Em 2005, o bispo da diocese de Barra, na Bahia, dom Luiz Flávio Cappio, ganhou os holofotes ao fazer uma greve de fome em protesto contra a transposição do Rio São Francisco. Em 2007, repetiu a dose com o apoio de esquerdistas e artistas de TV. Agora, o bispo volta à cena: quer construir um santuário no local onde o terrorista Carlos Lamarca foi morto, no sertão baiano
Leonardo Coutinho
O senhor vai erguer um templo para Lamarca?
Farei um santuário para todos os mártires da diocese. Considero mártir quem morre em defesa de uma causa justa e derrama seu sangue por valores evangélicos. O Lamarca é um mártir.
Lamarca optou pelo caminho da violência e matou gente. Isso é evangélico?
Não quero canonizar ninguém. Sei que o Lamarca teve culpas, e não podemos eximilas, mas quero valorizar o que ele fez de bom.
O que ele fez de bom?
Lutou contra a ditadura. Estou na região há 35 anos e já ouvi histórias terríveis sobre ele. Diziam que comia gente e estrangulava crianças. Eram coisas que a ditadura colocava na cabeça do povo.
Como o senhor vai bancar a obra?
Com recursos de dois prêmios internacionais que recebi por defender o Rio São Francisco.
Quanto o senhor ganhou?
Um valor simbólico.
Mas quanto?
Só posso dizer que dá para começar.
O senhor não tinha nenhuma obra social com que gastar esse dinheiro?
Já fazemos isso. O santuário será um lugar onde gente que foi maltratada pela história poderá ter seus restos mortais depositados e descansar em paz.