união civil homossexual.



Alagoano, Santa Rosa passou para a reserva aos 65. Era integrante do Alto Comando do Exército, que inclui apenas os 14 oficiais de quatro estrelas (os generais-de-Exército, último grau da hierarquia) da ativa. Encerrou a carreira encostado no gabinete do comandante Enzo Martins Péri.



Segundo Santa Rosa, o que diz representa o pensamento médio de "95% dos militares do Exército". Não há pesquisas para comprovar.





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