Em um fim de semana fomos a Baiona de carro e passamos a manhã inteira explorando a muralha do conde de Gondomar. Baiona fica bem perto de onde estamos morando, tanto que passamos por lá várias vezes depois disso e até tem um pessoal que trabalha com o Nego e mora lá; para chegar de carro demora no máximo meia hora. É uma cidade à beira mar e tem essa muralha que é enorme e maravilhosamente atraente. Caminhamos toda ela por dentro e depois fizemos o mesmo caminho por fora. Foi muito gostoso explorar aqueles muros de pedra e tentar imaginar como eram e para que serviam. Fora o fato de olharmos sempre o mar abaixo de nós lindamente azul, ou estourando nas pedras ou chegando nas praias em ondas pequenas e agradáveis para as pessoas que parece que conheciam o castelo o suficiente para esquecerem o maravilhamento e virarem as costas para ele para brincar com a água do mar ou então fechar os olhos e deitar na areia para bronzear a pele. Nesse e em outros passeios que fizemos pelas praias daqui, mesmo da praia de Samil que fica na frente do prédio onde moramos, pude confirmar o que o Nego havia me dito antes. Realmente as mulheres daqui, não todas mas muitas delas, jovens e velhas, ficam na praia tomando sol só com a parte de baixo do biquini na maior descontração. Não estão se exibindo e nem ficam passeando pela areia com os seios à mostra. Apenas tiram o sutian quando se deitam para tomar sol e passam horas assim deitadas. Depois vestem-se novamente e saem sem que ninguém venha lhes incomodar e sem que nenhum rapaz venha paquerá-las, por mais jovens e bonitas que sejam.
Naquele dia em Baiona, depois de tomar algumas “cañas” (shopp, por sinal delicioso) em um agradável bar saímos para explorar a cidade e conseguimos caminhar por ruas antigas e fotografar casas de pedra que devem ter sido vistas pelos romanos. Foi uma viagem no tempo. Por último fomos ver a “Pinta”, a caravela na qual Colombo atravessou o Atlântico e chegou até a América. É claro que é apenas uma reconstrução da caravela original mas impressiona. O que a gente se pergunta é como é que puderam aqueles homens ir tão longe e permanecer tanto tempo dentro de um barco tão pequeno? Não é fácil responder a essa pergunta eu acho.
Outro fim de semana fomos passar um dia nas Islas Cies. São duas ilhas grudadas uma na outra que ficam aqui perto. Demora meia hora para chegar lá de barco mas quando o tempo está bom dá para vê-las de forma tão nítida que parece ser possível chegar lá a nado. O lugar é lindo. Tem uma praia de nudismo e a gente vê as pessoas nuas de uma forma tão natural que parece absurdo que não se viva dessa forma o tempo todo, que não sejam todas as praias assim. Lá as pessoas ficam como se sentirem bem, seja de roupa, de maiô ou nuas; ninguém se incomoda e ninguém nos incomoda. Eu fiquei a princípio só com a calcinha do biquíni, depois tirei-a e fiquei nua mesmo. Até entrei na água sem roupa. Achei uma delícia a experiência. Depois de ficar na praia e tirar algumas fotos (só da gente mesmo para não invadir a privacidade de ninguém) fomos ao farol. Para chegar lá tivemos que subir por uma estradinha no meio do mato que vai fazendo zig-zag e subindo até chegar ao topo da parte mais alta da ilha onde está o farol. A vista de lá de cima é de tirar o fôlego de tão maravilhosa. O caminho todo a gente vai parando para olhar o mar azul estourando nas pedras lá embaixo e a outra ilha visível ali pertinho. Quando chegamos lá no alto podemos ver o outro lado, que está voltado para o mar aberto e é uma escarpa de montanha onde só chegam as gaivotas. É maravilhosamente mágico ver o mar de lá de cima, e ver as gaivotas voando por todos os lados. Aliás as gaivotas são um caso à parte. Estão em todos os cantos aqui das praias da Galícia, são como são as pombas em alguns lugares no Brasil, tão comuns e presentes que a gente acaba por mal reparar nelas. Mas se em um momento olhamos com aqueles olhos de descoberta que às vezes conseguimos resgatar de nossa infância, ficamos maravilhados com sua brancura, com seu vôo acrobático e com a sua simples onipresença de inocente vida compartilhada.
Como estamos na Galícia e Santiago de Compostela é logo ali, não podemos, mesmo não tendo nenhum motivo religioso a nos mover, deixar de ir ver esse ponto tão importante de peregrinação. A catedral é gigantesca, o lugar é uma junção de coisas descomunais que incluem a quantidade de pessoas e os preços das coisas. Valeu a visita mas não se pode dizer que seja um lugar para pessoas que gostam de sossego e contemplação. Para isso é melhor ir a Lugo, uma cidade que fica, parte dela e não toda, dentro de uma muralha enorme. Andamos por toda a muralha e paramos em um bar onde um rapaz fazia umas batatas fritas com temperos variados que é uma delícia, alguns drinques com nomes estranhos e um ou outro muito bom e que nos contou um pouco sobre a muralha e sobre o quanto ela já foi consertada, remendada e reconstruída. Deu-nos a idéia de que depois de tanta reconstrução, restauração e remendos talvez muito pouco reste ali do que foi a muralha original. Mas mesmo assim não ficamos aborrecidos, a muralha é grande e bela, e as batatinhas estavam ótimas.