RIO - A importância de o Brasil antecipar a troca de geração nos mais altos escalões da República era a de confinar definitivamente na história os anos vividos entre 1964 e 1985. Apesar do excelente convívio democrático no campo político e institucional que vivemos, o período mantém velhas feridas mantidas abertas pela ação permanente de ressentidos que se lançaram a uma aventura totalitária , felizmente fracassada. Tentaram até a quebra unilateral de uma generosa anistia com que o presidente João Figueiredo marcou o início do processo de abertura. Esta, longe de ter sido uma conquista de forças políticas ou movimentos sociais, foi um gesto de total iniciativa do regime autoritário civil-militar, instalado no país em 64 justamente para preservar valores da democracia, do regime capitalista, de respeito ao direito à propriedade e à liberdade de expressão. Valores de primeiro mundo, enfim.
A questão foi sepultada pelo Supremo Tribunal Federal em voto do ministro Eros Grau, que já afirmou ter sido durante boa parte de sua vida um convicto comunista. Logo, foi com autoridade ética e moral que deu seu voto de relator em ação que visava apagar a anistia de 79, curiosamente de autoria de entidade que deveria conhecer bem a lei.
Os brasileiros que participaram dos anos de autoritarismo iluminado colaboraram para a sua implantação, apoiaram as grandes obras de infraestrutura e reformas administrativas, cujo início se deu com o Decreto-Lei 200 de Castello Branco, mas de inspiração e redação de Roberto Campos, aceitaram a anistia, esqueceram e, de certa maneira, perdoaram os atos de violência e de sabotagem praticados pelos terroristas e guerrilheiros. Alguns com requintes de maldade, como o caso do tenente da Polícia Militar de São Paulo morto a coronhadas pelo desertor do Exército Carlos Lamarca ou o assassinato do major Hugo Martinez, no Rio, quando tentava demover dois jovens de reação inútil a um cerco das forças da lei. Foram centenas os brasileiros que tombaram vítimas da ação terrorista. Muitos pacatos bancários ou guardas de segurança privada, dois oficiais estrangeiros, um até por engano e outro de forma infame, diante dos filhos menores. O empresário Henning Boilesen foi outro covardemente assassinado, dinamarquês apaixonado pelo Brasil onde constituiu família e legou a extraordinária obra de sentido social que é o Centro de Integração Empresa-Escola (Ciee), nascida de iniciativa sua. Diretor da Fiesp.
Enquanto se viviam os anos de intolerância e violência, muito pela ação de calejados militantes comunistas que exploravam os ideais sociais e libertários dos jovens, especialmente da classe média, que pode ter tido por parte da repressão exageros condenáveis, se construía uma grande nação, com honestidade, competência e meritocracia. O Brasil ia se tornando uma potência econômica, chegando ao oitavo lugar no qual permanece até hoje. E, se vivemos certa paz, apesar da impunidade do MST e da transformação do Estado num anexo dos sindicatos, deve-se à personalidade e à formação do presidente Lula, que é carismático, não carrega mágoas nem ressentimentos e fez carreira defendendo os interesses dos trabalhadores sem marcas ideológicas. Poucos se beneficiaram tanto do capitalismo e do capital estrangeiro na melhoria de sua qualidade de vida, ascensão profissional e preparo como os metalúrgicos do ABC.
Sim, a sociedade perdoou os que se deixaram levar pela violência, sujaram suas mãos de sangue inocente e procura também esquecer. Diferentemente dos que pegaram em armas, a maioria silenciosa dos brasileiros que guarda respeito e admiração pelos seus militares é de boa índole, formação religiosa e tem como ideologia maior a paz e o progresso. O povo brasileiro, entretanto, não esquecerá jamais os benefícios auferidos pela nação nos anos dourados do progresso, da honestidade e da austeridade com segurança que viveu com os presidentes Castello, Costa e Silva, Médici e Figueiredo.