Para conselheiro de Obama, anúncio do Irã de aceitar mediação brasileira é apenas tentativa de ganhar tempo
Marília Martins
NOVA YORK. O governo americano acusou ontem o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, de tentar ganhar tempo com o anúncio de que "aceitaria em princípio" a proposta brasileira de mediação para troca de urânio enriquecido. Daniel Restrepo, um dos principais assessores de Obama para assuntos da América Latina, descreveu o anúncio oficial do governo de Teerã como uma "tática protelatória" e reafirmou que os Estados Unidos vão continuar a pressionar pela aprovação de novas sanções para frear o programa nuclear iraniano.
- Ao dizer que aceitam "em princípio" a proposta do Brasil, parece que os iranianos estão tratando de ganhar tempo. Mas o governo Obama já deixou claro que é hora de prosseguir na aprovação de novas sanções no Conselho de Segurança da ONU - afirmou Restrepo, em um encontro de investidores na América Latina.
"Lula é um idiota útil?", questiona colunista
A declaração de Restrepo somou-se à análise feita ontem por Jackson Diehl, no site do "Washington Post". Na sua opinião, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está "sendo usado" pelo presidente iraniano.
"Lula virou um idiota útil do Irã? Lula está fornecendo ao Irã um tempo valioso para atrasar novas sanções, enquanto o país segue em seu programa nuclear e prepara uma nova geração de centrífugas para enriquecer urânio. A intenção de Ahmadinejad é debater a proposta de Lula dentro do maior tempo possível, sem jamais concordar com ela", avaliou Diehl.
O presidente iraniano resiste a permitir inspeções detalhadas em suas usinas nucleares por peritos da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Enquanto representantes do Brasil e da Turquia tentam levar adiante esforços diplomáticos para promover a troca de urânio enriquecido a 3,5% - conforme proposta aventada pela AIEA, EUA, Reino Unido, França, Rússia, China e Alemanha vêm trabalhando exaustivamente no rascunho de um projeto para aplicar a quarta rodada de sanções econômicas ao regime iraniano. As medidas, segundo o projeto, visam à Guarda Revolucionária do Irã, mas preveem o impedimento de transações com bancos iranianos, um completo embargo de armas ao país, medidas duras contra remessas iranianas e o bloqueio de novos investimentos no setor energético do país - além de bloquear ainda a ação de membros da guarda e de qualquer empresa controlada por eles.
Diplomatas de 2º escalão vão a jantar iraniano
Ontem, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Manoucher Mouttaki, convidou representantes de todos os 15 países que compõem atualmente o Conselho de Segurança para um jantar a portas fechadas na residência oficial do embaixador iraniano na ONU, em Nova York. O convite incluiu a representação americana, que decidiu enviar o vice-embaixador Alejandro Wolff, e não a chefe da missão na ONU, Susan Rice. França e Reino Unido também optaram por enviar representantes de segundo escalão para o jantar.
O governo Obama considerou o convite iraniano uma "tentativa desesperada" de evitar sanções e um "reconhecimento de que as pressões pela aprovação de novas sanções estão tendo um impacto sobre o governo iraniano".
- É mais uma chance de o Irã mostrar que está preparado para jogar de acordo com as regras - disse um oficial americano, explicando os motivos da participação no encontro, apesar de Washington não ter relações diplomáticas com Teerã.
Num discurso no Parlamento Europeu em Bruxelas, o vice-presidente Joe Biden voltou a acusar Ahmadinejad de querer provocar uma nova corrida armamentista no Oriente Médio.
- Não seria uma ironia que, depois da queda da Cortina de Ferro e do fim das ameaças de destruição mútua das superpotências, uma nova corrida armamentista venha a surgir numa das regiões mais instáveis do mundo? O programa nuclear iraniano viola as obrigações do país referentes ao Tratado de Não Proliferação Nuclear. E os EUA estão comprometidos com a segurança de seus aliados no Oriente Médio e no Leste Europeu - afirmou Biden.