A Ecologia está, hoje em dia, no centro dos debates mais candentes. Nota-se a existência de um movimento, de amplitude planetária, com denúncias sobre reais ou imaginárias agressões à Natureza. Por isso mesmo, um juízo crítico sobre tal movimentação leva a concluir que em toda essa celeuma existe "algo mais" na questão, que não se coaduna com uma séria e equilibrada análise dos fatos. O que será esse "algo mais"?
Vez por outra determinados assuntos se tornam objeto de insistente menção pelas agências noticiosas, e delas passam aos demais meios de comunicação social. Atraem, assim, a atenção da opinião pública e induzem-na a mover-se num determinado rumo. Conhecendo-se o interesse das centrais de desinformação em manipular os espíritos, não se pode deixar de examinar com reservas, tanto o conteúdo do noticiário, como as apreciações que a partir dele surgem de todos os lados.
Os ecologistas radicais dizem que a Civilização é a causa dos danos à Natureza, de modo que para evitar o completo esgotamento dos recursos naturais deveríamos regredir a estágios pré-civilizadores, ou seja, passar a viver como o faziam os povos selvagens.
A proposta de tais radicais entra em choque com o pensamento da imensa maioria das pessoas que entendem (com razão) ser a civilização benéfica e não maléfica. Assim, em princípio, tal proposta seria incapaz de mudar o rumo dos fatos, por contar com uma ínfima minoria de adeptos.
Contudo, se a proposta é incapaz de promover a marcha à ré, não deixa de ser apta a causar confusão nos espíritos. Em todas as épocas de decadência espiritual e moral idéias malucas fizeram grandes estragos. Como prova desta afirmação lembro a doutrina pré-ecologista divulgada por Jean Jacques Rousseau, para quem - entre outros delírios - as cidades seriam a ruína da espécie humana, assunto sobre o qual os leitores poderão colher dados abundantes e precisos nas obras de historiadores respeitados tais como J. Calvet, Simon Schamma, Bernard Manin, François Furet, e Michel Launay. A doutrina de Rousseau foi, provavelmente, o elemento ideológico mais dinâmico das convulsões que se abateram sobre a França no final do Século XVIII, deixando aquele país anarquizado, empobrecido e ensangüentado.
Há, sem dúvida, um pouco de verdade (muito pouco), no que afirmam os ecologistas radicais. Realmente a Civilização Industrial na qual vivemos e que se formou nos últimos duzentos anos encerra uma série de desordens, tais como os gigantescos conglomerados urbanos, a poluição, o uso intemperante dos recursos naturais. E, neste resíduo de verdade mora o perigo, na medida em que um debate emocional poderá influenciar nocivamente setores da população, alarmados pelos exageros e distorções.
Mas, ainda assim, o noticiário perturbador se apresenta insuficiente para elucidar o "algo mais" mencionado no início deste texto. Alguns elementos de reflexão poderão contribuir para o esclarecimento da matéria.
Por proposta do boliviano Evo Morales, a ONU instituiu a data de 23 de abril como "Dia Internacional da Mãe Terra", com apoio do Presidente daquela entidade, o frei (ou ex-frei) Miguel d`Escoto, títere do dirigente marxista nicaragüense Miguel Ortega e súcubo do tirano Fidel Casto. A proposta, aprovada pelo voto de 192 nações veio acompanhada de bombásticas declarações anti-capitalistas e anti-consumistas dos diversos protagonistas do evento. Em síntese, a ofensiva ecologista transparece como aríete (ou disfarce) da ofensiva neocomunista (http://www.tradictioninaction.org, 06.06.09). Portanto, a afirmação de Lula no sentido de que a discussão ambiental deve se afastar do debate ideológico carece de fundamento e só pode ser interpretada como tentativa de despistamento (Agência Estado, 23.06.09).
Marx, em "O Capital", afirmara que o processo revolucionário se encaminharia até que se chegasse à etapa na qual a propriedade dos meios de produção ficaria sob o controle dos trabalhadores, associados em regime de autogestão. Engels completou o pensamento de Marx dizendo que, em tal estágio "evolutivo" (aspas minhas), o Estado desapareceria indo compor o museu de antiguidades, juntamente com a roca de fiar e o machado de bronze ("A Família, a Propriedade Privada e o Estado").
Observadores políticos qualificados (Elizondo e Medina, no livro "España"), filósofos da esquerda pós-marxista (Jacques Ellul e André Groz), e, ainda, altos dirigentes comunistas, há algum tempo atrás, cogitavam das dificuldades para atingir aquelas metas utópicas de Marx e Engels, no contexto da organização sócio-econômica que se delineara na segunda metade do século XX, uma vez que - para a autogestão não se configurar como mera fachada - seria indispensável o desmantelamento da imensa estrutura estatal existente, e sua substituição por formas fluídas de organização social, incompatíveis com a existência dos grandes complexos industriais que se formaram.
Assim, fica claro que as declarações de Morales, d`Escoto, Boff, e congêneres na assembléia geral da ONU dão o nexo entre a campanha mundial das correntes ambientalistas e o neocomunismo. Sua afirmação de que a Terra não nos pertence, transposta para a linguagem político-social significa que a ONU deveria declarar-se proprietária de todas as fontes de recursos naturais. Em síntese, o camaleão vermelho coloriu-se de verde. Nisso pode estar o "algo mais".