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Artigos-->Bom dia, Belo Monte! -- 07/05/2010 - 11:39 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Correio Braziliense - 7/5/2010



Bom-dia, Belo Monte



Nagib Charone



Engenheiro civil, é professor da Universidade Federal do Pará (UFPa)



Vem chegando a hidrelétrica do Xingu, cujas oportunidades de desenvolvimento para o estado do Pará e seu povo encantam e deixa sonhando mais que a população daquela área. Motivo de debate ardoroso em todo o país, Belo Monte ocupou e ainda haverá de ocupar muito espaço na mídia, trazendo consigo as entidades mais obscuras e os entes mais esdrúxulos, verdadeiros avatares como o cineasta milionário James Cameron. É risível ver os engenheiros de fundo de quintal e os físicos de araque, aqueles que não tiveram o cuidado de estudar no banco da escola quando lhes foi oferecida a oportunidade e, agora, se arvoram a dar palpites sobre o complexo e intrincado assunto energia.



Para começo de conversa, é bom saber que energia não se cria nem se tira do nada como faz a mão de Deus. Ela simplesmente se transforma de um tipo para outro. Do mesmo modo é alvissareiro saber que ela não se perde, simplesmente se espalha por aí, nesse mundão de universo tão longe que a vista nem alcança. Se algum leitor não lembra, posso fazer renascer na memória o Lavoisier, químico francês do século 18 que profetizou a famosa frase “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Esse princípio deve ser aplicado na matéria do universo e, consequentemente, na energia também.



Bom exemplo é a energia solar que vem transportada nos raios dardejantes dessa magnífica bola de fogo. Os raios do sol saem dele na forma dos espinhos de um ouriço do mar e, quanto mais longe dele se está, menos energia chega a uma área de um metro quadrado. Assim, o calor que nos chega tem valor e esse valor é de aproximadamente 450 WIH. Por essa razão o planeta Vênus queima acima de 200°C (está mais perto) e o planeta Marte congela abaixo de -40 °C (está mais longe) e quem se dispuser a chegar a Plutão terá temperatura abaixo de -230°C.



Largando de mão outras variáveis e dizendo que a Amazônia é uma das regiões do planeta com maior insolação, fica fácil saber o que representa Belo Monte em energia solar. Basta dividir a potência máxima da hidrelétrica pela energia que o Sol nos dá (e que presente, Senhor!) e teremos quantos metros quadrados de placas térmicas ou fotovoltaicas haveremos de ter sobre as terras do Pará: 11 mil MW/450. Resultado: área de 6.800 estádios iguais ao Mangueirão. Esse resultado é simplista porquanto não leva em conta as perdas por calor aquecendo as placas, a transformação do calor em vapor para mover turbinas e outras centenas de mumunhas ao longo do processo até que ele se transforme em, digamos, luz na lâmpada da nossa casa.



Quem fala em transformar Belo Monte em energia solar é perfeito analfabeto em física. Quem diz isso em público está cometendo crime de falsidade ideológica, está enganando o povo, está distorcendo as conquistas da ciência, conquistas que promoveram a evolução. Essa mesma conta pode ser feita para os cataventos gigantes que perpassam pela mente sonhadora de cientistas de beira de rio, imaginando que o vento está sendo soprado pela boca de São Pedro e que corre célere por sobre as terras do Xingu, o dia inteiro, a toda hora. E de admirar como jornalistas conceituados nacionalmente insuflam a cabeça de leitores do Brasil inteiro contra a Amazônia, dando como exemplo a Dinamarca e a Alemanha (o leitor acha que já dá para comparar com eles?).



Entretanto, que interessante, não citam São Paulo, onde trabalham no bem-bom, abastecidos pela hidrelétrica de Itaipu. Do mesmo modo, Don Erwin Krautzer, presidente do Cimi e bispo do Xingu, levado por essas heresias da ciência, deixa os belíssimos ensinamentos de Cristo e se lança em debate técnico sem fundamento. Vendo ecologistas desvairados falar sobre energia eólica, o povo não sabe que é necessário cobrir a floresta do Pará com 10 mil daqueles portentosos ventiladores brancos, interligados por fios encapados, em cada um uma bobina de campo sujeita à umidade das chuvas torrenciais, funcionando magnificamente como a memória macia e ininterrupta do iPhone.



Ao fim desse primeiro combate, perdemos nossas balas atirando contra um moinho de vento, lutando contra a barragem, quando deveríamos ter assestadas nossas flechas a favor do povo paraense, lutando para obter mais ganhos sobre a geração da energia e aumentando o valor dos investimentos nas cidades próximas. Poderíamos ter usado os critérios do Mário Ribeiro para valorar o custo da nossa natureza ex`Uberante. Porém, quem poderia opor embargos, obter cachoeiras de liminares e decisões judiciais coerentes para conseguir essa façanha não estava ao lado do progresso. Lutava por cacos de barro enterrados espaçadamente em terreno inóspito e abandonado, sem valor antropológico e científico. Belo Monte confirma a tese de Gumplowicz de que as raças fortes (também a cultura) superarão as raças fracas. Estas serão evanescentes, serão esvurmadas, perder-se-ão no tempo. Bom-dia, Belo Monte.





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