A “cana” de José Roberto Arruda parece se arrastar indefinidamente, tanto que o noticiário anda esquecido dele. Parece que sua prisão foi algo rotineiro e banal. E não foi. Afinal, temos um chefe de Poder Executivo prisioneiro, aguilhoado por uma armadilha jurídica aparente. Na verdade, uma armadilha política: se renunciar será solto no mesmo dia. Esse é o seu alvará de soltura, esse é o preço que não quer pagar.
Não creio que haja mais qualquer condição para Arruda voltar ao poder. Ele terá agora que se defrontar com a dura realidade de que foi expulso do poder e que dificilmente voltará a ele, em breve espaço de tempo. Será interessante observar como ele vai reagir. Da outra vez que teve que renunciar lembro-me de seu desamparo diante das câmaras de TV. Não creio que tenha feito aquilo apenas para causar comoção e obter votos. Seu sentimento foi real. O que esperar agora? Arruda está órfão politicamente, sem partido, sem apoio e com toda a máquina judiciária mobilizada contra ele. Estará preparado para o ostracismo político?
Ao sair do cárcere é que terá seu momento mais difícil, porque então ficará completamente claro o seu isolamento. O melhor que faria é agüentar a derrota e procurar uma retirada digna, se é que é possível ainda manter alguma dignidade diante da avalanche de denúncias. Mas há sempre uma maneira melhor que outra de fazer as coisas e acredito que a seriedade, a sinceridade, a firmeza e a discrição sejam os elementos necessários para a saída menos desonrosa.
Vejo Arruda como o mitológico centauro Quiron, aquele que podia curar qualquer um, mas não podia curar-se a si mesmo. Arruda é um centauro da política, setor onde manca, sofre e envilece a si e aos seus. Sua ferida aqui é podre, cheira mal. É uma maldição para ele, o poder. A repetição ampliada agora dos acontecimentos do passado mostra que não é mera coincidência. O mergulho no Hades repetidamente aponta para um padrão. Sua boa fortuna em política tem sido também a sua perdição.
Mesmo que a derrota agora não seja definitiva Arruda ficará longe do poder por muito tempo, como alguns dos seus conterrâneos políticos (como não recordar de Luiz Estevão?). O fascínio que Arruda demonstra pelo poder terá agora que dar lugar a outras ambições e outros afazeres. Mas Arruda quer o poder, ele o ama, está absorvido por ele. Se não souber se livrar desse fascínio o destino poderá lhe ser cruel.
Melhor faria se cantasse com convicção a canção de Tom Jobim, em parceria com Chico Buarque: